Brasília (Comex-DF) – As exportações brasileiras de couros, em 2009, somaram US$ 1,16 bilhão, receita 38% menor em relação a 2008, quando o setor movimentou US$ 1,88 bilhão, segundo dados elaborados pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), com base no balanço da Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
A despeito da redução dos embarques, as vendas de dezembro alcançaram US$ 132,45 milhões, receita 38% superior ao mesmo mês de 2008 e 15% maior do que novembro último. De janeiro a dezembro de 2009, os couros representaram 0,8% de todos os produtos brasileiros exportados.
A queda nas vendas externas foi originada pela crise econômica mundial que eclodiu no último trimestre de 2008, impactando severamente a indústria curtidora com a redução na demanda e nos preços do produto brasileiro.
“Além da crise que castigou as exportações dos curtumes brasileiros nos doze meses de 2009, outro fator que comprometeu a nossa competitividade no mercado internacional foi, sem dúvida, a valorização do real frente ao dólar”, salienta o presidente do CICB, Wolfgang Goerlich.
Conforme lembra o executivo, a sobrevalorização da moeda brasileira no ano passado registrou uma variação recorde de 33,91% frente ao dólar, moeda utilizada pelos exportadores brasileiros. Em sua opinião, como não há perspectiva de mudança do câmbio no curto prazo, todas as exportações brasileiras de produtos nacionais estão comprometidas.
“Para amenizar o efeito cambial e dar suporte para que a indústria possa retomar a competitividade, esperamos uma redução na carga tributária e mais facilidades de crédito, uma vez que as possibilidades de aumentar a produtividade estão esgotadas e são insuficientes para a saída da crise”, explica o presidente do CICB.
Também comprometeram o desempenho do setor curtidor outros fatores como as altas taxas de juros, excessiva burocracia, precariedade do sistema de infra-estrutura e, principalmente, a falta de capital de giro para as empresas curtidoras e o alto custo financeiro.
Para atenuar o quadro de dificuldades, o executivo considera fundamental a criação de linhas de créditos para capital de giro pelo Banco do Brasil e BNDES, a adequação de prazos e encargos de ACC (Adiantamento sobre Contrato de Câmbio), a reedição do REVITALIZA, além de agilização nos ressarcimentos de créditos de exportação e autorização da compensação automática de créditos fiscais.
As projeções de Goerlich para 2010 em relação às exportações apontam movimentação de US$ 1,4 bilhão, o que significaria um aumento de 27%, “mas ainda abaixo do patamar das nossas exportações de US$ 2,2 bilhões registrados em 2007″, lembra ele. Também estamos desenvolvendo esforços e aumentamos a nossa participação no mercado doméstico, algo em torno de 40% no ano passado”, explica o presidente do CICB.
Já no âmbito internacional, várias ações foram desenvolvidas por meio do convênio entre o CICB e a ApexBrasil – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, para estimular as exportações do couro brasileiro no mercado mundial.
Como exemplo destas ações para minorar os efeitos da crise, o executivo cita a bem sucedida campanha “Brazilian Leather” que a entidade desenvolveu nos últimos dois anos com o apoio da Apex. Lançada nas principais feiras internacionais, está sendo considerada a mais bem-sucedido iniciativa de valorização e destaque da qualidade e nobreza do couro brasileiro.
Malásia, Hungria, Paraguai, Romênia, Áustria, Suíça, Bolívia e Líbano aumentaram as importações de couro em 2009
No ano passado, os principais destinos do produto nacional foram a China e Hong Kong, ambos com US$ 413,87 milhões (35,57% de participação); Itália, com US$ 266,50 milhões (22,96% de participação); Estados Unidos, US$ 101,12 milhões (8,71%), Vietnã, com US$ 43,50 milhões (3,75%), México, US$ 37,95 milhões (3,27%), Indonésia, US$ 29,69 milhões (2,56%), Alemanha, com US$ 29,16 milhões (2,51%) e Países Baixos (Holanda), com US$ 21 milhões (1,81%).
De janeiro a dezembro de 2009, a Malásia importou US$ 10 milhões (73%), a Hungria US$ 8 milhões (86%), enquanto o Paraguai aumentou suas compras (206%), somando US$ 3,4 milhões, ao passo que a Romênia cresceu 108%, adquirindo US$ 1,88 milhão, e a Áustria aumentou em 148% suas importações, comprando US$ 301,44 mil.
Entre outros países que aumentaram as aquisições do couro brasileiro no ano passado, a Suíça foi um dos mercados de grande crescimento (254%), importando US$ 259 mil, seguido da Bolívia que cresceu 164%, totalizando US$ 228,53 mil e o Líbano (180%) que importou US$ 183 mil.
Principais estados exportadores
Pará, Piauí e Sergipe cresceram participação no mercado mundial
O balanço dos embarques de couros dos estados brasileiros nos doze meses de 2009, ante ao acumulado do ano anterior, confirma o Rio Grande do Sul como maior exportador nacional (US$ 311 milhões, 26,8% de participação e redução de 39%), seguido por São Paulo (US$ 272,22 milhões, participação de 23,45% e queda de 52%), Ceará (US$ 118,88 milhões, 10,24% e recuo de 37%) e Paraná (US$ 89,49 milhões, 7,71%, e decréscimo de 13%).
Os demais estados são Bahia (US$ 86,6 milhões), Mato Grosso (US$ 70,87 milhões), Mato Grosso do Sul (US$ 57,52 milhões), Goiás (US$ 54,82 milhões) e Minas Gerais (US$ 44,9 milhões). Cabe ressaltar o crescimento significativo no acumulado do ano das exportações do Pará (US$ 20,3 milhões e incremento de 35%), Piauí (US$ 6,77 milhões e aumento de 82%) e Sergipe (US$ 318,3 mil, 792%).
Couro movimenta PIB estimado em US$ 3,5 bilhões
O Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) é uma entidade federativa que representa, há 53 anos, cerca de 800 empresas de produção e processamento de couro. O complexo industrial emprega cerca de 50 mil pessoas, movimenta um PIB estimado em US$ 3,5 bilhões, exportou US$ 1,16 bi em 2009, contribuindo em 7% para o saldo da balança comercial brasileira. Já a cadeia produtiva do couro que abrange os setores de curtumes, calçados, componentes, máquinas e equipamentos para calçados e couros, artefatos e artigos de viagem em couro, reúne 10 mil indústrias, gera mais de 500 mil pessoas e movimenta receita superior a US$ 21 bilhões de dólares por ano.
Fonte: ASCOM – CICB (19/1/2010