Cuiabá – Em meio a uma safra recorde de milho, se instala no Brasil um projeto pioneiro de produção de etanol de milho. A safra 2012/13 é a primeira em que a usina, localizada no sudoeste de Mato Grosso, produz o biocombustível comercialmente. E os líderes da iniciativa estão entusiasmados com o resultado até agora.
No período da entressafra da cana-de-açúcar, enquanto as caldeiras das usinas regulares estão paradas, na Usimat elas funcionam usando grãos como matéria-prima. A possibilidade de ser uma usina “flex” é apontada como um dos diferenciais para a viabilidade econômica da empresa.
O biocombustível é uma alternativa ao etanol de cana-de-açúcar que depende de condições específicas para a fabricação.
O projeto, único do gênero no Brasil, começou a ser estudado há cerca de três anos diante do problema crônico de baixa liquidez e baixos preços do milho na região, diz o diretor da Usimat, Sérgio Barbieri. Além disso, via-se a possibilidade de utilizar o período ocioso da usina, entre novembro e março, para processar milho. Investidores da região sul do Brasil acreditaram na ideia e, no final de 2011, a usina de cana-de-açúcar localizada em Campos de Júlio, Mato Grosso, região Centro-Oeste do país, recebia as primeiras adaptações para receber o grão.
Desde então a indústria passou por várias fases de testes antes do processo de produção de etanol de milho ser considerado viável. “O estado do Mato Grosso tem excedente de milho e precisávamos utilizar esse produto de alguma maneira. Esse foi o caminho que encontramos”, afirma Barbieri.
A Usimat já vendeu em São Paulo 25% dos 7 milhões de litros de etanol de milho produzido entre final de 2012 e o início de 2013. O restante atendeu o mercado interno. Nesta última fase, considerada experimental, a usina processou 21 mil toneladas de milho com rendimento de 370 litros por tonelada. A intenção é chegar a 400 litros por tonelada a partir de novembro deste ano, quando deverão ser processadas 72 mil toneladas de milho. “Conseguimos chegar a uma produção média que compensa o custo por litro, um dos entraves para quem não tem cereais na porta de casa”, afirma o diretor.
Segundo Barbieri, o etanol de milho é um bom negócio, desde que a produção seja feita na mesma planta industrial da cana. Caso contrário o alto custo para manter uma usina exclusiva para o grão, que funcionaria durante 90 dias, inviabilizaria o negócio, principalmente, pelo elevado custo de energia elétrica.
Os resultados têm sido tão animadores que a região deverá diminuir a área plantada de cana-de-açúcar. “Para as próximas safras a nossa intenção é plantar mais milho do que cana, que deve ter uma queda de 20% em relação à área plantada hoje”, afirma o diretor.
Um dos grandes custos de uma usina de etanol é a energia usada para movimentar o pesado maquinário.
A Usimat usa o bagaço de cana-de-açúcar, que ficava estocado e causava danos ambientais, para gerar energia durante o processamento do milho. A cogeração usa a queima deste resíduo para gerar energia térmica e elétrica. Segundo o produtor rural, delegado da Aprosoja e um dos idealizadores do projeto, Ademir Rastirolla, o subproduto da cana é queimado em grandes caldeiras, gerando o vapor necessário para o processo industrial. O diretor da Usimat destaca que a usina apenas é viável porque a queima do bagaço da cana oferece eletricidade para a operação do milho.
“Nos Estados Unidos as usinas têm o gás subsidiado. No Brasil é exatamente o contrário, não temos biomassa para colocar uma destilaria exclusivamente de etanol de milho”, afirma Rastirolla. Ele acrescenta que um estudo mostrou as diferenças entre EUA e Brasil na produção de etanol de milho. “Aqui não fecha a conta (em uma hipotética usina exclusivamente abastecida com milho) porque a energia elétrica é muito cara no país e por isso precisamos nos adaptar à realidade”.
Para iniciar o projeto, foram instalados, na usina já existente, equipamentos para moer e cozinhar o milho que, depois segue para a fermentação e para a destilaria, que é de uso comum para o caldo da cana-de-açúcar. De acordo com Barbieri, até agora, já foram investidos R$ 35 milhões para incrementar a estrutura da usina e torná-la flex. “Esperamos receber o capital investido em cinco ou sete anos”, salienta Barbieri.
