Da Redação
Brasília – A pandemia de Covid-19 não provocou uma redução nas exportações dos vinhos da Região do Alentejo para o Brasil. Pelo contrário. No primeiro semestre foi registrada uma alta de 7% nas vendas em volume, aumento considerado “muito positivo”, nas atuais circunstâncias, pelo presidente da Comissão da Vitivinicultura da Região do Alentejo (CVRA), Francisco Mateus.
O dirigente da CVRA acredita que as exportações dos vinhos alentejanos para o Brasil podem aumentar ainda mais com a entrada em vigor do Acordo Mercosul-União Europeia. Para que isso aconteça, ele considera fundamental que com o tratado haja aceitação recíproca das condições e padrões em vigor nos dois blocos e uma redução imediata e não escalonadas das tarifas incidentes sobre essas exportações, entre outras medidas.

Francisco Mateus concedeu entrevista ao Comexdobrasil.com por e-mail. A íntegra da entrevista segue abaixo:
P: A região do Alentejo é líder no mercado português de vinhos e detém 37% em volume e 40% em termos de valor. O Brasil, de acordo com as estatísticas é o primeiro importador dos vinhos Alentejanos. No que se refere ao Brasil, a pandemia de Covid-19 afetou as vendas para o País? Quais são os dez principais mercados para os vinhos Alentejanos no mundo (informar os países e valores das exportações)?
R: De acordo com os Certificados de Origem emitidos pela CVRA para o Brasil a exportação no 1.º semestre aumentou 7% em volume, o que num cenário de pandemia causado pelo COVID-19, consideramos muito positivo.
O 1.º trimestre teve um aumento de 23%, mas o 2.º trimestre teve uma queda de 8%.
Envio infra um quadro com os dados dos 10 maiores mercados de exportação dos Vinhos do Alentejo (fonte Instituto Nacional de Estatística | dados de 2019).
P: A CVRA acaba de anunciar a atribuição de certificados de produção sustentável, com a criação de um selo inédito no setor. A expectativa é de que com o selo seja registrado um aumento entre 5% e 10% nas vendas dos vinhos da região. É possível projetar para o Brasil um aumento das exportações dessa ordem com a criação do selo? O selo será objeto de algum tipo de campanha de esclarecimento e visibilidade junto aos especialistas e ao público consumidor brasileiro?
R: O novo selo identifica os produtores que cumprem critérios de produção sustentável, que engloba as vertentes económica, ambiental e social em que o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo se foca, para a melhoria constante dos produtores aderentes. É portanto uma garantia quanto à forma responsável de estar no sector e no mundo, que o consumidor valoriza cada vez mais. Claro que a velocidade a que estas preocupações evoluem varia de país para país, mas acreditamos que o consumidor brasileiro, que se revela cada vez mais conhecedor de vinho, já valoriza a qualidade dos Vinhos do Alentejo e passará também a valorizar a certificação de Produção Sustentável.
Nesta área, a CVRA já fez uma apresentação sobre a Sustentabilidade do Alentejo no mercado dos EUA e o Brasil será outro dos mercados onde faremos o mesmo.
P: Em setembro do ano passado a CVRA realizou com grande sucesso eventos em cinco capitais brasileiras para promover os vinhos Alentejanos no País. Foram realizadas quatro ações: Concurso de Melhor Sommelier Vinhos do Alentejo no Brasil, Prova Anual dos Vinhos do Alentejo, Wine Festival e Wine Night? A Comissão planeta repetir esse tipo de evento promocional no Brasil em 2020 ou 2021? Como o senhor avalia os resultados obtidos com essa promoção?
R: No ano de 2019 a CVRA realizou 9 ações direcionadas para o Brasil, que foi o principal foco da nossa atividade, a par dos EUA.
Em 2020, devido ao COVID-19, o ano será necessariamente diferente e vamos privilegiar atividades online, pois consideramos essencial manter o distanciamento social.
Vamos manter o Concurso de Melhor Sommelier no Brasil, em versão online, o contínuo trabalho de Relações Públicas com os Media e a participação no evento Vinhos de Portugal no Brasil, organizado pela Globo/jornal Público/Viniportugal, que este ano terá um formato digital. Prevemos também fazer um webinar sobre a Sustentabilidade do Alentejo para especialistas, mostrando o que estamos a fazer de diferente!
Porém, não vamos realizar eventos com provas de vinho, pois implicam concentração de pessoas, socialização e serviço de vinhos, que julgamos não ser apropriado neste contexto de pandemia para os consumidores do Brasil e para os produtores do Alentejo.
Todas estas atividades promocionais contribuem para o Alentejo ganhar notoriedade junto do consumidor e importadores, melhorando os resultados nas nossas exportações, que nos últimos 5 anos, cresceram 65% em volume e 58% em valor.
Notamos que há mais produtores alentejanos a participar nos eventos, bem como mais público brasileiro, pelo que fazemos um balanço global muito positivo. Mas este trabalho é contínuo e temos de nos reposicionar de tempos a tempos, com inovação e criatividade, para não cristalizarmos.
P: Espera-se para os próximos meses o envio aos Parlamentos da União Europeia e dos 27 estados-membros da UE do texto do Acordo União Europeia Mercosul. A expectativa é de que, ao ser implementado, esse acordo de livre comércio proporcione aumentos expressivos nos fluxos de comércio entre os dois blocos. Qual é a expectativa da CVRA em relação ao acordo? O senhor acredita que o Acordo resultará em cortes expressivos nas tarifas hoje incidentes sobre as exportações dos vinhos do Alentejo para o Brasil?
R: Os nossos vinhos enfrentam, para além de taxas à entrada no mercado brasileiro, um elevado número de exigências documentais e analíticas, que dificultam o processo de exportação/importação, tornando-o moroso e caro.
Os aspectos que consideramos mais relevantes e as nossas expectativas são que o Acordo resulte em:
– Aceitação recíproca das condições e standards em vigor em cada bloco económico: União Europeia e Mercosul,
– Redução nas tarifas que são aplicadas à importação
Quanto à reciprocidade, gostaríamos que o efeito fosse imediato. Ou seja, que o Mercosul, e o Brasil em concreto, aceitem a importação, com base na documentação e certificados que são utilizados normalmente no comércio internacional. Não faz sentido que a CVRA emita um certificado de origem que é aceite nos EUA mas não no Brasil. Do mesmo modo que não faria sentido que as empresas brasileiras tivessem de apresentar um certificado específico para Portugal e outro para Espanha.
Na redução das tarifas, a expectativa é que seja imediata e sem faseamentos, isto é, que a redução seja feita de uma só vez e não ao longo de um período de anos. E, obviamente, o desejado era que as tarifas passassem a 0%.
Mas sabemos que esta parte dos Acordos é uma das mais complexas.