Natal – O local mais distante a que as frutas produzidas pelas 93 famílias dos assentamentos Fazenda Paz e Nova Dimensão – localizadas nos municípios de Maxaranguape e Rio do Fogo, respectivamente – conseguiram chegar foi São Paulo. Levar a comercialização para além das fronteiras nacionais era um sonho que parecia difícil de ser concretizado. Mas, neste início de ano, uma notícia baniu qualquer sombra de pessimismo que ainda existisse entre os pequenos produtores integrantes da Cooperativa de Agricultores dos Frutos da Paz (Cooapaz) acerca de uma possível exportação dos produtos. A entidade conquistou a certificação em comércio justo para vender no exterior abacaxi, coco e limão a valores diferenciados e ainda receber bônus em dinheiro para melhorar as condições de vida na comunidade.
Com esse selo, o Rio Grande do Norte passa a ter quatro tipos de frutas que podem ser enviadas para o mercado internacional. O melão cultivado na comunidade de Pau Branco (Mossoró) também tem o mesmo certificado.
A certificação foi concedida pela instituição alemã Fairtrade Labelling Organizations (Flo-Cert) – Certification for Development (Certificação para o Desenvolvimento, em português). O processo durou oito meses. Com o apoio e a consultoria do Sebrae no Rio Grande do norte, a cooperativa se preparou para cumprir as exigências que essa modalidade de comércio impõe. Para entrar nesse sistema, os produtores devem se organizar em associações, adotar um processo democrático de decisões, manter ter igualdade entre homens e mulheres, respeitar as leis trabalhistas e o meio ambiente.
Preço mínimo
Já as empresas que compram pelo sistema de Comércio Justo se comprometem a adquirir matérias-primas certificadas e a pagar um preço mínimo para possibilitar a produção. As empresas ainda devem pagar bônus para investimentos em projetos sociais e fechar contratos a longo prazo com os agricultores.
“Nosso trabalho naturalmente já segue os preceitos exigidos pelo comércio justo e solidário. Temos como princípio produtivo o beneficiamento das famílias envolvidas. Sempre tivemos o desejo de exportar e agora as condições estão mais favoráveis”, ressaltou o presidente da Cooapaz, José Manoel do Nascimento, ao receber o certificado. No total, os dois assentamentos somam 120 hectares de cultivo, dos quais 100 são dedicados ao plantio de frutas. Na área restante, a produção é voltada para a subsistência das famílias assentadas, com o cultivo de feijão, hortaliças, jerimum, macaxeira e batata doce.
Das frutas, as mais competitivas são o mamão papaia, abacaxi, coco e limão. Mensalmente, são produzidas 80 toneladas de abacaxi, das quais a metade vai para o mercado paulista. As demais frutas são comercializadas no Rio Grande do Norte e, no caso do mamão, em estados vizinhos. Isso garante um faturamento de R$ 1,1 milhão por ano. Com a certificação, esse montante poderá crescer significativamente.
“Os preços de produtos certificados normalmente ficam na faixa de 10 a 20% acima dos produtos não certificados. Essa diferenciação é para garantir um prêmio social. O consumidor estará pagando mais para ter produtos certificados, sabendo que este valor adicional será entregue à cooperativa para ser investidos em projetos sociais na comunidade”, explicou o consultor Naji Harb, que acompanhou o processo de certificação da Cooapaz.
De acordo com Harb, o Estado é pioneiro na certificação dessas três frutas. Naji Harb acredita que o mercado inglês será o principal comprador dos gêneros. “Para frutas frescas certificadas no sistema Fairtrade, a Inglaterra é o maior mercado. O volume de compra dos outros países europeus ainda é muito pequeno. O foco deles é no café, sucos e produtos processados. Outra vantagem é a aproximação do Sebrae no Rio Grande do Norte da Fundação Fairtrade da Inglaterra, que ajuda muito neste processo”, ponderou o consultor.
Perspectivas
Para o diretor técnico do Sebrae /RN, João Hélio Cavalcanti, a certificação da cooperativa reflete o grau de organização do trabalho desenvolvido pela entidade. “Essa certificação foi um desafio estabelecido pelo Sebrae e prova a competência do nosso corpo técnico para apoiar os pequenos negócios. A empresa certificadora é muito exigente dentro dos critérios. Se já é difícil para uma empresa conseguir esse certificado, imagine para um assentamento”.
Segundo o diretor, o Comércio Justo é uma alternativa viável para grupos de pequenos produtores e apoiá-lo está dentro da missão institucional do Sebrae. “É importante para o Rio Grande do Norte ter cooperativas certificadas em Comércio Justo. Isso abre novas perspectivas de desenvolvimento, já que a cooperativa teve de se adequar aos padrões internacionais.”
A Cooapaz ainda não tem nenhum acordo comercial com empresas estrangeiras, já que o título só foi aprovado no final de dezembro. No entanto, a cooperativa participará de rodadas de negócios promovidas pelo Sebrae voltadas exclusivamente para o segmento de Fair Trade. A certificação da Cooapaz é válida por um ano, e ao fim desse prazo será feita uma nova auditoria. A cooperativa é assistida pelo Sebrae desde sua abertura, há mais de dois anos, e vem participando do projeto de Fruticultura e do Território do Mato Grande.
Mel e Castanha
Outros itens importantes da pauta de exportação do Rio Grande do Norte serão certificados em Comércio Justo e solidário em 2011. O Sebrae espera ainda no primeiro semestre do ano contar com a castanha de caju – cuja certificação foi atestada no dia 1º deste mês – produzida na comunidade de Novos Pingo, na cidade de Assu, e o mel obtido na região de Serra do Mel nas rodadas de negócio do segmento de Fair Trade. Técnicos do Sebrae/RN acompanham cooperativas instaladas nas duas localidades para que esses produtos tenham a certificação e passem a ser comercializados fora do Brasil com preços mais justos e competitivos.
Fonte: Agência Sebrae no Rio Grande do Norte