Jackson Campos - Diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo

Guerra no Oriente Médio pode dificultar acesso ao petróleo e elevar preço do frete, diz especialista

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O especialista em comércio exterior Jackson Campos fala sobre a importância da região no mercado do combustível e alerta para possível nova escalada nos preços

Da Redação (*)

Brasília – Já em alta em 2024, o frete marítimo deve continuar subindo após a escalada dos conflitos entre Israel, Irã e Palestina. Este fator geopolítico global, culminado ao que já estava elevando os preços de fretes, como as secas e a grande demanda, devem continuar sendo problema para quem está tentando exportar e importar produtos. A opinião é de Jackson Campos, Diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo, e especialista em comércio exterior.

Segundo ele, “entretanto, a guerra entre Israel, Irã e Líbano, que ainda pode escalar para os demais países da região, é motivo de muitos alertas para o comércio global, especialmente pela riqueza da região em petróleo, combustível principal para navios e aviões que levam mercadorias de um lado do globo para outro”.

O especialista acredita que “com todos os países ficando próximos do Mar Vermelho, canal que recebe cerca de 30% de todo o petróleo que é movimentado no planeta, fica ainda mais complicado ter acesso à essa commodity, que não consegue transitar e nem sair dos países árabes, onde é extraída em massa. Além disso, há preocupações com danos ambientais caso este petróleo seja derrubado no mar”.

“Com certeza deve haver alguma ação contra as fontes de petróleo iranianas caso o conflito fique mais intenso e isso pode jogar o custo do frete ainda mais para o alto. Além disso, esta guerra pode trazer danos ambientais irreparáveis caso algum navio carregado com o combustível seja atingido. Devemos monitorar a região e evitá-la durante este período de crise”, afirma o especialista.

Rota alongada

Pela necessidade de manter a circulação de mercadorias, as empresas de transporte têm optado por dar uma volta de mais de 6.5 mil km pelo sul da África ao invés de se arriscar por 200 km pelo Canal de Suez. Por si só, essa mudança de rota já aumenta, e muito, o preço do frete.

“É uma volta imensa quando colocamos em comparação com a praticidade de circular pelo Mar Vermelho. São quase 10 dias a mais de frete, encarece muito esse transporte, mas por segurança daqueles que estão nos navios, é a melhor opção. Essa alteração na logística global gera muitos custos, que acabam sendo repassados para os importadores e exportadores e, por consequência, para os consumidores”, diz Jackson.

Além disso, por se tratar de uma região com laços comerciais fortes com o Brasil, o especialista alerta para que os comerciantes brasileiros adotem a diversificação de clientes para manter o fluxo de caixa. “Orientamos para que exportem e importem de vários locais, para não depender de uma única região ou país. Neste momento, o ideal é pulverizar a carteira de clientes, construindo relações comerciais em pontos estratégicos do globo”, analisa Campos.

Jackson também explica que não há previsões de queda no frete marítimo e que, dependendo dos rumos da guerra no oriente médio, pode ficar ainda mais caro. “Já estamos alertando desde maio sobre essa subida forte dos preços e não deve ter nenhuma queda por enquanto. Os conflitos que estão acontecendo agora podem se transformar em fatores que encarecem substancialmente o frete, o que irá impactar diretamente na nossa economia e na economia global. É um momento delicado na cadeia mundial de suprimentos”, conclui o especialista.

Greve nos EUA poderia ter piorado a situação

Depois de quase 50 anos sem paralisação, os estivadores americanos protestaram por salários maiores e menos automatização de postos de trabalho, o que poderia levar a demissões ou menos necessidade de pessoal no segmento. O acordo para encerramento da greve foi fechado na última quinta-feira, 3, e custou US$ 5 bilhões por dia de paralisação, segundo analistas da JP Morgan.

Para Jackson Campos, a continuidade da paralisação poderia ter prejudicado diretamente a economia brasileira e agora deve levar entre duas a três semanas para que o fluxo normal dos portos seja reestabelecido com fluidez.

“Se a greve fosse alongada, os produtores brasileiros, especialmente do agro e automotivo, sentiriam com mais intensidade e teriam muito prejuízo, a finalização foi excelente para nosso comércio. Agora, os portos terão que lidar com as filas de navios e devem levar 20, 25 dias para que tudo volte ao fluxo normal”, conta Campos.

(*) Com informações da AGL Cargo

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