José Ricardo dos Santos Luz Júnior (*)
É inconteste a remodelação geopolítica do mundo dada a crise do multilateralismo e a corrida pelo desenvolvimento e hegemonia tecnológica.
Exemplo disso foi uma das principais pautas de discussão no encontro dos líderes dos sete países integrantes do G7 – Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão entre 11-13 de junho desse ano na Inglaterra.
Afora a esperada discussão sobre a pandemia e a retomada da economia pós-COVID-19, além dos desafios oriundos das mudanças climáticas, foi lançada a iniciativa global de infraestrutura Build Back Better World (B3W) – “Reconstruir um Mundo Melhor”.
A iniciativa B3W tem o claro intuito de se contrapor à Iniciativa chinesa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative – BRI), também chamada de Nova Rota da Seda, tanto que a B3W visa discutir a competição estratégica com a China e se comprometer com ações concretas para ajudar a atender à enorme necessidade de infraestrutura, hoje estimada na ordem de mais de USD 40 trilhões nos países em desenvolvimento de baixa e média renda na América Latina, Caribe, África e Indo-Pacífico.
Vale dizer que a iniciativa chinesa do BRI, criada em 2013 pelo Presidente Xi Jinping, só em 2020 investiu USD 47 bilhões de dólares, sendo que a previsão do Banco Morgan Stanley é do BRI chegar a cifra de USD 1.2 – 1.3 trilhão em investimentos até 2027.
Contudo, a iniciativa B3W também terá uma enorme musculatura financeira, pois será fomentada pelas instituições financeiras de desenvolvimento de países do G7 e aliados, enfrentando quatro principais áreas, incluindo-se clima, saúde e segurança sanitária, tecnologia digital, equidade e igualdade de gênero.
Lastreada em seis princípios, a B3W se fundamenta em (i) valores de transparência e sustentabilidade financeira, ambiental e social, (ii) boa governança e sólidos padrões relativos a meio ambiente e clima, salvaguardas trabalhistas e sociais, transparência, financiamento, construção, combate à corrupção, dentre outros índices, (iii) investimentos em consonância com as metas ambientais estabelecidas no Acordo de Paris, (iv) fortes parcerias estratégicas mediante consultas às comunidades e avaliação das necessidades globais como parceiros, (v) mobilização de capital privado por meio de financiamento para o desenvolvimento e (vi) aumento do impacto das finanças públicas multilaterais.
Cabe agora ao nosso país, ao formular sólidas políticas públicas de desenvolvimento, analisar de forma pragmática e com menor enfoque à ideologia sobre como podemos nos beneficiar tanto da BRI como da B3W, com o intuito de diminuir nossos gargalos na área infraestrutura, saúde, economia digital e combater a mudança climática.
Afinal, visão e planejamento de longo prazo deveriam ser o norte para a construção de um Brasil melhor para todos.
(*) José Ricardo dos Santos Luz Júnior – CEO do LIDE China