Rio de Janeiro – O vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que as atuais relações institucionais e comerciais “reforçarão cada vez mais investimentos e parcerias recíprocas” entre Brasil e China, que completarão 50 anos de relações diplomáticas em 2024. Alckmin, que também é titular do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), mencionou as recentes inaugurações das fábricas de veículos elétricos e híbridos da BYD e da Great Wall Motors (GWM) como sinais da importância crescente do Brasil para a indústria automotiva chinesa, que vem se destacando nos investimentos na transição energética verde.
A Conferência Anual do CEBC 2023, que teve como tema “A Nova Agenda Brasil-China: Neoindustrialização e Sustentabilidade”, contou com o patrocínio master da Bayer, diamante da Vale, ouro da Embraer, Porto do Açu e Suzano e prata do Kasznar Leonardos. Na condição de Vice-Presidente, Alckmin preside a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), que é o principal mecanismo permanente de diálogo entre os governos dos dois países.
Em discurso na abertura da Conferência Anual do CEBC, o Embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, disse que, apesar das turbulências recentes, a tendência da economia chinesa é de desenvolvimento com alta qualidade. “As flutuações de curto prazo não alterarão a tendência predominante da economia chinesa, marcada por forte resiliência, alto potencial, grande dinamismo e boa perspectiva de longo prazo.” Segundo ele, a China cresceu 5,2% nos primeiros nove meses de 2023, taxa superior à registrada pela maior parte das principais economias do mundo.
Zhu afirmou que a cooperação entre Brasil e China ganhou novo impulso com a visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou ao país asiático em abril. “Tanto o governo chinês como o brasileiro propõem um novo modelo de industrialização e se comprometem com um desenvolvimento sustentável de maior qualidade, mais verde e mais inclusivo.”
O Embaixador disse ainda esperar que o Brasil se una “em breve” à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês), o megaprojeto de conexão de infraestrutura lançado pelo Presidente Xi Jinping há dez anos. Em sua avaliação, o eventual ingresso do Brasil faria com que a cooperação bilateral ocorresse em uma “plataforma mais ampla” e em um “nível mais elevado”. Também na cerimônia de abertura, o Secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty, Embaixador Eduardo Saboia, ressaltou a importância crescente da China como investidor no Brasil.
“Nos últimos 15 anos, o estoque de investimentos chineses no Brasil atingiu a cifra de US$ 71 bilhões, abarcando múltiplos setores, como o de eletricidade, extração de petróleo, tecnologia da informação, infraestrutura, veículos automotores, agricultura, entre outros”, observou. “Entre 2005 e 2022, o Brasil atraiu 48% do total de investimentos chineses na América do Sul e foi o quarto maior destino dos investimentos chineses no mundo.”
O Presidente do CEBC, Embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, ressaltou que os números de comércio e investimentos mostram “impressionantes e persistentes” avanços quantitativos na relação Brasil-China nos últimos anos. “O desafio agora é pensar em como podemos dar um salto qualitativo nessa relação. Nesse contexto, os temas da neoindustrialização e da sustentabilidade têm posições centrais nesse debate”, observou Castro Neves.
A Secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, afirmou que a neoindustrialização, que vem sendo conduzida por Alckmin no ministério, é uma prioridade para o país e tem como pilares a sustentabilidade e a inovação, dois pontos de grande convergência de interesses entre China e Brasil. “A China cumpre um papel importante no investimento em setores como energia, telecom e tecnologia da informação. Com o novo PAC como vetor de investimentos, os chineses serão parceiros de primeira grandeza e ajudarão a dar o salto que o Brasil precisa em áreas como a indústria 4.0.”
Tatiana Rosito, Secretária de Assuntos Econômicos Internacionais do Ministério da Fazenda, falou sobre a preocupação estratégica do atual governo em fazer com que o desenvolvimento econômico caminhe de mãos dadas com a conversão para a economia verde. Para isso, o ministério criou plano baseado em seis eixos: finanças sustentáveis, transição energética, bioeconomia, economia circular, infraestrutura verde e adensamento tecnológico.
“Em finanças sustentáveis, nós já temos avanços concretos com a regulamentação do mercado de carbono em votação no Congresso. Isso nos possibilitará entrar no maior mercado de carbono e maior emissor de bônus verdes do mundo, que é a China”, declarou.