Questão de preço
Ter uma usina flex é apenas uma das condições para a produção do etanol de milho. O preço da saca é o que realmente determina se será lucrativo ou não fabricar o biocombustível. “Apenas vamos produzir etanol se o valor da saca de milho for, no máximo, R$ 16,00. Hoje na nossa região (sudoeste do MT) a saca está cotada a R$ 13,00, o que torna o negócio totalmente viável”, afirma Barbieri. “Essa é a grande vantagem da usina ser flex, pois se o preço da saca ultrapassar os 16 reais, passamos a produzir apenas etanol de cana”, conclui Barbieri.
Todo esse movimento está ligado diretamente à produção de milho na segunda safra de Mato Grosso, que é a maior do Brasil. Segundo projeções da Informa Economics FNP, a produtividade deverá chegar 18 milhões de toneladas, nesta safra. A colheita, que já iniciou no estado, deverá ser finalizada em julho.
A alta oferta de milho no mercado mantém o baixo preço da saca, mais uma das condições para tornar viável a fabricação do biocombustível, que apenas é produzido com parte do excedente de grãos da segunda safra. Volume esse que deverá chegar a 15 milhões de toneladas. “O estado de Mato Grosso deverá consumir apenas 3 milhões desse volume”. O milho destinado para o etanol deverá sair desse montante absorvido pela demanda interna, afirma o analista da Informa Economics FNP, Aedson Pereira.
“É impossível transportar esse excedente para os portos”, salienta Rastiolla. Segundo ele o preço do frete está acima de R$ 340 de Campos de Júlio para Paranaguá ou Santos. Isso representa cerca de R$ 20 por saca de milho, que hoje é liquidada a R$ 13 reais na região. “Com esses valores compensa muito mais estocar o milho para usá-lo na produção de etanol” diz.
Para Rastiolla a grande importância do etanol de milho está em diminuir a sazonalidade de oferta do biocombustível. “A cana é moída de abril até final de novembro, nesse meio tempo se houver maior demanda que oferta, não teremos etanol antes de abril. Porém poderemos oferecer etanol na entressafra se o excedente de milho do estado for estocado para esse fim. Aí o Brasil poderá também exportar o produto”, finaliza.
Valor agregado
Outra condição para manter a usina saudável financeiramente é a venda do DDGs (Dried Distillers Grains with Solubles) um subproduto da produção do etanol de milho. O DDG é um insumo que pode ser utilizado na ração animal pelo alto valor de energia e proteína, tendo um alto valor agregado neste processo. “O etanol de cana e de milho têm o mesmo valor. A vantagem em processar o milho, é a agregação de valor através do DDGs. O etanol acaba sendo quase que um subproduto do processo”, afirmou Barbieri. Isso porque, explica ele, a Usimat depende da venda desse produto para garantir a viabilidade da fabricação do etanol de milho. “Ele é tão importante quanto o próprio etanol”, conclui.
Hoje a usina consegue produzir, além dos 370 litros de etanol por tonelada de milho, mais 180 quilos de DDG por tonelada. A intensão é chegar a 200 quilos na próxima safra. A oferta é absorvida inteiramente pela demanda interna do estado que é um dos maiores players do mercado de proteína animal do Brasil, principalmente na bovinocultura.
O DDG é vendido para a fabricação da ração animal. Ração essa muito mais barata que a de soja, por exemplo. Isso porque o valor é calculado pelo ponto de proteína da ração. O do farelo de soja, por exemplo, é de 46% e custa na região do sudoeste do Mato Grosso R$ 1 mil a tonelada. Já no farelo de milho essa porcentagem fica entre 35 a 36%, sendo vendido por R$ 400 a tonelada. Para produzir uma tonelada de farelo são necessárias cinco toneladas de milho. Segundo Rastirolla, os valores baixos da proteína do milho podem abrir inúmeras possibilidades para o estado. “Em 10 ou 15 anos queremos ser o maior estado produtor de qualquer tipo de carne animal, do Brasil”, conclui.
Segundo o diretor da Usimat, em poucos anos, esse projeto de produção de etanol de milho deverá servir de modelo para outras usinas espalhadas por Mato Grosso. “Depois da fase de experimentação mostramos o quanto é viável oferecer uma alternativa além do etanol de cana. Temos certeza que mais investidores de várias partes do país estarão interessados em financiar usinas flex”, diz.
Fonte: Assessoria de Imprensa da Aprosoja