José Augusto de Castro, presidente da AEB / Divulgação

México supera o Brasil ao explorar potencial do nearshoring no comércio com os EUA

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Da Redação

Brasília – A falta de produtos com preços competitivos no mercado internacional tem feito o Brasil perder oportunidades oferecidas pelo nearshoring (prática de negócios na qual uma empresa contrata serviços ou estabelece parcerias em países próximos geograficamente)  nas exportações para os Estados Unidos, ao contrário do Mèxico, que é bastante competitivo no mercado americano e no ano passado superou a China como principal parceiro comercial dos Estados Unidos, explorando ao máximo as possibilidades de negócios geradas pela proximidade com o gigantesco mercado americano.

Segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, “nos últimos anos, as exportações mexicanas para os Estados Unidos cresceram bastante, explorando oportunidades surgidas com o vácuo deixado pela contração nas importações de produtos da China. No ano passado, o México figurou como maior parceiro comercial dos americanos, exportando sobretudo produtos manufaturados para o país vizinho em condições bastante competitivas”.

Brasil perde mercados para a China e o México

Nesse contexto, o Brasil vem perdendo participação de mercado não apenas em relação aos Estados Unidos, conforme destaca o dirigente da AEB: “é perceptível a presença crescente do México nas exportações para países como a Colômbia, Chile, Peru e Argentina, que estiveram tradicionalmente sob a influência brasileira e agora compartilham seus mercados com as exportadoras mexicanas. Dessa forma, o Brasil está perdendo espaços na América do Sul não apenas para a China {principal parceiro comercial de todos os países sul-americanos em 2023, à exceção da Argentina} mas também para o México”.

Na percepção do presidente da AEB, essa é uma situação que não vai mudar em curto prazo, “porque o Brasil tem custos de produção bastante elevados e que não vão mudar de uma hora para outra. Nossa esperança era de que com a aprovação da reforma tributária pudéssemos ter novidades em matéria de redução de custos, mas até agora não tivemos nenhuma novidade e nem sabemos quando vamos ter e, enquanto isso, nossos produtos manufaturados seguem pouco competitivos no mercado internacional. A verdade é que estamos sendo engolidos por países como o México, sem que possamos fazer algo para enfrentar essa situação”.

Segundo o executivo, “a reforma que temos é a possível. Só que essa reforma possível ameniza, mas não resolve o nosso problema. Continuamos a meia bomba em termos de competitividade. Não conseguimos competir com ninguém devido à falta de preços. Quando vemos que o México começa a ocupar espaços do Brasil é porque alguma coisa está errada. Não porque o México esteja errado. O México sempre reclamou que exportava apenas petróleo para os EUA e agora inverteu essa situação. Continua exportando petróleo e agregou uma série de produtos manufaturados à pauta exportadora para o mercado americano”.

Jose Augusto de Castro sublinha que o panorama relativo às exportações brasileiras de bens industrializados só não é pior porque o país exporta manufaturados em volume relevante para os Estados Unidos e para a Europa, mas ressalta que essas exportações são feitas através das matrizes e filiais americanas e europeias instaladas no Brasil: “é o chamado comércio entre companhias. Enquanto tivermos matrizes e filiais dessas empresas no país seguiremos exportando para esses mercados. O mesmo não acontece com relação à China {para quem o Brasil exporta quase que exclusivamente commodities agrícolas e minerais}, que não tem filiais de suas grandes companhias instaladas no país. Essa é uma realidade da qual não temos como fugir enquanto não conseguirmos reduzir os custos dos nossos produtos”.

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