Jackson Campos, Diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo

Diplomacia, o antídoto do Brasil contra antidumping e tarifaço que redesenham relações com os EUA e a China

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Especialista em comércio exterior Jackson Campos vê Brasil em meio a “cabo de guerra” com as duas maiores potências globais, mas vê avanços significativos através da diplomacia brasileira

Da Redação

Brasília – Nos últimos meses, o Brasil tem ampliado o número de medidas antidumping aplicadas a produtos chineses, acompanhando um movimento global de contenção às práticas comerciais consideradas desleais. O aumento dessas ações reflete tanto uma tentativa de proteger a indústria nacional quanto uma resposta à pressão de setores produtivos que enfrentam forte concorrência de importados com preços artificialmente baixos.

Entre os casos mais recentes no Brasil estão as investigações e sobretaxas aplicadas sobre aço laminado, resinas plásticas, pneus e até produtos químicos, todos originários da China. “Essas medidas têm o objetivo de evitar que o mercado nacional seja inundado por produtos com preços abaixo do custo real”, explica Jackson Campos, especialista em comércio exterior

De acordo com Campos, o efeito dominó dessas tarifas pode ser particularmente sensível para setores como o de construção civil e o automotivo, altamente dependentes de matérias-primas importadas da China. “Quando o aço ou os polímeros ficam mais caros, toda a cadeia produtiva sente o impacto. A curto prazo, a medida parece justa, mas a longo prazo, pode frear a competitividade brasileira e aumentar os preços para o consumidor final”, completa o especialista.

Além dos impactos econômicos, há também um componente diplomático que merece atenção. A China é o principal parceiro comercial do Brasil, respondendo por cerca de 30% das exportações e 22% das importações brasileiras, segundo dados recentes da Secretaria de Comércio Exterior. Um aumento expressivo de medidas antidumping pode gerar desconforto nas relações bilaterais.

“Embora o Brasil tenha todo o direito de adotar instrumentos de defesa comercial, é preciso cautela para que essas decisões não sejam interpretadas como hostis. A China é um parceiro estratégico, tanto na compra de commodities quanto nos investimentos em infraestrutura e energia. Uma escalada dessas medidas, se não for bem conduzida, pode sim criar atritos diplomáticos e dificultar negociações futuras”, analisa Campos.

China e o Tarifaço

A relação entre as medidas antidumping adotadas pelo Brasil contra a China e o tarifaço revela uma dinâmica complexa do comércio internacional contemporâneo. Esses dois movimentos fazem parte de uma disputa global por espaço industrial e influência econômica, onde o Brasil acaba ocupando uma posição delicada.

Se de um lado, o país intensificou investigações e aplicou antidumping contra diversos produtos chineses, especialmente nos setores de aço, metalurgia, químicos e têxteis do outro os Estados Unidos decidiram impor tarifas adicionais ao aço e ao alumínio brasileiros sob o argumento de que o Brasil estaria contribuindo para um “desbalanceamento estrutural” do mercado americano.

“O tarifaço dos EUA não foi uma reação ao Brasil isoladamente, foi uma reação ao sistema de competição criado pela China. Claro que temos produtos que são muito valorizados pelos dois países, o aço, alumínio, o café e a soja são exemplos disso, mas os americanos estão tentando proteger sua hegemonia no cenário mundial frente a uma gigante asiática que se estruturou e cresceu nas últimas décadas. O Brasil se tornou alvo colateral na disputa dos dois mercados”, conclui Campos.

Os americanos anunciaram uma redução nas tarifas globais para produtos como café, carne e outros produtos, o que evidencia a pressão sofrida por Trump por conta da inflação criada pelas tarifas e o descontentamento dos empresários que estão tendo que comprar produtos mais caros.

“O movimento anunciado pelos Estados Unidos ainda não esclarece completamente o impacto específico para o Brasil, mas já indica uma mudança importante no quadro geral das tarifas. A retirada de produtos agrícolas como café, carne bovina, frutas tropicais e fertilizantes do regime de tarifas recíprocas parece responder muito mais à pressão doméstica por redução de preços de alimentos do que a uma negociação pontual com o governo brasileiro”, explica o especialista.

Mesmo com a balança comercial apontando que o país está conseguindo realizar novos acordos comerciais mesmo com o tarifaço, o mercado norte-americano não se torna menos importante. Os governos de EUA e Brasil seguem negociando e buscando aliviar setores que foram totalmente impactados.

“Estamos todos aguardando um desfecho positivo das conversas que os países vêm tendo. Para setores como o madeireiro e o de móveis, esses avanços são essenciais para a sequência das empresas dos setores. A continuidade do tarifaço inviabiliza operações inteiras e ameaça empregos. Há expectativa de que Washington flexibilize parte das tarifas, mas até que isso aconteça, a tensão permanece. O Brasil precisa de previsibilidade para manter sua competitividade e continuar atraindo novos acordos comerciais”, finaliza Campos.

 

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