Michel Alaby (*)
Com a iminente queda na produção de alimentos no mundo, prevista para os próximos dez anos, a expectativa para o comércio exterior do Brasil é bem positiva. O país pode assumir sua condição de celeiro do mundo aumentando as exportações em quantidade de grãos, proteínas e outros itens e, o mais importante, adicionando iguarias com valor agregado, tornando-se ainda mais competitivo no mercado internacional e gerando renda e empregos qualificados internamente.
Em 2023, o Brasil produziu mais de 330 milhões de toneladas de cereais, com o milho se destacando. Após obter safras recordes nos últimos anos, o país registrará aumentos significativos na produção e na participação da demanda mundial de cereais, como milho, café e açúcar, além do etanol.
As previsões fazem parte do relatório de perspectivas da Organização para Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para o período de 2023 a 2032.
A demanda por arroz, alimento consumido por mais da metade da população mundial, deve crescer 17% no comércio mundial – principalmente nos países asiáticos. O comércio mundial de grãos deve subir para 530 bilhões de toneladas em 2032, uma evolução anual de 1,3%.
O relatório ainda ressalta os riscos presentes para a produção e o comércio, entre eles, a guerra entre Rússia e Ucrânia. Os efeitos do conflito ameaçam, inclusive, a segurança alimentar, já que ambos são grandes produtores de grãos e sofrem com o bloqueio dos portos ucranianos. Paralelamente ao confronto no Leste Europeu, há a guerra entre Israel e o Hamas, que desencadeou ataques dos rebeldes Yuthis, do Yemen, a navios cargueiros de Israel, Estados Unidos e Reino Unido.
A tensão ameaça o tráfego marítimo do Mar Vermelho e do Golfo do Yemen, trazendo problemas para o escoamento de produtos. A alternativa utilizada via África do Sul – pelo Cabo da Boa Esperança -, aumenta o tempo de entrega em, aproximadamente, 15 a 20 dias, e encarece o transporte. O risco de ataques piratas faz com que as companhias marítimas cobrem sobretaxas e aumentem os seguros de maneira considerável.
Segundo o estudo da OCDE e FAO, no setor de proteínas, do qual o Brasil tem grande participação no mercado global, o consumo per capita de produtos não deverá crescer mais do que 1%. A previsão é que os consumidores – principalmente de países desenvolvidos – vão passar a preferir a carne de frango em detrimento de outras proteínas animais.
A motivação é ambiental, para evitar aumento do efeito estufa na criação do gado bovino e o desmatamento para a pastagem dos animais. Estima-se uma alta de 12% na compra de frango nos próximos anos, acima dos 8% da carne bovina e 6% da carne suína. Mesmo com essa mudança no comportamento dos consumidores, o Brasil deve manter a participação mundial de 20% na exportação mundial de proteínas.
Ainda que em ritmo menor do que o da última década, a China continuará dependendo do mercado exterior, conforme indica o levantamento. Outros países asiáticos e do Oriente Médio continuam em curva ascendente da necessidade de importação de alimentos para garantir a segurança e a sanidade alimentar para a população.
Diante das oportunidades expostas, cabe ao Brasil fazer seu dever de casa e se credenciar como protagonista nesse novo mercado. A recente promulgação da Reforma Tributária foi um importante avanço, mesmo considerando o extenso calendário para sua implantação gradual. Em relação à infraestrutura, os entraves são reais e perversos. Destaco a logística interna como um dos maiores problemas, já que depende quase unicamente de rodovias.
A viabilização de projetos como a Ferrogrão, por exemplo, é fundamental para explorar todo o nosso potencial exportador. O país precisa urgentemente diversificar seus modais, assim como, investir em tecnologia e inovação para otimizar todo o sistema de transporte e logística.
Ganhar mais mercado, diversificar os produtos e serviços exportados, incluindo na pauta uma gama de itens de alto valor agregado, impulsionando a economia nacional, posicionará o Brasil no patamar dos grandes players do comércio internacional. Não se trata de sonho, mas de atitude. As oportunidades já surgem no horizonte.
(*) Michel Alaby é diretor regional em São Paulo da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra)