Jackson Campos, Diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo

Estiagem, taxação e conflitos internacionais: especialista avalia ano do Comex e projeta 2025

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O especialista em comércio exterior Jackson Campos analisa setor e aponta próximo ano como desafiador para importadores e exportadores brasileiros

Da Redação (*)

Brasília – Com o ano de 2024 chegando em sua reta final, este foi um ano cheio de altos e baixos para o comércio exterior brasileiro e mundial. Com diversos percalços geopolíticos, aumentos de preços e as mudanças climáticas afetando diretamente o transporte de cargas, os consumidores e empresários sentiram no bolso todos os problemas deste ano.

Traçando um panorama, Jackson Campos, Diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo e especialista em comércio exterior classifica 2024 como um ano conturbado para o comércio global. “Foi um ano com diversos problemas, tanto nacionais quanto internacionais, que dificultaram a vida dos agentes de carga e, consequentemente, dos empresários e brasileiros. Podemos dizer que foram doze meses desafiadores, com preços acima do normal, que escancararam os pontos que carecem de investimento no Brasil e de mais cuidado quando pensamos internacionalmente”, analisa Campos.

O conflito no Mar Vermelho, por exemplo, foi um fator que encareceu o frete de produtos internacionais durante o ano todo. Tendo se intensificado no final de 2023, os houthis continuaram atacando embarcações que tinham o Canal de Suez como objetivo, fazendo com que as cargas tivessem que dar a volta pelo sul da África para ter mais segurança, aumentando em mais de uma semana o tempo de transporte das mercadorias.

Com o conflito entre Israel e Palestina se intensificando e atingindo outros países como Irã e Líbano, a região ficou ainda mais instável e a rota mais curta entre Ásia e Europa teve que ser evitada para proteger a tripulação dos navios e as cargas que poderiam ser saqueadas pelo grupo armado do Iêmen.

“Houve uma escalada muito grande na guerra entre esses países e para as empresas de frete internacionais não havia outra solução a não ser seguir pela rota mais longa em busca de segurança. Em contrapartida, os preços por contêiner subiram muito, chegando a valores que lembraram o período de pandemia”, afirma o especialista.

Ainda falando de problemas internacionais, houve a greve nos Estados Unidos, que foi resolvida de maneira rápida para mitigar os danos que poderia ter causado, e os problemas de estiagem no Canal do Panamá que começaram em 2023 e se agravaram neste ano, causando transtorno na rota utilizada por 6% de toda a carga mundial.

Brasil

A estiagem seguiu sendo tema, mas desta vez no Rio Amazonas, que sentiu os efeitos de uma seca histórica. Com o baixo nível do rio, uma taxa extra começou a ser cobrada pelas transportadoras, e as empresas na Zona Franca de Manaus, em especial as montadoras, passaram a sentir no bolso os prejuízos da falta de rotas alternativas.

“A falta de investimentos em rotas alternativas no Norte do país escancarou os transtornos que as mudanças climáticas podem causar na economia. A logística brasileira ainda precisa de muito investimento para poder suportar todo o poder de exportação e importação que o país tem, é algo que o poder público precisa olhar com mais carinho”, diz Campos.

Mas a medida mais controversa do ano foi a taxação em compras internacionais de até U$ 50, a famosa “taxação das blusinhas”. Chegando até 44% do preço do produto, essa mudança atingiu o bolso dos consumidores que vinham cada vez mais se habituando a comprar mercadorias diretamente da China. Para o especialista, apesar de encarecer um pouco os produtos, essa medida ainda não valoriza o varejo brasileiro.

“Os produtos ficaram mais caros, mas ainda abaixo do que comprar localmente. Continua tendo um ótimo custo-benefício importar se você consegue esperar 15, 20 dias. Essa mudança não ajuda o varejo em quase nada, especialmente quando falamos em mix de produtos, o que a China tem de sobra. Apenas dificultou um pouco o acesso a estes itens por conta da subida no preço”, explica Jackson.

O que esperar em 2025

A menos de um mês para 2025, as previsões não são muito animadoras quando pensamos em preços de fretes internacionais, problemas com estiagem e custo de produtos. Campos explica que, por mais que a peak season esteja acabando, outros problemas não permitem que os preços caiam para níveis de anos anteriores.

“Por mais que a alta temporada esteja acabando, os problemas geopolíticos globais e as mudanças climáticas são fatores que não devem permitir uma forte queda nos preços. Podemos esperar por um ano com o frete ainda acima do normal e tudo vai depender de como estes conflitos, como da Palestina e Israel, seguem neste novo ano para sabermos se haverá razões para prever uma queda de preços”, analisa o especialista.

Outro ponto também é a falta de infraestrutura no país para armazenar e receber a quantidade de itens importados, como em Guarulhos, onde cargas ficaram espalhadas por falta de espaço.

“Questões logísticas, como rodovias, ferrovias e armazenamento merecem mais atenção do poder público e das empresas privadas. O Brasil viu seu consumo triplicar e o setor não acompanhou o crescimento completamente. A IA pode ser uma ferramenta incrível nesse sentido, agilizando processos e permitindo que o foco seja dado nos pontos mais necessários, aumentando a efetividade dos processos”, conclui Campos.

(*) Com informações da AGL Cargo

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