Venezuela pode ser um risco para os exportadores do Centro-Oeste

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Fotos: Ricardo Stuckert

Brasília (Comex-DF) – As empresas matogrossenses, e dos demais estados da região Centro-Oeste, que têm na Venezuela importante cliente para seus produtos devem ficar cada vez mais atentas ao cenário político e econômico daquele país. Exportadores de outros estados se queixam da demora por parte da Comissão de Administração de Divisas (a poderosa Cadivi) na  liberação do pagamento das mercadorias importadas.

Com a lentidão imposta pelo órgão, o processo se arrasta e há casos em que o atraso na quitação dos débitos junto aos exportadores já ultrapassa um ano. Especialistas em comércio exterior advertem que esse problema pode afetar indistintamente a um grande número de empresas brasileiras que exportam para a Venezuela.

Na região Centro-Oeste, em números absolutos, Mato Grosso é o estado que mais exporta para a Venezuela e tem no país de Hugo Chávez seu nono maior cliente no exterior. Em termos relativos, o Distrito Federal é a unidade federativa da região mais exposta ao risco Venezuela, que é ao mesmo tempo o maior importador de produtos do DF e seu décimo principal fornecedor externo. Por outro lado, Mato Grosso e Goiás não são grandes exportadores nem importadores da Venezuela.

Ano passado, as exportações de Mato Grosso para a Venezuela somaram US$ 211.142.685, representando uma queda de 26,74% em relação aos US$ 291.263.093 vendidos para aquele país em 2008. Essa tendência de forte redução foi quebrada no mês de janeiro passado, quando Mato Grosso exportou US$ 24.547.820  para a Venezuela, um aumento de 34,07% em comparação com janeiro de 2009. Estes números fizeram da Venezuela o quinto principal país de destino para as exportações do estado. Uma subida de cinco posições em relação ao ranking de dezembro do ano passado.

No tocante às importações de Mato Grosso, a Venezuela aparece numa modesta vigésima-sexta posição. Ano passado, a Venezuela exportou apenas US$ 1.627.728 para Mato Grosso, uma forte redução de 74,77% em comparação com as exportações de 2008 que totalizaram US$ 6.451.404.

Apesar dos números ascendentes das vendas para a Venezuela em janeiro, é importante que os empresários de Mato Grosso levem em consideração o fato de que exportadores de diversos estados brasileiros acumulam um vasto acervo de queixas referentes à demora nos pagamentos.

Essas queixas provêm de distintos setores do comércio exterior. O de carnes bovinas é um deles. As vendas de carnes congeladas para a Venezuela caíram 62% em 2009 e apesar isso avolumam-se as reclamações de atraso prolongado de pagamento.

Segundo Roberto Giannetti , diretor de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), os atrasos não são novidade, mas a perspectiva é de que a situação vai piorar. “Estão ocorrendo lá sérios problemas de crédito e liquidez, hoje já existem empresas com dívidas de seis meses a um ano”, diz o diretor da Fiesp.

Os atrasos se devem em sua grande maioria à demora na liberação dos dólares, moeda cada vez mais escassa na combalida economia venezuelana. Ao estudar a liberação dos pagamentos, a  Cadivi prioriza itens como alimentos e produtos farmacêuticos, mas mesmo esses gêneros de primeira necessidade vêm sendo alvo de atrasos e motivo de reclamações.

Para completar um cenário preocupante e que se agrava com o passar dos dias, as recentes mudanças na regra do câmbio adotadas pelo presidente Hugo Chávez acabaram dificultando a disponibilidade de divisas e agravando ainda mais a situação.

É importante destacar que mesmo sob forte retração (segundo a revista “The Economist” a economia venezuelana encolheu 3%, depois de ter sofrido retrações ainda mais fortes de 4,8% em 2008 e 8,4% em 2007) a Venezuela ainda é um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Na América do Sul, perde apenas para a Argentina. Ano passado, a Venezuela foi um dos principais responsáveis pelo superávit comercial obtido pelo Brasil.

Outro dado relevante: entre 2000 e 2008, as exportações brasileiras para a Venezuela aumentaram 584%, passando de US$ 752 milhões pra US$ 5,150 bilhões. Um aumento praticamente sem precedentes entre os grandes parceiros comerciais do País.

Apesar das incontáveis queixas feitas por alguns dos principais agentes do comércio exterior brasileiro, Darc Costa, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Venezuela, diz que não tem recebido reclamações dos exportadores e que é natural a demora. “Quando há controle, isso sempre acontece”, afirma. De qualquer forma, ele acredita que as mudanças no câmbio podem, sim, ter “aumentado a morosidade” no pagamento.

Os parceiros da Venezuela no Centro-Oeste

Ao contrário de Mato Grosso, os demais estados do Centro-Oeste (à exceção do Distrito Federal) têm baixos índice de exposição ao chamado “risco Venezuela”. Mato Grosso do Sul, por exemplo, exportou US$ 18.435.109 para a Venezuela em 2009, um aumento de apenas 0,38% em comparação com as exportações de 2008, no total de US$ 18.365.301. Em janeiro passado registrou-se um forte aumento nas vendas mensais do estado para a Venezuela. No período, as exportações para o país vizinho somaram US$ 2.938.899, superiores em 171,72% aos US$ 1.081.583 exportados por Mato Grosso do Sul em igual período de 2008.

Em relação a Goiás, a Venezuela apareceu em 2009 como vigésimo-sétimo país de destino das exportações, num montante de US$ 25.245.076, contra exportações de US$ 42.225.497 em 2008, uma forte retração de 40,21%. Entre os abastecedores externos do mercado goiano, a Venezuela ocupou o vigésimo-quinto posto, com vendas totalizando US$ 6.286.888, e uma queda acentuada de  78,85% em relação a 2008, quando a Venezuela vendeu a Goiás produtos no valor total de US$ 29.720.294.

O Distrito Federal é a unidade federativa do Centro-Oeste que mais depende da Venezuela em seu comércio exterior. Apesar de as exportações e importações terem sofrido uma forte retração em 2009, comparativamente com 2008, a Venezuela terminou o último ano como maior cliente externo do DF. Ano passado, as vendas do DF para a Venezuela somaram US$ 30.906.369, uma caída de  58,28% ante a cifra recorde de US$ 74.080.953 registrada em 2008.

Sob o aspecto das importações do DF, a Venezuela surge em décimo lugar na relação dos maiores fornecedores, com exportações no total de US$ 32.409.183, superiores em 8,88% aos US$ 29.765.306 vendidos ao DF pelo país vizinho em 2008.

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