Renan Rossi (*)
Moeda forte é sinônimo de economia forte. Normalmente, aceita em todo o mundo, possui taxa de câmbio estável e está diretamente ligada a poder de compra. É também considerada um tipo de investimento. Moeda forte representa soberania, posicionamento. A linguagem que o mundo todo entende não é um idioma, é o dinheiro, um meio universal de troca.
Estima-se que todo o dinheiro do mundo é o acumulado de 60 trilhões de dólares. O curioso é que cerca de 90% de todo esse montante existe apenas em servidores de computador. A disposição das pessoas em trocar bens e serviços por dados eletrônicos pode representar a tendência da substituição de moedas brilhantes e cédulas coloridas.
Seguindo esse caminho, o Banco Central da China já iniciou testes para sua nova moeda digital. O Yuan digital, ou e-RMB, deve tornar os pagamentos digitais mais fáceis e rápidos no país. A China já vinha trabalhando nesse projeto há alguns anos e, mesmo em meio ao caos gerado pela pandemia do coronavírus, o país asiático revelou que o projeto não foi interrompido, ao contrário, está avançado. Em algumas cidades, inclusive, servidores públicos passarão a receber salários através da nova moeda digital.
O e-RMB é uma moeda digital centralizada, em que bits são transferidos na mesma base de dados, sob controle de uma instituição, o Banco Central da China, que terá controle de emissão, transferência e uso da moeda digital.
O objetivo do e-RMB é também internacionalizar o Yuan. A Revista Forbes descreveu a nova moeda digital chinesa como pesadelo do dólar. Ainda é muito cedo para qualquer tipo de especulação a respeito de uma eventual decadência do Dólar, muito embora a moeda americana venha perdendo território e a preferência como reserva global dos bancos centrais desde o ataque as Torres Gêmeas nos Estados Unidos, em setembro de 2001.
Com o objetivo de internacionalizar o e-RMB, os chineses podem obrigar grandes parceiros comerciais a usá-la em exchanges ao invés do Dólar, já que pretendem torná-la mais forte e valorizada no mercado internacional. Hoje, com 1 Dólar compra-se 7 Yuan. A expectativa da China é diminuir essa paridade.
A construção da hegemonia americana sobre o restante do mundo ocorreu durante a primeira guerra mundial. São em momentos de forte turbulência internacional que peças trocam de posição. É fato que a nova moeda chinesa ainda está muito longe de desbancar o Dólar americano e, talvez, nunca desbanque, mas em meio a uma pandemia internacional sem precedentes, o termômetro da guerra fria entre Estados Unidos e China pode estar subindo alguns graus.
(*) Renan Rossi Diez. Diretor na Intervip Comércio Exterior. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas; Pós-Graduado em Administração de Empresas e MBA em Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela IBE-FGV Campinas. Autor do livro Minuto Comex. Contato: renan@portalintervip.com.br