Exportações em declínio devem levar o comércio bilateral com a África a deficit histórico em 2014

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Da Redação

Brasília – O Brasil deverá fechar o ano de 2014 amargando um deficit histórico no intercâmbio comercial com os países da África, podendo superar, com ampla margem, o saldo negativo registrado em 2012, no montante de US$ 3,211 bilhões. Este ano, de janeiro a maio, a balança comercial bilateral é favorável aos africanos em US$ 2,702 bilhões, cifra bastante superior ao deficit apurado em todo o ano de 2013, da ordem de US$ 1,844 bilhão.

De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o saldo negativo com os países africanos elevou-se nos cinco primeiros meses deste ano a uma taxa de 13,30%, passando de US$ 2,385 bilhões no período janeiro-maio de 2013 para US$ 2,702 bilhões em igual período deste ano.

No período, as exportações brasileiras somaram US$ 3,714 bilhões (contra US$ 4,336 bilhões exportados para os africanos em igual período do ano passado), enquanto as vendas africanas para o Brasil totalizaram US$ 6,7417 bilhões (ante US$ 6,721 bilhões exportados nos cinco primeiros meses do ano passado).

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do MDIC mostram que as exportações brasileiras para os países africanos vêm caindo desde 2011, quando atingiram o nível máximo  com vendas no total de US$ 12,224 bilhões. Em 2013, as exportações brasileiras para a África caíram para US$ 11,087 bilhões. Nos cinco primeiros meses de 2014, a queda foi ainda mais acentuada, atingindo percentual superior a 17%. O destaque nessa curva descendente das exportações fica por conta da queda expressiva nas vendas de produtos alimentícios, barras de ferro e aço e também de veículos.

Segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, “apesar da maciça promoção comercial realizada pelo governo brasileiro na África, da abertura de diversas embaixadas brasileiras no continente africano durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda não estamos aproveitando as oportunidades geradas na região. A África não possui uma indústria forte e é um importante importador de manufaturados. Mas as necessidades do continente estão sendo supridas pelos chineses, que conquistam cada vez mais espaços que poderiam ser perfeitamente explorados pela indústria brasileira”.

Apesar do tratamento preferencial dispensado à África pelo governo Lula da Silva, que durante seus dois mandatos abriu 19 embaixadas e realizou 33 viagens ao continente, a participação africana no volume global das exportações brasileiras ainda é bastante modesto e vive fase de declínio acentuado. Em 2013, as vendas para os países africanos corresponderam a  4,58% de todo o volume exportado pelo País, percentual inferior aos 5,68% registrados em 2009.

Na visão de especialistas em comércio exterior, o chamado “custo Brasil”e os gargalos existentes no sistema brasileiro de logística são os principais obstáculos ao crescimento do intercâmbio bilateral, fazendo com que o Brasil deixe de explorar as oportundiades de negócios criadas pelo crescimento acelerado dos países africanos nos últimos anos.

Para José Augusto de Castro, “se você tem um produto caro com logística cara, vai ter exportações supercaras”. O presidente da AEB ressalta que “o grande crescimento das exportações para o continente africano nos últimos anos foi provocado, principalmente, pelas empreiteiras que ganharam contratos para obras de infraestrutura e, devido ao financiamento às exportações, levaram consigo equipamentos e serviços”.

Exportações em queda

Os números relativos às exportações brasileiras para a África no período janeiro-maio não são animadores. Se em seu conjunto as vendas à região registraram uma queda de mais de 17%, em relação a vários dos principais produtos integrantes dessa pauta o declínio foi ainda mais acentuado.

Foi o que aconeteceu, por exemplo, com as exportações de açúcar, que passaram de US$ 1,537 bilhão exportado nos cinco primeiros meses de 2013 para US$ 1,058 bilhão em igual período deste ano (queda de mais de 33%). Ao mesmo tempo, as exportações de carne bovina caíram de US$ 252 milhões para US$ 169 milhões (-49,48%) e as vendas de minério de ferro despencaram de US$ 241 milhões de janeiro a maio do ano passado para US$ 195 milhões nos cinco primeiros meses deste ano (retração de 18,84%).

Mas se as vendas brasileiras apresentaram no período janeiro-maio quedas significativas, as exportações africanas para o Brasil, salvo raras exceções, decresceram de forma muito mais acentuada. No caso das exportações de petróleo, por exemplo, que atingiram um volume recorde de US$ 12,095 bilhões de janeiro a maio de 2013 e em igual período deste ano despencaram para US$ 3,986 bilhões, a queda atingiu o patamar de 67,05%.

Igualmente forte foi a redução das exportações de naftas para petroquímica, que desabaram de US$ 1,931 bilhão para US 922 milhões este ano, ou as vendas de didrogeno-ortofosfato de amônio, que foram reduzidas em mais de 80%, declinando de US$ 653 milhões em 2013 para US$ 130 milhões de janeiro a maio deste ano.

As exceçoes nesse panorama marcadamente declinante ficaram por conta das exportações de naftas exceto para petroquímica (com aumento de  202,75%, saltando de US$ 41 milhões em 2013 para US$ 124 milhões nos cinco primeiros meses deste ano) e cacau, cujas vendas cresceram 115,65% e totalizaram US$ 89 milhões este ano contra US$ 41 milhões em 2013.

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