São Paulo – À medida que as principais economias do mundo continuam a favorecer a desglobalização e o investimento regional em detrimento da cooperação internacional, a tendência do ano passado para o nearshoring parece destinada a continuar em ritmo acelerado.
O nearshoring, ou a prática de empresas multinacionais investirem e realocarem fábricas e escritórios para países que são tanto geográfica quanto culturalmente mais próximos, até agora beneficiou, principalmente o México, através da sua fronteira com os Estados Unidos, e países do Leste Europeu, como a Polônia, ganharem aumento de investimentos da União Europeia.
No entanto, à medida que a procura por nearshoring continua a crescer, a América Latina está surgindo como um destino desejado para as multinacionais em 2024, com uma pesquisa recente da KPMG mostrando que o México, o Brasil e a Costa Rica são os atuais favoritos para investimento e realocação.
“Não são apenas os fusos horários compartilhados e a proximidade geográfica com os Estados Unidos que os países latino-americanos têm a seu favor”, comenta Jaime Bustamante, Desenvolvedor Regional de Negócios da Mauve Group na América Latina. “Cada vez mais, eles estão sendo escolhidos por conta das suas forças de trabalho competentes e altamente qualificadas, além dos ambientes de negócios favoráveis.”
Um relatório recente do Banco Mundial também argumentou que o ambiente macroeconômico latino-americano como um todo mostrou resiliência diante do estresse financeiro, inflação e crescente incerteza global.
Em setembro do ano passado, a Bloomberg noticiou que o nearshoring poderia gerar mais de US$ 78 bilhões apenas para as exportações latino-americanas. Embora metade deste montante seja destinado ao México, o Brasil, a Colômbia e a Argentina também deverão ser beneficiados.
O artigo cita a transferência do centro de fabricação de máquinas de lavar Whirlpool da China para a Argentina como um excelente exemplo de uma tendência que deverá crescer a uma taxa anual composta (CAGR) de 10,3% nos próximos três anos, de acordo com a Deloitte.
“O ano de 2024 está cheio de incertezas, mas é justamente nesse momento que a América Latina pode prosperar se tomar a iniciativa”, continua Jaime. “O México deve ter uma transição tranquila para um novo presidente que continuará a abrir o país para o comércio e a integração regional; o Brasil até agora se beneficiou de um mandato mais moderado no terceiro governo Lula, incluindo uma reforma tributária favorável aos negócios; e se a Argentina surpreender com medidas políticas sensatas e não dolorosas, então o continente pode se posicionar cada vez mais como um refúgio do ponto de vista geopolítico e comercial.”
O especialista cita o sucesso do México como um modelo do qual outros países, tanto grandes como pequenos, podem aprender. O país tem investido pesado em indústrias de alta tecnologia, infraestrutura, além de fechar acordos comerciais importantes com parceiros regionais e estratégicos. Embora tradicionalmente uma economia industrial, o México e outros países latino-americanos estão sendo cada vez mais alvos das suas indústrias de conhecimento, como TI e serviços financeiros, que também se beneficiam de uma força de trabalho cada vez mais educada e qualificada.
“Um estudo recente da Ipsos e da Câmara de Comércio dos EUA revelou que em 2024 há uma janela de oportunidades significativa para o nearshoring nas Américas. Mais de um quarto das empresas (28%) que fabricam atualmente na Ásia planejam sair da região nos próximos cinco anos. Além disso, empresas que ainda não produzem no México (14%), América do Sul (11%) ou América Central e Caribe (6%) expressaram planos de se mudar para essas áreas durante o mesmo período de tempo.”
Jaime conclui que se a região continuar concentrada em melhorar a infraestrutura, reduzir a desigualdade, criar ambientes de negócios e de produção ideais, além de aproveitar ao máximo do nearshoring, investir em energia verde e extrair minerais de forma sustentável, então, 2024 poderá ser o ano em que a América Latina se torna a próxima história de sucesso econômico global.