José Augusto de Castro, presidente da AEB / Divulgação

AEB vê Brasil impotente para seguir os EUA na taxação aos carros elétricos da China

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Brasília  O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro considerou uma “dura realidade” para o Brasil a decisão anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de elevar de 25% para 100% a tarifa incidente sobre as importações dos veículos elétricos fabricados na China.

Na percepção do dirigente da AEB, com o aumento de 300%, “o presidente americano deixa claro que os Estados Unidos não estão buscando uma proteção tarifária e sim uma proteção para a indústria automotiva como um todo”.

Para José Augusto de Castro, “a partir da medida anunciada em Washington, o que pode acontecer com o Brasil? Ou abre a fronteira {para os carros elétricos chineses} como está acontecendo hoje, ou simplesmente resolve fazer o que os Estados Unidos estão fazendo. Só que o Brasil não tem cacife suficiente para seguir o exemplo americano. Nos Estados Unidos, o consumidor continuará tendo acesso aos carros elétricos fabricados por empresas americanas ou importado de outros países que não a China. No Brasil, se o governo elevar a tarifa de importação, o consumidor deixará de ter acesso ao carro elétrico porque nós estamos em um estágio anterior ao do carro elétrico”.

Protecionismo global

O executivo da AEB vê com ceticismo o futuro do comércio internacional após a adoção de medidas unilaterais como essa anunciada em Washington. Segundo ele, “o mundo caminha, pouco a pouco, para um protecionismo global e não localizado. O que estamos vendo hje é a China ocupando espaços, seja no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa, África, onde quer que seja. Ocupando espaços principalmente com produtos novos. É como se os chineses tivessem feito um grande estoque de carros elétricos e passasse a distribuí-los pelo mundo a qualquer preço. É como se a China estivesse sozinha no mercado fornecendo esses veículos para o mundo inteiro”.

José Augusto de Castro afasta a possibilidade, por exemplo, de o Brasil ingressar na Organização Mundial do Comércio (OMC) reivindicando a instalação de um painel para tratar do assunto: “o Brasil vai se limitar a observar o que os outros países vão fazer mas não necessariamente fará o que eles estão fazendo. A chance de o Brasil fazer alguma coisa contra a China, uma ação antidumping, por exemplo, é muito pequena. As produtoras de automóveis instaladas no Brasil são gigantes mundiais e elas poderiam fazer alguma coisa, mas o governo não vai pensar numa taxação elevada sobre um produto como o carro elétrico chinês porque abriria um precedente muito grande para outros segmentos do mercado que iriam querer que se fizesse o mesmo”.

Medida dos EUA terá efeito limitado

Segundo analistas internacionais, a criação da alíquota de 100% sobre os veículos chineses representam um golpe mais simbólico do que prático para as montadoras chinesas, que praticamente não operam no mercado americano.

Com as portas de entrada nos EUA praticamente cerradas, a indústria automobilística chinesa direcionará seu foco para os mercados emergentes e, em casos como o do Brasil, promover a transferência da produção onde os carros serão vendidos e também exportados para os países vizinhos.

Nessa luta pela ocupação de mercados nos mercados mais diversos e distantes do planeta, a China usa uma estratégia singular, conforme aponta José Augusto de Castro: “a China busca ganhar mercado a qualquer preço, independentemente do custo do produto. O importante é vendê-lo. Na visão da China, o lucro é secundário. A China descarta o lucro, como não faz nenhuma economia de mercado, buscando apenas ocupar espaços no mercado internacional”.

Com grandes estoques, empresas como a BYD, principal fabricante de veículos do país asiático, disponibiliza um modelo compacto com autonomia de ataé 320 km com uma única carga abaixo de US$ 10 mil. Seu sedan de luxo, o Seal, voltado ao consumidor de alto padrão e com autonomia de 550 km, tem preço a partir de US$ 25 mil na China. Nos Estados Unidos, uma versão do sedã Model3, da Tesla custa a partir de US$ 43 mil.

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