Brasília – O comércio internacional deverá sofrer uma forte queda de 13% em 2020 em consequência da pandemia de Covid-19 que afetou as economias de todo o mundo. Essa queda é “inevitável”. A avaliação foi feita hoje (4) pelo diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, em webinar promovido pela Câmara Internacional de Comércio (ICC) e Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Segundo o embaixador, no início da pandemia, a OMC trabalhava com dois cenários, um pessimista e outro ainda mais negativo. O primeiro previa uma contração de 12% nas trocas mundiais e o outro apostava numa retração muito pior, de 32%. Roberto Azevêdo afirmou que deve prevalecer o menos pior dos cenários e reiterou que “isso é pior do que na crise de 2008/2009 e pior do que isso só na Grande Depressão dos anos 30”.
Defensor incondicional da globalização e do multilateralismo, Roberto Azevêdo disse acreditar que a Covid-19 não acabará com a globalização, mas acredita que a pandemia deverá trazer profundas mudanças não apenas para as relações entre os países mas também provocará profundas transformações no comércio internacional.
Para o diretor-geral da OMC, que está prestes a deixar o cargo que ocupou durante os últimos sete anos, a globalização que será criada com o pós-pandemia terá entre outras características a reconfiguração das cadeias globais de valor, num cenário em que as corporações buscando reduzir as dependências em relação a um só insumo, região ou fornecedor.
Na avaliação de Roberto Azevêdo, “a pandemia expôs o risco de concentração da produção. As cadeias de produção serão ampliadas e o Brasil pode se aproveitar de oportunidade. Mas tem que ter competitividade”.
O diplomata não prevê num cenário próximo o fim do discurso antiglobalização. Muito pelo contrário. Para ele, “há um crescimento de frustração nas populações, sobretudo na classe média, que encontra no comércio exterior um bode expiatório para questões como o desemprego. A causa do desemprego é o avanço tecnológico, e o problema não será resolvido com ataques à globalização”.
Em sua participação no webinar da ICC em parceria com a CNI, Roberto Azevêdo destacou a importância da questão ambiental nas negociações comerciais em curso ou a serem realizadas no futuro próximo: “qualquer grande acordo mundial no futuro incluirá a questão ambiental. Até mesmo na OMC começam a falar de negociações que levam a questão ambiental em consideração. Temos que estar preparados para debater essa questão de maneira construtiva. Ela não vai desaparecer”.
Sem fazer, em nenhum momento, referência à política ambiental do governo Jair Bolsonaro, ou às críticas que o país recebe no plano externo pelo crescente desmatamento da floresta amazônica, o diretor-geral da OMC afirmou que o momento atual não é o “mais favorável” para a conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que foi aprovado pelos dois blocos em julho do ano passado e depende da ratificação do Parlamento Europeu e dos parlamentos dos estados-membros dos dois blocos para entrar em vigor.
Profundo conhecedor das negociações internacionais, Azevêdo recomendou aos negociadores que, sem perder o senso de urgência, procurem “pensar no longo prazo”, deixando claro que não acredita que o acordo birregional venha a ser aprovado pelos parlamentos europeu e dos países-membros da União Europeia.