A indústria 5.0 e o ser humano no centro da tecnologia

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Marcos A. do Amaral  (*)

Em um mundo cada vez mais tecnológico, nos vemos em uma situação peculiar onde as soluções que criamos podem eliminar a nossa necessidade de executar tarefas. Em especial na indústria, quanto maior a evolução, mais evidente é a possibilidade de retirarmos o trabalho dos operários humanos. Contudo, apesar deste horizonte parecer algo catastrófico para empregos, uma nova abordagem pode transformar o futuro da indústria para algo novo e colaborativo. Esta iniciativa é a indústria 5.0.

No passado distante, cada produto era feito por um artesão. Este precisava ser generalista e conhecer todos os aspectos de uma manufatura. Se por um ponto de vista isto é bom pela visão holística sobre o produto, torna-se ineficiente pela afinidade com diversas tarefas. Apesar de um bom artesão poder ser bom em todas as etapas, ainda assim ele não seria o mais eficiente em todas elas.

Foi então que Henry Ford trouxe a produção seriada. A partir deste momento, pessoas pararam de ser generalistas no processo para se tornarem especialistas. Cada pessoa era focada em sua etapa do processo e isso se acentuou com os anos. Em paralelo, a revolução industrial mostrou que é possível retirar tarefas do trabalhador.

A partir da primeira revolução industrial, as etapas foram lentamente retiradas dos trabalhadores. Quando nos deparamos com a 4ª revolução industrial, a culminação de todas as tecnologias traz a possibilidade da fabricação se tornar um fenômeno autônomo, sem operários e totalmente baseada em inteligência artificial e máquinas com conexão de rede.

Contudo, mesmo na indústria 4.0, o processo não é completamente retirado dos seres humanos. Ainda existem funções que possuem vantagens em manter pessoas produzindo. Um bom exemplo é a gestão e manutenção do polo produtivo.

Nesta visão, entramos na concepção da indústria 5.0. O conceito então se dá em uma troca de paradigma. Ao invés de lutar para minimizar a ação humana no processo, buscamos uma inversão de valores. Realçar as qualidades da tecnologia enquanto potencializa as qualidades humanas.

Isto se torna possível por uma mudança na abordagem. Os seres humanos têm uma maior capacidade de lidar com imprevistos, com criatividade e com outros seres humanos. Já a tecnologia tem melhor rapidez, repetibilidade e precisão.

A possibilidade de integração nasce da evolução tecnológica que faz com que o ser humano seja inserido em um contexto da produção, com auxílio de inteligência artificial. Exemplos de IAs que interagem com seres humanos e conversam já são comuns e estão nos celulares das pessoas.

Expandindo essa aplicação, empresas têm buscado soluções colaborativas entre humanos e máquinas. Robôs que operam com segurança com seres humanos, IAs que auxiliam em tarefas. O foco passa a ser a experiência humana, tanto do funcionário como da empresa.

Apesar do panorama futuro ser interessante do ponto de vista humano, com interação entre seres humanos e máquinas, ainda existem desafios relativos à utilização de energia e relação com o meio ambiente. Grandes servidores de inteligência artificial possuem um consumo que ainda precisa ser solucionado.

Assim, ao invés de empresas totalmente digitais e sem pessoas, migramos para um ambiente colaborativo baseado em experiência, onde seres humanos utilizarão máquinas para construir uma indústria tecnológica, inclusiva e ao mesmo tempo voltada para o bem-estar.

(*) Prof. Me. Marcos A. do Amaral é docente no curso de Engenharia de Produção da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Atuou na área de certificação e avaliação de produtos, tanto de telecomunicações como de bens de consumo.

 

 

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