Por que o futuro do nearshore fala português?

Compartilhe:

 

DNA brasileiro é um diferencial para escala, talento e inovação

Wagner Jesus (*)

Imagine uma empresa global tentando acelerar sua transformação digital, mas travada por escassez de talentos, barreiras regulatórias e custos altos. Agora imagine essa mesma empresa encontrando no Brasil não apenas uma alternativa, mas uma vantagem competitiva real.

O conceito não é novo, mas o contexto mudou. A pressão por inovação contínua, a escassez de talentos nos mercados centrais e a busca por soberania digital tornaram o Nearshore peça-chave na estratégia global de tecnologia. E o Brasil está mais preparado do que nunca para assumir esse protagonismo.

A ideia de que “o local da solução importa menos do que sua capacidade de gerar valor” tem ganhado força no mundo corporativo. No entanto, quando se olha com atenção para o mercado brasileiro, percebe-se que o país reúne um conjunto único de atributos que o colocam em vantagem competitiva: fuso horário compatível com os Estados Unidos e Europa, um dos maiores mercados de TI do mundo, ecossistema de inovação robusto e uma crescente maturidade regulatória e digital.

O Brasil sai do banco de reserva e busca protagonismo no jogo

O Nearshore deixou de ser apenas uma estratégia de redução de custos e passou a focar no valor agregado às operações globais. O Brasil destaca-se como destino nearshore pela escala e profundidade do seu pool de talentos: em 2023, foram quase 90 mil formados em cursos superiores de TIC, mais de 73 mil certificados em cursos de formação inicial e continuada e 16 mil em cursos técnicos. Esse volume expressivo posiciona o país como um dos maiores polos de talentos em Computação e TIC da América Latina, atendendo à crescente demanda do setor e impulsionando operações globais de tecnologia.

A força do ecossistema de tecnologia brasileiro é tamanha que a demanda por novos talentos deve gerar cerca de 800 mil novas oportunidades até 2025, segundo a Brasscom. Esse cenário dinâmico fomenta um ciclo contínuo de formação e especialização, garantindo um fluxo constante de profissionais qualificados para o mercado. Essa força de trabalho já é reconhecida por sua qualificação técnica e adaptabilidade, características essenciais para projetos de alta complexidade.

Ao mesmo tempo, o interesse e capacitação em Inteligência Artificial generativa vem crescendo de maneira intensa. O relatório “Global Skills Report 2025”, da Coursera, apontou um aumento de 282% nas matrículas em cursos de IA generativa ano-a-ano para o Brasil, enquanto o aumento global foi de apenas 195%.

Outro diferencial é a infraestrutura consolidada. A presença de grandes players globais de nuvem pública, como AWS, Google Cloud e Microsoft Azure, aliada à capilaridade das telecomunicações e hubs regionais de tecnologia, permite que o Brasil ofereça níveis de serviço compatíveis com exigências corporativas de alta criticidade, desde bancos globais até plataformas digitais que operam 24/7.

A diversidade cultural e o crescente domínio do inglês facilitam a colaboração internacional. A nova geração de profissionais brasileiros demonstra uma proficiência em inglês significativamente superior à das gerações anteriores. Estudos indicam que o percentual de falantes de inglês na faixa etária de 18 a 24 anos é o dobro da média nacional, facilitando a integração com equipes globais e projetos internacionais. A cultura organizacional brasileira é flexível e criativa, alinhando-se naturalmente a metodologias ágeis e ambientes de co-inovação demandados pelas maiores empresas do mundo.

E na prática? Hoje o Brasil já é um motor da entrega global

O Brasil já consolidou-se como um pólo estratégico de operações nearshore, com hubs de inovação atendendo demandas nacionais e internacionais com a mesma qualidade, segurança e compliance das operações offshore, somando os diferenciais de fuso horário, proximidade cultural e aderência regulatória. Assim, o Brasil tem mostrado que pode se tornar uma vitrine global para nossos talentos, possibilitando oportunidades de crescimento internacional em projetos de alto impacto e contato direto com especialistas globais e com diversas tecnologias.

Um modelo que responde às pressões do presente e abre caminhos para o futuro

O Nearshore responde a uma dor real do mercado: a necessidade de escalar rápido, com segurança e proximidade. E o Brasil entrega isso com flexibilidade, governança e talento. Empresas podem começar com uma célula dedicada, escalar para um centro de excelência e, em muitos casos, integrar completamente suas operações globais. Tudo isso com KPIs claros e foco na geração de valor.

Para empresas que estão repensando sua estratégia de TI global, o Brasil deve ser mais do que uma opção: deve ser considerado um diferencial competitivo. Ao concentrar investimentos em um modelo de nearshore centrado no país, é possível reduzir riscos, acelerar resultados e construir uma operação preparada para os desafios da próxima década. O que vemos hoje é apenas o começo. E o Brasil, com toda sua complexidade e potencial, tem cada vez mais se mostrado não apenas parte da solução, mas o melhor lugar onde ela pode começar.

E você, está pronto para repensar sua estratégia global?

(*) Wagner Jesus tem mais de 26 anos de experiência na indústria de TI e ingressou na Wipro há 5 anos, liderando indústrias de bens de consumo, comunicações, energia e recursos naturais, bancos e serviços financeiros, e consolidando a empresa no país. Durante sua gestão, ele desempenhou um papel fundamental nas contas locais e globais e estabeleceu relacionamentos com sucesso na região. Tem um perfil de liderança influente, trabalhando como facilitador para aquisições mais recentes da empresa, potencializando o crescimento da companhia no Brasil.

Tags: