Países africanos querem realizar mesa-redonda para discutir comércio com o DF

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Brasília (Comex-DF) – Os países africanos querem mostrar aos empresários do Distrito Federal que a África pode ser um importante mercado não apenas para produtos primários mas também para semimanufaturados exportados pelo DF.

 

Foi com este objetivo que o professor senegalês Mansour Drame, há onze anos radicado em Brasília, procurou a Fibra para propor a realização de uma mesa-redonda reunindo os embaixadores dos países africanos acreditados junto ao governo brasileiro e empresários brasilienses de todos os setores interessados em aproveitar as múltiplas oportunidades de negócios existentes no continente africano.

 

Administrador de empresas e professor da Unisaber, uma faculdade da Ceilândia, Mansour Drame tem estreitas relações com os embaixadores africanos em Brasília e segundo ele os empresários do DF ainda não descobriram a África como importante parceiro para negócios: “nossos países importam produtos do agronegócio, equipamentos para os setores da saúde e educação, tecnologia agrícola e para o setor da construção civil, entre outros. Temos um imenso mercado para os alimentos, assim como excelentes oportunidades de intercâmbio turístico. Diversos desses produtos poderiam estar sendo exportados para a África pelos empresários brasilienses, mas isso não acontece por absoluto desconhecimento da realidade africana e também pela falta de interesse em realizar prospecção de negócios no continente”.

 

Mansour Drame acredita que a Fibra poderá ser um parceiro de grande importância nos esforços visando alavancar o comércio entre o DF e a África: “fiz um primeiro contato com o Centro Internacional de Negócios, onde fui recebido por Roberta Cardoso Lima, que mostrou grande interesse em levar o assunto à presidência da Federação das Indústrias. Agora espero que a Fibra se associe à minha idéia de promover, no curto prazo, um encontro dos embaixadores africanos com um grupo expressivo de empresários brasilienses para uma troca de informações e estabelecimento de relações que certamente resultarão em bons negócios para ambas as partes. Solicitei uma audiência com o presidente Antonio Rocha e espero que ela aconteça em breve, pois não podemos perder mais tempo”.

 

Na opinião do professor Mansour Drame, “o que falta é principalmente conhecimento recíproco e, sobretudo, mais agressividade e interesse do empresariado brasiliense. Veja um exemplo: recentemente fui incumbido de encontrar uma empresa brasileira, e poderia ter sido uma companhia do DF, que se interessasse por um projeto no valor de 400 milhões de euros para a construção de um grande número de residências e prédios de apartamentos na Costa do Marfim. Para concretizar o negócio era necessário obter de um banco brasileiro uma fiança bancária. Fiz todos os contatos possíveis e sei que instituições como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e bancos como o HSBC poderiam fornecer esses instrumento garantidor mas ninguém se interessou. Na falta de garantias, construtoras brasileiras perderam um negócio desse vulto e o contrato acabou sendo fechado por uma empresa francesa, que não enfrentou esse tipo de dificuldade. Este é apenas um, e emblemático, exemplo dos múltiplos negócios que deixam de ser realizados por desinteresse ou excesso de burocracia”.

 

Segundo Mansour, todos os embaixadores africanos residentes em Brasília (24 no total) se interessarão em participar da mesa-redonda caso o evento venha a ser organizado pela Fibra: “as autoridades e empresários de Brasília precisam se aproveitar do fato de que a cidade é a sede do governo e abriga todas as embaixadas e os organismos internacionais aqui acreditados e isso facilita os contatos pois não é necessário nenhum deslocamento. Posso assegurar que o embaixador do meu país, o Senegal, Fodé Seck, vê a ideia com grande simpatia e vai se empenhar para que seus colegas prestigiem o evento. Afinal, todos eles acreditam que não há motivo para persistir o quadro atual em que o comércio entre o DF e a África é praticamente nulo”.

 

DF ainda não descobriu a África

A verdade é que o Distrito Federal ainda não tomou nenhuma iniciativa visando inserir a África no radar de seu comércio internacional. E os números são realmente desanimadores. Segundo informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em 2009, nenhum país africano figurou entre os 15 maiores países clientes do DF no exterior.

 

Em termos de exportações pelo DF, Angola foi o primeiro país a aparecer na relação, ocupando um modesto décimo-sexto lugar, com importações de produtos brasilienses de pouco mais de US$ 1,4 milhão. Outros países africanos, Moçambique e Mauritânia ocuparam, respectivamente, o vigésimo-terceiro e vigésimo-sexto postos no ranking dos principais clientes do DF no exterior. Ano passado, Moçambique importou do DF pouco mais de US$ 572 mil e a Mauritânia adquiriu apenas US$ 226 mil em produtos brasilienses.

 

No que diz respeito às exportações africanas, o panorama é ainda muito mais desolador: ano passado, nenhum país africano apareceu na relação dos 30 principais exportadores para o Distrito Federal.

 

Para o professor Mansour Drame, esse é um panorama que pode ser modificado. E, em sua opinião, o encontro dos embaixadores com os empresários locais pode ser o primeiro passo nessa direção: “este será, sem dúvida, um passo importante. Na sequência poderão ser organizadas missões empresariais do DF aos países africanos. Ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou mais uma visita ao continente africano e esteve acompanhado por uma comitiva de mais de 200 empresários de todo o país, do DF inclusive. Falou-se muito de negócios, mas pouco se concretizou. No caso específico do Distrito Federal, nada aconteceu. Falta dar continuidade aos contatos, transformar intenções em negócios concretos”.

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