Da Redação
Brasília – O Brasil precisa apoiar e não atacar a Argentina, segundo principal país de destino das exportações brasileiras de produto manufaturados. É preciso fazer o possível e o impossível para que a Argentina continue sendo um grande parceiro o Brasil. Agir na direção contrária é abrir espaços que serão cada vez mais ocupados pela China.
Estes comentários sintetizam a reação do presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, às críticas feitas pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que afirmou nesta quinta-feira (3) através das redes sociais que “a Argentina virou uma calamidade” e que “o pais foi destruído pelo governo socialista”
Segundo José Augusto de Castro, “as declarações de Eduardo Bolsonaro não ajudam em nada o nosso comércio internacional. O Brasil já tem problemas suficientes para nos debruçarmos sobre eles e tentar solucioná-los. Criar mais problemas para nós seria simplesmente levar o Brasil para outros mercados e outras situações que não gostaríamos”.
“Quando nós começamos a avaliar outros mercados de forma negativa principalmente se esses mercados são aliados nossos, estamos criando problemas para nós mesmos, nós é que vamos pagar a conta. Por mais que se diga que a Argentina vive uma crise severa, que o volume do comércio do país está em queda livre, que a Argentina já foi muito maior do que é efetivamente hoje, tudo isso nos desperta a necessidade de nos esforçarmos para ajudar a Argentina a se levantar”, afirmou.
José Augusto de Castro ressalta que “se a Argentina se recuperar economicamente, o país passará a comprar mais do Brasil e a ampliar principalmente a importação de produtos manufaturados, de maior valor agregado. Agora, se agimos de forma a gerar fatores que fazem com que a Argentina tenha queda nas importações, o país vizinho deixará de importar do Brasil e passará a comprar cada vez mais da China, que está louca para ocupar os espaços deixados pelo Brasil nesse importante mercado”
Além de mostrar preocupação com a perda de espaços para a China em um mercado no qual o Brasil historicamente ocupou a liderança, José Augusto de Castro considera imprescindível que o Brasil faça “o possível e o impossível” para que a Argentina se mantenha como um grande parceiro. E lembrou: “estamos negociando um acordo União Europeia-Mercosul e se nós alijarmos a Argentina desse acordo o Brasil também perderá porque o acordo não será firmado, pois é um acordo com o Mercosul e não isoladamente com o Brasil”.
O presidente da AEB destaca sempre a importância da Argentina como grande parceiro comercial do Brasil e lembrou que “a OMC e diversos países que são grandes players do comércio mundial já deixaram claro que este ano o fluxo de comércio entre os países vai ter uma queda em torno de15%. Ou seja, todos os países vão ter uma forte redução das exportações e importações. O comércio internacional vai diminuir. Por isso, os países estão sempre buscando gerar fatos positivos para que possam mitigar essa contração do comércio internacional. Todos os países estão adotando políticas de ajuda, no sentido de simplificar e viabilizar o aumento de suas exportações”.
Com a pandemia, tudo o que o Brasil precisa é de não criar conflitos desnecessários com seus parceiros e em especial com um sócio da relevância da Argentina. E em especial num momento tão delicado como o atual duramente marcado pela Covid-19. Segundo José Augusto de Castro “o comércio exterior do Brasil deverá ter uma queda muito forte, em torno de 18% nas importações e 13% nas exportações e isso fará com que o país regrida dez anos no comércio internacional. O que precisamos hoje é de ações e alternativa que ajudem o país a recuperar esses dez anos de uma década perdida, que não gera emprego, não gera atividade econômica, não gera nada”.