Rebeca Grynspan, Secretary-General of UNCTAD / Foto: UNCTAD

UNCTAD critica alta das emissões e defende a descarbonização do setor marítimo

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Da Redação

Brasília – A secretária-geral da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Rebeca Grynspan, fez duras críticas ao transporte marítimo internacional afirmando que o setor responde por cerca de 3% das emissões globais dos gases de efeito estufa e que na última década essas emissões aumentaram 20%, numa trajetória que o mundo “simplesmente não pode permitir’.

Ao participar da COP28, a conferência anual da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre alterações climáticas, Grynspan afirmou que “nossa mensagem na COP28 é muito clara. É necessária uma ação global ousada para descarbonizar o transporte marítimo”. Mas a própria secretária-geral da UNCTAD admitiu que “o transporte marítimo não pode descarbonizar por si só. Isso requer ação em todo o ecossistema”.

Durante a COP28, a UNCTAD e a Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) criaram uma parceria para avaliar melhor o impacto potencial da descarbonização na logística marítima, particularmente nos países em desenvolvimento

A UNCTAD defende a realização de uma reunião de transportadores, portos, fabricantes, produtores e distribuidores de energia para apoiar coletivamente a indústria no processo de descarbonização e garantir que o processo seja justo e equitativo.

Documento elaborado pela UNCTAD destaca que a incerteza em relação às regulamentações e às alternativas aos combustíveis fósseis estão atrasando os investimentos necessários à descarbonização do setor.

Estimativas do organismo da ONU mostram que a descarbonização da frota mundial até 205 poderá custar entre US$ 8 bilhões e US$ 28 bilhões anuais, sendo necessários, ainda, anualmente, mais US$ 28 bilhões a US$ 90 bilhões para serem investidos na infraestrutura de combustíveis neutros em carbono.

Uma simulação realizada pela UNCTAD neste ano mostra que aumentos hipotéticos de 10%, 30% e 50% na logística marítima poderiam reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) global em 0,01%, 0,04% e 0,08%, respectivamente.

Em termos monetários, uma queda de 0,08% no PIB global, se traduziria em aproximadamente US$ 80 bilhões em perdas para a economia global.

Economias vulneráveis, as mais atingidas

Foto: Freddy por Pixabay

De acordo com a UNCTAD, embora todas as economias sentissem os efeitos dos custos de transportes mais elevados o impacto seria mais pronunciado nos pequenos estados insulares em desenvolvimento e nos países menos desenvolvidos. Estes países, que dependem fortemente do transporte marítimo, já estão sobrecarregados com custos de transporte mais elevados e têm recursos limitados para fazer face aos aumentos de preços.

“Se os esforços de descarbonização do setor não forem acompanhados de crescimento econômico, regulamentação multilateral sólida e inovação tecnológica, existe o risco de deixar para trás, no curto prazo, exatamente aqueles países que ajudará no longo prazo”, afirmou Rebeca Grynspan.

Recomendações políticas para encontrar um equilíbrio

Em sua análise sobre o setor marítimo, a UNCTAD faz quatro recomendações para ajudar a indústria marítima a equilibrar os objetivos e preocupações econômicas, ambientais e regulamentares:

  • Estabelecer um quadro regulamentar universal aplicável a todos os navios, independentemente da sua bandeira de origem, país de propriedade ou área de operação, para evitar um processo de descarbonização a duas velocidades, e soluções e isenções fragmentadas que distorcem as condições de concorrência equitativas para o transporte marítimo e o comércio internacional;
  • Implantar regulamentos que ajudem a minimizar a incerteza que atualmente dificulta as decisões de investimentos dos armadores, estaleiros e portos;
  • Incentivar os investimentos e as instituições financeiras a aumentarem substancialmente os fundos para pesquisa e desenvolvimento em tecnologias e infraestruturas de transporte marítimo com combustíveis limpos;
  • Introduzir um imposto sobre os combustíveis ou preço do carbono para tornar os combustíveis alternativos mais competitivos, gerando ao mesmo tempo fundos que podem ajudar as economias menores e vulneráveis a alcançar uma transição verde e justa de baixo carbono.

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