Da Redação
Brasília – O déficit de US$ 6,2 bilhões registrado na balança comercial nos quatro primeiros meses do ano é visto por José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) como sinal preocupante e um indício de que, ainda que não seja totalmente descartável a possibilidade de o Brasil fechar o ano com saldo positivo no comércio internacional, também não se pode desconsiderar a hipótese de o Pais encerrar o ano com um saldo negativo em sua balança comercial.
O presidente da AEB segue adotando uma posição cautelosa e evita fazer prognósticos sobre os números finais do comércio exterior brasileiro em 2013. Porém, deixa transparecer que sua última estimativa feita em dezembro passado, quando previu que o país poderia registrar este ano um superávit de US$ 14,62 bilhões (contra US$ 19,4 bilhões registrados em 2011) é coisa do passado.
Mas, mesmo sem arriscar nova previsão, sob a justificativa de que esse exercício será feito no mês de julho, José Augusto de Castro deixa claro que se houver saldo positivo será muito aquém de qualquer previsão anterior e vai além ao admitir que pela primeira vez em décadas o Brasil poderá amargar um saldo negativo em seu comércio internacional.
Conhecedor profundo do comércio exterior brasileiro, José Augusto de Castro ressalta que “trabalho com a expectativa de superávit mas não afasto a possibilidade de a balança comercial fechar o ano de 2013 com um saldo negativo. Ainda faltam oito meses para o término do ano e muita coisa pode acontecer. Entretanto, não se pode ignorar o fato de que as importações vêm crescendo num ritmo forte. No primeiro quadrimestre do ano as compras externas aumentaram 10% sobre o mesmo período do ano passado. No mês de abril, houve acréscimo das importações de todas as categorias
de produtos: bens de consumo (+9,1%), matérias-primas e intermediários (+7,2%), bens de capital (+3,2%) e combustíveis e lubrificantes (+0,1%). Em contrapartida, as exportações apresentaram uma retração de 3,1% pela média diária, comparativamente com o primeiro quadrimestre de 2012″.
Após destacar que “os dados até o momento não são bons e o cenário é preocupante”, o presidente da AEB afirma que “os números divulgados pelo MDIC mostram um déficit de US$ 6,2 bilhões até o mês de abril. Entretanto, ainda falta contabilizar pelo menos US$ 1 bilhão em importações de petróleo realizadas no ano passado e que deverão ser lançadas agora em maio. Com isso, o saldo negativo salta para US$ 7,2 bilhões. Com importações em alta e exportações fortemente concentradas em produtos básicos, há motivos de sobra para preocupação. Esses temores são reforçados pelo fato de que os preços das commodities no mercado internacional estão declinantes e assim devem seguir no segundo semestre”.
Para José Augusto de Castro, “no caso do minério de ferro, tivemos no primeiro trimestre queda de volume exportado da ordem de 2,3% em relação a igual período do ano passado. Com o excesso de aço no mundo hoje, o minério poderá sofrer queda de preço. Por outro lado, o volume da soja exportada também caiu e os preços estão abaixo do esperado. Para o segundo semestre, a tendência é claramente negativa. Em resumo, devemos ter este ano repetição do que aconteceu em 2012: preços em alta no primeiro semestre e indicadores de queda na segunda metade do ano.Quanto ao petróleo, houve uma queda de 50% na quantidade exportada e para completar a Petrobrás anunciou a redução oscilando de 8% a 12% na produção. Para tornar o cenário ainda mais nebuloso, internamente, o consumo está bastante aquecido, alimentado pelas vendas récordes de automóveis registradas nos quatro primeiros meses do ano”.
Com quedas nos preços e/ou em volumes exportados para minério de ferro, soja e petróleo, que em seu conjunto representaram no primeiro trimestre 79% de todo o volume exportado pelo Brasil ao seu maior parceiro comercial no mundo, a China, parece certo que a previsão sobre a balança comercial brasileira a ser divulgada em julho pela AEB poderá trazer fortes indícios apontando para um déficit ao final de 2013 tanto no intercâmbio com os chineses como no comércio brasileiro global.