Tarifaço de Trump: decisão americana anima empresas mas clima nas relações com os EUA para 2026 é marcado por incertezas

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Da Redação

Brasília – O Encontro Empresarial BR–US, realizado pela Amcham na terça-feira (25), marcou um ponto relevante na relação comercial entre os dois países em um ano que se tornou o mais desafiador da década. Após meses de tensões provocadas pelas sobretaxas aplicadas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o setor privado avalia que o ambiente começa a mostrar sinais consistentes de melhora — embora persistam incertezas e negociações ainda em curso.

Na abertura, o presidente da Amcham, Abrão Neto, destacou que a eliminação das sobretaxas de 50% para um conjunto expressivo de produtos agroindustriais trouxe “um alívio importante” para segmentos que exportam cerca de US$ 4 bilhões ao mercado americano. Ele reforçou, no entanto, que aproximadamente 37% das exportações brasileiras ainda enfrentam tarifas de 40% a 50%, um patamar mais realista sobre o que resta a ser negociado e que demonstra o tamanho do desafio para a competitividade e previsibilidade das empresas.

As discussões refletiram uma percepção convergente entre especialistas, autoridades e lideranças empresariais: o momento é de avanço, mas a resolução completa do tema tarifário está diretamente condicionada ao calendário eleitoral de 2026 no Brasil e nos Estados Unidos e a renegociação do acordo com Canadá e México. “É importante aproveitar essa janela de oportunidade”, afirmou Neto, observando que o próximo ano tende a concentrar a atenção doméstica dos dois países, exigindo progressos ainda em 2025 e no início de 2026.

Solução antes das eleições de meio de mandato

O embaixador Roberto Azevêdo, ex-diretor da OMC, reforçou que a questão tarifária precisa avançar antes de o ciclo eleitoral americano ganhar força. “O horizonte de tempo é curto”, disse, defendendo que os próximos meses sejam utilizados para consolidar entendimentos.

O governo brasileiro também enfatizou a urgência. A secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, afirmou que o país tem “pressa” em buscar novas exclusões tarifárias e reduzir alíquotas. Ela observou ainda que existe uma agenda de temas de interesse mútuo que pode ampliar a cooperação entre Brasil e Estados Unidos ao mesmo tempo em que melhora o ambiente de negócios doméstico. Entre eles, destacou propriedade intelectual, citada como exemplo de área capaz de gerar avanços de “ganho recíproco” para os dois países e destravar etapas importantes da negociação comercial.

Na análise dos setores afetados, ficou claro que, embora ainda existam itens do agro — como pescado e mel — sujeitos às sobretaxas, a imensa maioria dos produtos remanescentes é composta por bens industrializados. Esse é hoje o principal foco de atenção: trata-se de segmentos de maior valor agregado, fortemente conectados a cadeias produtivas longas e intensivos em emprego no Brasil. As entidades industriais relataram impactos significativos. A Abimaq apontou queda de 42% nas exportações de máquinas e equipamentos em outubro, enquanto a CNI destacou a dependência elevada de segmentos como metalurgia em relação ao mercado americano.

No campo das possibilidades de convergência, foram discutidos temas que podem compor soluções equilibradas para ambos os países. Abrão Neto mencionou oportunidades em minerais críticos, lembrando que os Estados Unidos buscam diversificar fornecedores e que o Brasil possui reservas significativas, potencial industrial e necessidade de investimentos para avançar em processamento e beneficiamento. Outras áreas citadas incluem cooperação energética e reforço em propriedade intelectual — temas com potencial de compor uma agenda positiva e pragmática.

O encontro ainda ofereceu aos participantes um panorama sobre o Plano Brasil Soberano e como ele pode ajudar empresas impactadas, diretamente com a área de Comércio Exterior do BNDES. Além disso, a EY apresentou possibilidades de planejamento tributário e aduaneiro que podem, temporariamente, trazer competitividade às empresas.

A avaliação final do encontro foi de que houve progresso relevante, melhoria no ambiente político e técnica nas conversas, mas com a consciência de que a janela para avançar é limitada. O setor privado permanece mobilizado e atento à evolução das negociações, reforçando a importância de uma solução abrangente que reduza incertezas, preserve competitividade e ofereça estabilidade ao comércio bilateral.

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