Fabiano Nagamatsu (*)
A ascensão da IA generativa está realmente impulsionando um novo boom de startups, tornando o empreendedorismo mais acessível, ágil e técnico do que nunca. Ferramentas que antes exigiam grandes equipes e meses de desenvolvimento podem hoje ser construídas com poucos cliques, graças à automação inteligente e aos modelos generativos.
Esse novo cenário já se traduz em números expressivos. A Bessemer Venture Partners, em seu relatório State of AI 2025, introduziu o conceito de crescimento “Q2T3” (quadruple, quadruple, triple, triple, triple), superando os benchmarks tradicionais da era SaaS.
Startups de IA agora quadruplicam sua receita recorrente anual nos primeiros dois anos e triplicam nos três anos seguintes. Esse ritmo acelerado só é possível graças à diminuição do tempo de desenvolvimento e das barreiras para lançamento de produtos impulsionada pela IA generativa (Google for Startups, Business Insider).
Mais do que teoria, esses padrões de crescimento estão sendo observados na prática: startups “Shooting Stars” atingem margens robustas (~60%), enquanto os mais ousados “Supernovas” chegam a US$ 100 milhões em ARR em apenas 1,5 ano.
No Brasil, a onda também está forte. Uma sondagem revelou que 68% dos profissionais brasileiros já usam ferramentas de IA no dia a dia, enquanto 90% acreditam que a IA melhora sua eficácia no trabalho e 84% estão entusiasmados com o futuro em que a IA é ferramenta (read.ai). Isso demonstra uma base cultural e operacional aberta à inovação tecnológica.
Do ponto de vista de investimentos, o ritmo também impressiona. Nos Estados Unidos, a captação de recursos para startups de IA cresceu 75,6% no primeiro semestre de 2025, totalizando US$ 162,8 bilhões — o segundo maior volume já registrado. As rodadas de IA responderam por 64,1% do total investido nesse período, destacando o empuxo do setor e a confiança dos investidores (Reuters).
No cenário global, exemplos como a Synthesia, que alcançou valuation de US$ 2,1 bilhões criando vídeos realistas com IA generativa, ilustram a força dessa tendência. A empresa recebeu US$ 180 milhões de investidores como New Enterprise Associates, demonstrando o apetite de capital para soluções criativas e baseadas em IA.
E enquanto o suporte à infraestrutura cresce, outros players facilitam a adoção da IA. Startups especializadas em integrar modelos de IA com sistemas legados estão recebendo atenção e dinheiro: Distyl AI levantou US$ 20 milhões, Cohere US$ 500 milhões e Glean Technologies US$ 260 milhões, refletindo o movimento de tornar a IA generativa funcional e útil no mundo real.
Nesse contexto, empreender se tornou não apenas mais ágil, mas também mais inclusivo. Profissionais que não são da área de tecnologia, como designers, médicos ou profissionais de RH, estão criando soluções digitais e produtos em IA com autonomia, agilidade e menor complexidade técnica.
No entanto, esse cenário de euforia exige cautela. Como ressaltado pela Bessemer, metas tão ambiciosas quanto Q2T3 são possíveis, mas podem ser frágeis. A saturação de mercado, produtos commoditizados e baixa diferenciação ameaçam a sustentabilidade dessas empresas. Mais do que lançar algo rápido, é essencial construir com propósito, performance e diferencial — usando a IA certa para o problema do cliente, não apenas a IA disponível.
Dessa forma, a ascensão da IA generativa certamente abriu as portas para uma nova leva de startups: mais rápidas, acessíveis e orientadas por tecnologia. Mas a verdadeira diferença está em saber escolher e montar a IA certa para cada negócio, garantindo que o brilho da inovação se transforme em diferencial competitivo durável.
(*) Fabiano Nagamatsu é CEO da Osten Moove, empresa que faz parte da Osten Group, uma Aceleradora Venture Studio Capital focada no desenvolvimento de inovação e tecnologia. Conta com estratégias e planejamentos baseados no modelo de negócio de startups. – ostenmoove@nbpress.com.br.