Brasília – Já está disponível, em formato on-line, o primeiro ciclo do Programa Elas Exportam. Fruto de parceria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), a iniciativa tem como objetivo ampliar a participação de empresas lideradas por mulheres no comércio internacional.
As instituições conectaram mulheres que já têm experiência no mercado internacional com empreendedoras interessadas em entrar no universo da exportação para trocarem experiências e aprenderem, umas com as outras, a conquistarem novos mercados. O Programa conta também com a parceria do Banco do Brasil, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Rede Mulher Empreendedora (RME).
Elas Exportam terá duração de seis meses e deverá ser repetido em ciclos futuros. Ao todo, 40 empresárias foram selecionadas para participar deste primeiro ciclo, 20 como mentoras e 20 como mentoradas. Todas elas são líderes de empresas de diferentes setores como engenharia, moda, alimentos e bebidas, artesanato, pedras preciosas e joalherias, indústria química, veículos automotivos e outros, e estão dispostas a aprender, compartilhar dúvidas e desafios, ensinar, trocar experiências e, acima de tudo, se apoiarem no universo da exportação.
“Participar do comércio exterior é algo positivo para qualquer empresa, já que elas precisam ser mais eficientes e inovadoras para prosperar no meio internacional. Estudo Secex recente comprova que empresas atuantes no comércio exterior pagam maiores salários e empregam mão de obra mais qualificada”, explicou a Diretora do Departamento de Promoção das Exportações, Cultura Exportadora e Facilitação de Comércio do MDIC, Janaina Silva, durante a abertura do primeiro dia do Programa.
Janaína reforçou ainda que o desenvolvimento de políticas públicas que aumentem a participação de mulheres no comércio exterior é não apenas justo para a redução do gap de gênero, mas também é economicamente interessante que tenhamos mais mulheres participando no nosso comércio exterior e multiplicando as externalidades positivas que ele traz.
Ao longo do processo de inscrição, foram quase 200 interessadas em participar como mentoras e 400 como mentoradas, número que surpreendeu as expectativas, visto que o programa está em sua fase piloto. A seleção foi feita após um match de setores e áreas de interesse entre as inscritas e o critério de desempate foi racial e de localização geográfica: as 20 empreendedoras selecionadas para receber mentoria são das regiões Norte e Nordeste e 75% delas são pretas ou pardas.
Isto porque, segundo Janaina Silva, o estudo “Mulheres no Comércio Exterior, Uma Análise para o Brasil”, publicado em abril deste ano, pelo MDIC, apontou que, além de apenas 14% das empresas brasileiras exportadoras serem lideradas por mulheres, estas se concentram majoritariamente nas regiões Sul e Sudeste.
“Então, além da questão de gênero, enfrentamos também a questão da concentração regional no acesso ao mercado exterior. Portanto, o Programa priorizou empresas das regiões que tiveram menos acesso aos benefícios do comércio internacional até agora”, explicou Janaina.
Segundo a diretora de Negócios da ApexBrasil, Ana Paula Repezza, “o objetivo é fazer com que mais empreendedoras vejam a exportação como um caminho possível e se beneficiem disso. A experiência de mentoria funcionou muito bem comigo e me ajudou em diversos momentos da minha carreira, quando precisei ouvir de outra mulher como fazer para superar determinados obstáculos. Eu tenho certeza de que as empreendedoras que estão participando desse Programa vão aprender muito, ensinar muito e ainda fortalecer essa rede de mulheres que querem avançar e conquistar novos mercados”, afirmou.
Mulheres empreendedoras
A Ana Carolina Macedo, sócia-executiva da Cachaça Triumpho, do sertão de Pernambuco, é uma das participantes deste primeiro ciclo do Programa. Ela conta que a pequena empresa familiar viu o potencial exportador dos seus produtos durante a tradicional feira de cachaças do Brasil em João Pessoa – PB, onde conheceu o PEIEX, o Programa de Qualificação para Exportação da ApexBrasil.
Segundo Ana Carolina, o PEIEX ativou ainda mais o desejo de exportar e, depois de participar do Programa no ano passado, a empresa seguiu empenhada em se adaptar para entrar no comércio exterior. Neste ano, além do Elas Exportam, Ana Carolina também está participando do Programa Design Export, que auxilia empresas na criação e desenvolvimento de rótulos e embalagens voltados ao mercado internacional.
“Veja nossa ousadia: uma empresa só de mulheres, que produz cachaça de qualidade na fazenda da família, localizada no sertão de Pernambuco, querendo vender para fora do Brasil. A gente sabe que não é fácil, mas é possível, principalmente com o apoio desses programas. Estou muito feliz e animada!”, celebra Ana Carolina.
A mentora da Ana Carolina no Programa será a diretora executiva da empresa Distillerie Stock do Brasil, Valéria Cristina Natal, que já tem seus produtos disponíveis em X países e em mais de um milhão de pontos de vendas em todo Brasil [JBS1] . Há três anos, a empresa Distillerie Stock do Brasil foi uma das primeiras empresas brasileiras de bebidas a entrar no e-commerce e atualmente está em fase final de inserção nos Estados Unidos.
“Estou muito orgulhosa em fazer parte desse programa de inclusão de mais mulheres empreendedoras no mercado internacional. Acho importante o compartilhamento de experiências tanto para as mentoras quanto para as mentoradas, que certamente precisam de um estímulo nessa trajetória difícil que é exportar. E as mentoras também terão oportunidade de ver outros pontos de vista, participar também dos seminários propostos pela organização do Programa, enfim, uma experiência gratificante”, afirmou Valéria.
A micro empresa Effata Bags, de Vitória da Conquista –BA, produz bolsas em couro de maneira upcycling (reutilização), autoral e feito à mão, vai participar como mentorada. Segundo a fundadora, Yasmin Oliveira, a vontade de exportar veio quando descobriu o potencial dos seus produtos ao participar de uma roda de conversa voltada para mulheres empreendedoras na secretaria econômica da cidade. Yasmin então logo procurou pelo PEIEX e está agora na fase final dos atendimentos que, segundo ela, estão sendo muito esclarecedores.
Ela disse que assim que soube do Elas Exportam se inscreveu imediatamente e está muito feliz pela oportunidade de participar. “Eu tenho grandes expectativas de que o Programa vai me auxiliar muito nesse processo de exportação e que vou aprender bastante com as experiências de outras mulheres empreendedoras”, concluiu.
Habilidades socioemocionais
Além dos encontros de mentoria entre as duplas, o Programa Elas Exportam vai oferecer às empreendedoras oficinas e seminários de capacitação técnica e também socioemocional. Durante a abertura do Programa, a Coordenadora Nacional do projeto Sebrae Delas e cofundadora da ONG Alumna Mentoria, Renata Malheiros, falou sobre a importância de as mulheres trabalharem e desenvolverem competências socioemocionais ao se prepararem para entrar no mercado internacional. “
Exportar é difícil para todos, mas as mulheres enfrentam desafios adicionais em função da nossa cultura. Isso vem mudando, mas ainda é muito enraizado o preconceito com as mulheres nesses ambientes de negócios”, explicou Renata.
Para ela, superar os medos e desenvolver a capacidade de liderar, de adquirir autoconfiança, credibilidade e espaço de fala no ambiente que costuma ser mais masculino, é fundamental. “E a melhor forma de trabalhar as competências socioemocionais é ouvir quem já passou pelas mesmas situações, conhecer suas histórias, suas conquistas e suas dicas”, completou Renata, dando já uma previa do que será aprofundado ao longo do Programa.
(*) Com informações do MDIC