Da Redação
Brasília – Após atingir o recorde histórico de US$ 53,176 bilhões em 2023, o superávit comercial do Brasil no intercâmbio com a China vem caindo acentuadamente em 2024 e nos primeiros dez meses deste ano totalizou US$ 30,452 bilhões. Com isso, a expectativa é de que ao final de 2024 o saldo brasileiro nas trocas com o principal parceiro do país deverá situar-se num patamar cerca de 40% abaixo do valor registrado no ano passado. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
De janeiro a outubro, as exportações para a China totalizaram US$ 83,402 bilhões, com uma retração de 3,7%, enquanto as vendas chinesas ao Brasil cresceram 20,1% para US$ 52,950 bilhões. A corrente de comércio (soma das exportações e importações) somou US$ 136,352 bilhões, com um saldo em favor do Brasil de US$ 30,452 bilhões.
Exportações de soja caem e reduzem superávit
A queda de 14% nas exportações de soja, no valor de US$ 30 bilhões (correspondentes a 16% de todo o volume embarcado para a China) foi uma das variantes responsáveis pela retração no volume total embarcado e, consequentemente, pela redução do superávit comercial. Essa contração não foi compensada pela alta nos outros quatro principais produtos que integram a pauta exportadora para o país asiático de janeiro a outubro.
Segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a retração no saldo comercial com a China era mais que esperada devido à igualmente importante contração da economia chinesa.
Ele destaca que “as exportações de soja e de farelo de soja chegam ao limite, com o final da safra agrícola, e, com a crise vivida pela economia chinesa, deverá haver uma retração nos embarques de minério de ferro e petróleo, que compõem o trio dos principais produtos embarcados para a China”.
Por enquanto, os problemas internos na China ainda não se refletiram nas exportações de petróleo, que somaram US$ 17,5 bilhões (alta de 7,79%) e do minério de ferro, que gerou uma receita de US$ 16,9 bilhões (aumento de 8,86% sobre o volume registrado em igual período do ano passado).
Carne bovina e celulose, que também integram o Top 5 das exportações para os chineses, registraram alta de respectivamente 2,76% para US$ 4,8 bilhões e 22,4%, com uma receita de US$ 3,8 bilhões.
Pauta concentrada em produtos primários
A exemplo do que vem sendo registrado na história do intercâmbio comercial sino-brasileiro, as trocas entre os dois países seguem marcadas por uma forte concentração das exportações brasileiras nas commodities agrícolas e minerais, de baixo valor agregado, contra uma exportação chinesa integrada exclusivamente por bens manufaturados, agregadores de valor.
Para o presidente da AEB, essa é uma situação que dificilmente será modificada. E isso se deve, por um lado, à sofisticação da indústria chinesa, aliada a preços incomparáveis, que fazem com que mesmo as economias mais avançadas consigam penetrar facilmente no gigantesco mercado daquele país, e, por outro, às deficiências do parque industrial brasileiro e ao chamado “custo Brasil”.
José Augusto de Castro ressalta que “a carga tributária elevada, os gargalos na infraestrutura, a burocracia gigantesca entre outros fatores que compõem o “custo Brasil” tornam praticamente impossível exportar bens de maior valor agregado para um mercado tão competitivo como o chinês. A isso se alia o fato de que, ao contrário do que acontece em relação aos Estados Unidos, entre o Brasil e a China não existe o comércio intercompanhias, o que faz com que o Brasil consiga exportar uma ampla gama de produtos manufaturados para os Estados Unidos, a mais sofisticada e competitiva economia do planeta.