A inteligência emocional é o novo diferencial na era da IA

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Eduardo Schuler (*)

A era digital transformou o conhecimento em um bem perecível. Em um cenário em que a inteligência artificial dobra de capacidade a cada poucos meses, segundo o AI Index 2024, da Stanford University, o que se sabe hoje pode se tornar obsoleto em questão de semanas. Esse ritmo acelerado de inovação criou um paradoxo inquietante. Enquanto a tecnologia promete libertar o tempo humano, as pessoas se sentem cada vez mais pressionadas a aprender, atualizar-se e produzir mais, tudo ao mesmo tempo. É a promessa da eficiência colidindo com a realidade emocional das pessoas e, até agora, a tecnologia está vencendo.

De acordo com o Fórum Econômico Mundial (2023), mais de 78% das empresas já utilizam algum tipo de inteligência artificial. Em tese, isso deveria liberar o profissional de tarefas repetitivas para atividades mais criativas. Na prática, porém, o que se vê é o oposto. O aumento da ansiedade e da sensação de inadequação diante de ferramentas que mudam mais rápido do que conseguimos dominá-las. O ciclo de validade do conhecimento encolheu, e com ele, o conforto da estabilidade profissional. É um cenário que expõe uma verdade incômoda, uma vez que não estamos diante de um “déficit de habilidade técnica”, mas de um déficit emocional para lidar com mudança constante.

Esse cenário exige um novo tipo de inteligência, não a lógica dos algoritmos, mas a emocional dos humanos. A capacidade de lidar com o desconforto, acolher a incerteza e cultivar a curiosidade se tornou estratégica. Segundo estudo da Harvard Business Review (2024), profissionais com maior inteligência emocional se adaptam até 30% mais rápido a novas tecnologias, justamente porque transformam o medo em motor de aprendizado. Em outras palavras, não é quem sabe mais que avança, é quem tolera melhor o desconforto de não saber.

Mas como fazer isso na prática? O primeiro passo é aceitar que aprender é um processo emocional, não apenas cognitivo. É natural sentir insegurança diante do desconhecido, o erro é negar isso. Práticas simples, como reservar blocos semanais para “aprendizado sem meta”, participar de comunidades de troca e encarar a curiosidade como parte do trabalho, ajudam a reduzir a ansiedade. Empresas que compreendem isso criam culturas de aprendizagem contínua, onde o erro não é punido, mas explorado como fonte de melhoria. As que ignoram isso, por outro lado, acabam produzindo times rápidos na operação, mas lentos na adaptação.

A consultoria McKinsey estima que até 30% das horas de trabalho globais poderão ser automatizadas por IA até 2030. Não é o fim dos empregos, mas o fim da forma antiga de executá-los. Em um estudo conjunto entre a Harvard Business School e o Boston Consulting Group (2024), consultores que usaram IA produziram resultados 40% melhores, não por saberem mais, mas por aprenderem a usar a tecnologia como parceira, não competidora. Esse dado escancara uma diferença crucial. Quem reage à IA com resistência perde, quem reage com abertura emocional multiplica resultados.

O dilema é claro: quanto mais produtivos nos tornamos, menos tempo sentimos ter para aprender. É um ciclo que só se rompe quando entendemos que a produtividade sem propósito leva à exaustão, enquanto o aprendizado gera energia e renovação. Continuar correndo sem tempo para aprender é a receita perfeita para a obsolescência emocional e profissional. A verdadeira competência do futuro, portanto, não está em acumular conhecimento, mas em manter viva a curiosidade. Em um mundo onde tudo envelhece rápido, a mente curiosa é a única que não envelhece. A inteligência emocional é o que nos permite continuar humanos em meio às máquinas, e talvez seja exatamente isso que nos manterá relevantes.

(*) Eduardo Schuler é CEO da Smart Consultoria, multiempresário e especialista em Growth e escala de negócios. Ao longo de sua trajetória, contribuiu estrategicamente para o crescimento exponencial de grandes marcas brasileiras, como Melissa e O Boticário.

 

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