Gustavo Paschoa (*)
A Bacia Amazônica, considerada o “pulmão do mundo” devido a sua capacidade de armazenar carbono e produzir oxigênio, vem enfrentando uma seca severa neste ano. A estiagem no Amazonas caminha para ser a maior já registrada no estado. O Rio Negro, o sétimo maior do mundo em volume de água, registrou vazante de 13,59 metros, o nível mais baixo desde 1902, quando as medições começaram a ser realizadas, segundo dados do Porto de Manaus. As consequências ambientais são visíveis e preocupantes, mas o impacto econômico local e nacional é igualmente significativo, gerando repercussão em vários setores
O transporte de mercadorias e pessoas ao longo dos rios amazônicos é vital para a economia local. Com a seca, muitos destes rios tornaram-se intransitáveis, dificultando o comércio e o deslocamento, desafiando a logística de Manaus e arredores, contribuindo, inclusive, para elevar os custos de transporte e aumentar o tempo de entrega de produtos e insumos.
O cenário é preocupante, já que na Amazônia as estradas são os rios, e é através deles que ocorre toda a dinâmica da economia regional. Para se ter uma ideia, segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a Região Hidrográfica Amazônica transportou mais de 71 milhões de toneladas de cargas só no ano passado, e o Rio Amazonas é a principal via utilizada, tendo transportado mais de 34 milhões de toneladas, incluindo alimentos, materiais de construção, insumos para a indústria, combustíveis, entre outros.
A época de estiagem não é uma novidade no Amazonas, mas essa seca atípica acendeu o alerta para problemas de abastecimento, em um período de alta demanda, quando o comércio se prepara para as vendas de fim de ano. Algumas companhias até conseguiram antecipar suas demandas para a Black Friday, avançando com os estoques, como forma de reduzir os impactos, mas em relação ao Natal, há temor de que possa afetar o cronograma de entregas às lojas em dezembro.
Vale destacar que a Zona Franca de Manaus é responsável por 100% da produção nacional de diversos produtos como ar-condicionado, televisores, lavadoras de louça e micro-ondas e por 40 a 70% da produção de celulares, computadores, monitores de vídeo e vários outros produtos eletroeletrônicos que costumam ser bastante demandado pelos consumidores no período das compras de final de ano.
Uma opção que vem sendo considerada é o transporte rodofluvial, que combina o uso de caminhões e balsas, permitindo a navegação em águas mais rasas. Mas, essa alternativa, apesar de ter capacidade limitada de escoamento em comparação com o transporte fluvial convencional, é ainda cerca de 50% mais cara.
A seca deste ano é um sinal claro das mudanças climáticas em curso. Para garantir a resiliência da economia local e nacional, é essencial investir em práticas sustentáveis, conservação ambiental e inovação tecnológica. É indispensável que empresas, governos e comunidades trabalhem juntos para enfrentar estes desafios e buscar soluções que possam ser sustentadas.
A seca na Bacia Amazônica não é apenas uma crise ambiental, mas também econômica. O Brasil, com sua rica biodiversidade e potencial econômico, deve reconhecer a gravidade da situação e tomar medidas proativas para enfrentar os desafios presentes e futuros. A saúde da Amazônia está intrinsecamente ligada ao bem-estar econômico e social de todo o país.
(*) Gustavo Paschoa é CEO da Norcoast