Vice-Presidente do Setor Privado do Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF), Jorge Arbache, ressaltou a complementaridade entre os dois países. O Brasil possui vantagem ambiental competitiva talvez única no mundo, seja em biodiversidade, produção de alimentos e geração de energia limpa, o que oferece grande potencial de powershoring (atração de investimentos em indústria pelo custo competitivo de energias renováveis). “Temos enorme potencial estratégico para entrar na cadeia global da China, ajudando a esverdear a indústria do país e facilitar o acesso aos mercados dos Estados Unidos e Europa, onde há mais discriminação ambiental ao produto chinês”.
Maior importador de grãos do Brasil, a China é uma prioridade da Bayer no desenvolvimento de negócios combinados de inovação e sustentabilidade. A CEO da Bayer Brasil, Malu Nachreiner, explicou que a visão estratégica da companhia é avançar na agricultura regenerativa – produzir mais, com menos recursos, regenerando o meio ambiente.
Nesse contexto, a empresa desenvolve o programa PRO Carbono, de apoio a agricultores que adotam práticas regenerativas de manejo, do plantio direto até biotecnologia. Dentro do mesmo programa, outra prioridade da Bayer é a rastreabilidade de grãos.
“Este ano realizamos um piloto de rastreamento de ponta a ponta na produção de mais de 200 mil toneladas de soja. É um tema de enorme importância nas relações entre Brasil e China, pois só com a rastreabilidade de toda a cadeia nós teremos um ecossistema de baixo carbono de longo prazo”, afirmou.
Ainda no agronegócio, Roberto Perosa, Secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária, enfatizou que o plano de recuperação de áreas degradadas será provavelmente o maior programa da pasta nos próximos anos. A intenção é transformar cerca de 40 milhões de hectares de áreas de pasto degradadas em terra agricultável, que se somariam aos 65 milhões de hectares disponíveis para os produtores, sem cortar uma árvore. “O plano demandará recursos US$ 120 bilhões em uma década, uma enorme oportunidade de investimento em agricultura sustentável para os chineses.”
Maior exportadora global de celulose para a China, a brasileira Suzano firmou parceria com quatro universidades chinesas e vem intensificando investimentos em inovação com startups do Brasil para ampliar a oferta de produtos de baixo carbono para o parceiro. Além da celulose, a Suzano pretende crescer a exportação de subprodutos sustentáveis para a indústria química, cosméticos, higiene e beleza, entre outros. “Nós queremos ser percebidos como parte da solução para a transição para a economia de baixo carbono”, afirmou a Líder Global de Relações Corporativas da Suzano, Mariana Lisbôa.
A China está no centro da estratégica de crescimento da Vale, que exporta ao país 40% do minério que produz. A empresa tem focado esforços em soluções de descarbonização do setor siderúrgico, que responde por 8% das emissões globais. Também destacou a exploração de minerais críticos para a transição energética, como cobre, níquel e lítio. “Temos uma oportunidade de sermos os indutores da neoindustrialização do Brasil”, destacou o Head de Relações Externas da Vale, Gustavo Biscassi.
O Porto do Açu, que responde por 40% da exportação de petróleo do Brasil, e possui um grande terminal de gás natural, também aposta na neoindustrialização para se preparar para a conversão às energias verdes. Eduardo Kantz, Diretor de Relações Institucionais da Prumo Logística, destacou que a companhia pretende transformar parte da área do porto em um hub para atração de indústrias que demandem energia renovável. “O Brasil tem ainda muito potencial para explorar a energia eólica offshore”, afirmou.
Dentro do setor de transporte, é o imenso crescimento do mercado interno chinês que atrai o interesse da brasileira Embraer. A Diretora de Relações Institucionais da empresa, Verônica Prates, lembrou que o país deverá se tornar o maior mercado mundial da aviação em 2025, superando os Estados Unidos, e demandará 1.300 aeronaves nos próximos 30 anos, somente no segmento de atuação da companhia.
“No curto e médio prazo, nós também vamos oferecer soluções de mobilidade urbana sustentável para o mercado chinês com o nosso projeto de carros elétricos voadores, em distâncias de até 100 quilômetros”, disse a executiva.
Nancy Kaigawa, advogada e Sócia da Kasznar Advogados, salientou o desafio brasileiro em assegurar o futuro dos investimentos na transição para a economia verde com uma proteção robusta de patentes e propriedade intelectual.
“O Brasil tem feito avanços imensos em tecnologias como a supercana-de-açúcar para produção de etanol, mas essa inovação precisa trazer segurança ao investidor”, destacou, ressaltando o esforço do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em dar agilidade à análise de patentes com propósito sustentável.
(*) Com informações do CEBC