Língua como estratégia na negociação internacional

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Demonstrar interesse sincero pela cultura do interlocutor estrangeiro pode render bons negócios

Rodrigo Solano (*)

As disciplinas que tratam direta ou indiretamente de línguas são muitas. Contudo, pensando em negócios internacionais podemos citar Lacan, uma vez que a psicanálise e a linguística possuem uma ampla intersecção que interessa muito a quem quer causar uma boa impressão com seu interlocutor estrangeiro.

“A experiência psicanalítica descobriu no homem o imperativo do verbo e a lei que o formou à sua imagem. Ela maneja a função poética da linguagem para dar ao desejo dele sua mediação simbólica.” (LACAN, Escritos, 1995 [1966], p. 323)

Trocando em miúdos, o verbo e a lei a que se refere o psicanalista francês, de forma simplificada, correspondem à língua e à cultura que influenciam a maneira que os indivíduos pensam e percebem o mundo. Ou seja, a língua está entre os aspectos mais íntimos e prezados pelas pessoas, já que faz parte de suas identidades.

Para quem desenvolve negócios além-fronteiras, é imperativo que se possa comunicar pelo mundo afora, o que se faz, na maioria das vezes, através da língua inglesa, praticamente hegemônica, para a comunicação internacional, em grande parte das vezes. Tal atenção também é essencial para toda a comunicação de empresas e marcas incluindo site, embalagens, material promocional etc.

Se o nível de proficiência dos profissionais e empreendedores brasileiros na língua inglesa estaria aquém do necessário, seria uma discussão de suma importância. Todavia o que levanto aqui é a língua em sintonia com o psiquismo: aquela que interage com a intimidade dos indivíduos de diferentes culturas e que lhes soa agradável. Ela não pode ser senão sua língua materna. Nesse caso, não é necessária a fluência em diversos idiomas, mas um breve conhecimento suficiente para demonstrar interesse sincero pelo interlocutor.

São vários os exemplos de demonstram a relação dos indivíduos com as línguas. Num ponto antagônico a quem fala a língua materna estaria o termo “bárbaro”, usado pelos gregos antigos para descrever quem não falava sua língua. Sinônimos ou quase sinônimos são encontrados em diversas culturas como म्लेच्छ “mletcha” na Índia antiga e “tapuia”, termo usado pelos tupis, no Brasil colonial, para se referir aos demais povos originários que não falavam sua língua.

Esses são alguns dos indícios de que línguas desconhecidas podem despertar sentimentos contrários ao que faz a língua materna, variando, em muitos casos, entre a apatia e o estranhamento ou, em hipóteses extremas até a aversão.

Por exemplo, se fôssemos recebidos num país qualquer com o termo “kalhirét raduv mineys” (em Allamej, uma língua artificial, como exemplo, para não criar conotação negativa aos idiomas existentes) não entenderíamos, poderíamos nos sentir deslocados, ou até mal atendidos.

Crédito pela imagem: Rodrigo Solano

Já se fôssemos recebidos com um “Welcome to my country”, é possível que a sensação melhorasse. Mas o termo correspondente, pronunciado em português, “Bem-vindos ao meu país”, teria maior possibilidade de criar empatia imediata com brasileiros e outros indivíduos lusófonos. Se a abordagem ocorresse num país longínquo, é provável que surpreendesse muito.

O mesmo ocorre com os nossos potenciais parceiros comerciais estrangeiros. Uma abordagem em português, para eles, pode soar estranha. Em inglês já melhora bastante. Mas ao estudarmos alguns termos da língua de nosso interlocutor bem como sua cultura para iniciar uma conversa pode criar um ambiente positivo para a tratativa de negócios.

Atualmente existem diversas literaturas à disposição e, com um bom filtro, fontes confiáveis na internet para adquirirmos um conhecimento linguístico-cultural antes de um primeiro contato com nosso público estrangeiro.

Trabalhando há mais de 20 anos com internacionalização e observando os aspectos que resumi aqui, escrevi um manual étnico-linguístico para apoiar empresários e profissionais brasileiros na sua comunicação introdutória com o público estrangeiro. Deixo a versão kindle do livro “Usando a língua para conquistar” gratuito no dia da publicação desse artigo.

Link: https://thinkglobal.com.br/lingua-conquistar

Ele possui mais de 100 termos básicos em mais de 20 línguas com método de pronúncia exclusivo, além de explicar aspectos linguístico-culturais que nos ajudam a perceber diferenças entre povos como japoneses e chineses, turcos e árabes, por exemplo. De tempos em tempos, ofereço a mesma gratuitamente através das minhas redes sociais.

Além disso, há vários canais no YouTube que ensinam termos essenciais de uma vasta gama de idiomas. Vale a pena acessá-los antes de uma abordagem comercial internacional. Afinal, se usar termos da língua materna de nosso interlocutor estrangeiro pode causar um efeito positivo na comunicação, por que não fazê-lo?

(*) Rodrigo Solano – Professor e Especialista em Comunicação e Marketing Internacional – Think Global

www.thinkglobal.com.br | www.linkedin.com/in/rodrigosolano | Instagram: @tgintercultural

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