Da Redação
Brasília – “Não podemos nos aliar aos Estados Unidos contra a China, nem abrir mão de um mercado como o da China, principal país de destino para nossas commodities”. A afirmação, em tom de advertência, foi feita pelo presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB, José Augusto de Castro, ao falar sobre as relações do governo do presidente Jair Bolsonaro entre o Brasil e seus principais parceiros comerciais.
Ao comentar sobre os planos do governo Bolsonaro de buscar um alinhamento quase automático em suas relações com os Estados Unidos, José Augusto de Castro afirmou que “é sempre bom lembrar da Argentina, no governo do ex-presidente Carlos Menem, quando ele falou em estabelecer relações ‘carnais” com os Estados Unidos. Não funcionou e o motivo é simples: as coisas não funcionam dessa maneira”.
O presidente da AEB lembrou que “o presidente Bolsonaro esteve em Taipé e isso me pareceu muito estranho pois temos relações muito intensas com a China, que não reconhece a existência de Formosa e reitera sempre a existência de uma China única e indivisível. Exportamos muito para a China, nosso maior parceiro comercial tanto para as exportações quanto para as importações. Hoje talvez a China tenha muito mais a perder que o Brasil com as relações bilaterais, mas esse é um cenário que talvez possa modificar amanhã”.
José Augusto de Castro destacou que “os chineses são os maiores importadores de soja, petróleo, milho e minério de ferro brasileiros. Não se pode abrir mão de um mercado gigantesco como o da China”.
As estatísticas da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia, atestam essa realidade. De acordo com elas, em 2018, as exportações brasileiras para a China totalizaram US$ 66,6 bilhões, com uma alta de 32,2% bem acima do crescimento de 9,6% registrado nos embarques totais do Brasil pelo conceito da média diária. No período, as vendas aos chineses corresponderam a 27,8% do volume total exportado pelas empresas brasileiras.
Em contrapartida, as vendas para os Estados Unidos, com alta de 6,6% em 2018, atingiram a cifra de US$ 28,7 bilhões, equivalentes a apenas 12% das exportações brasileiras no período.
Esse forte aumento nas exportações para a China deveu-se ao rápido crescimento da diversificação das importações chinesas de produtos agropecuários brasileiros. Tradicionalmente concentradas em soja, as compras do país asiático passaram a contar com diversos outros itens do setor agropecuário, além dos igualmente tradicionais petróleo e minérios de ferro. A soja lidera as exportações brasileiras para o gigante asiático e 82% das exportações da oleaginosa desembarcaram em portos chineses no ano passado.
Até cerca de dez anos, as carnes brasileiras não faziam parte do cardápio chinês e em 2018 o país foi o destino final de quase 20% das carnes bovinas exportadas pelo Brasil. Hoje a China já é o país líder na compra de carnes bovina e suína brasileiras e em relação à carne de frango os chineses se aproximam do principal cliente, a Arábia Saudita, que certamente em breve vão ultrapassar.
Crescimento idêntico aconteceu em relação ao algodão. Em 2008, pouco expressivos 3% de todo o algodão embarcado pelo Brasil para o exterior tinha a China como destino final. Ano assado esse percentual subiu para 28%
A celulose é outro produto brasileiro que cada vez mais desperta o interesse dos chineses. Ano passado, a China importou 42% de toda a celulose vendida pelo Brasil no exterior.
José Augusto de Castro reconhece a importância dos Estados Unidos como mercado para os produtos brasileiros e em especial para os manufaturados, de maior valor agregado. Ainda assim, ele ressalta que “não podemos nos esquecer de que os Estados Unidos exportam praticamente todas as commodities que o Brasil exporta, à exceção do café e minério de ferro”.