Quantos Brasis cabem em uma pandemia?

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Qual a relação com o comércio exterior?

Renan Diez (*)

Do clichê à informação. O Brasil é um país continental. Ocupamos uma área de 8.516.000 km². São 209 milhões de pessoas em 26 estados e 5.570 municípios. Fazemos fronteira com 10 países. Somos banhados pelo Oceano Atlântico em 7367 quilômetros de extensão litorânea. São 235 instalações portuárias, públicas e privadas, marítimas e fluviais. Temos 99 aeroportos, sendo 18 internacionais. Somos mesmo um país continental, gigante pela própria natureza, mas isso nos torna distantes.

Somos distantes. A realidade de uns pode ser o sonho ou o pesadelo de outros. Em um Brasil cheio de estradas e pedágios, muitos estão sem rumo. Há um mundo de invisíveis que circulam por uma sociedade míope, ou que se faz de míope. A miopia que também rivaliza culturas, oportunidades, um voto ou uma simples opinião. O Brasil não é uma unanimidade, nunca será. Somos diversos.

Proponho um rápido olhar para nossas exportações. O estado de São Paulo exporta óleo bruto de petróleo, aviões, açúcar de cana. Minas gerais exporta minérios de ferro, café cru em grão.  O Rio Grande do Sul: soja, fumo, celulose. Santa Catarina: carne de frango, carne de suíno. Somos um país de diversidades, não de unanimidade.

Na esfera tributária também encontramos diversidades, ou seria bagunça? Em meio a esta pandemia, o STF definiu o critério de incidência do ICMS na importação. Nosso sistema tributário é complexo e a questão do ICMS sempre foi objeto de muita distorção, razão de guerra fiscal entre os estados brasileiros. Quem sabe o IVA (Imposto sobre o Valor Agregado) seja um fator simplificador no futuro, mas ainda há muita resistência entre os estados e municípios.

Há muitos Brasis aqui dentro. Por isso, qualquer comparação com outros países quanto à forma de contenção do avanço da pandemia deve ser feita com muito cuidado. A Suécia, por exemplo, adotou medidas menos restritivas. Justifica-se, talvez, por sua baixa densidade demográfica ou seu número expressivo de cidadãos que moram sozinhos.

No entanto, é o país nórdico com os piores números. No Japão os números não são os melhores entre os asiáticos, mas culturalmente, não é incomum pessoas com máscaras nas ruas antes mesmo dessa pandemia, incomum talvez seja o toque, o abraço, o beijo. Aqui temos a cultura do toque, aglomeramos.

O Brasil é uma aglomeração desorganizada. Somos especialmente incomparáveis. O país do futuro que ainda luta para vencer seu passado, sem nunca ter sido o país do presente. Nossa bagunça é visível, triste e fatal, não somente em tempos de pandemia.

(*) Rossi Diez. Diretor na Intervip Comércio Exterior. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas; Pós-Graduado em Administração de Empresas e MBA em Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela IBE-FGV Campinas. Autor do livro Minuto Comex. Contato: renan@portalintervip.com.br

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