Como terminam as pandemias

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Renan Diez (*)

Lutar contra o tempo é sempre desleal. Em um mundo cada vez mais veloz, a sensação de urgência toma conta de nossas vidas, desde pequenos detalhes até nossos maiores sonhos. Neste momento de pandemia, cientistas do mundo todo correm contra o relógio para desenvolver uma vacina eficaz. No cotidiano de nossas vidas, apostar corrida contra o tempo tem se tornado um desafio diário.

Historicamente, a medicina nos ensina que a erradicação de uma pandemia é um evento de extrema raridade. A única doença pandêmica erradicada pela humanidade foi a varíola, no ano de 1980, as outras foram apenas controladas. Não sabemos ainda qual será o tempo de duração da situação de pandemia da Covid-19, mas, a palavra ansiedade não sairá de moda, já que o senso de urgência desta geração já circula pelo mundo mais do que qualquer vírus.

O novo normal é o início de um novo ciclo, mas, em um mudo que gira cada vez mais rápido, ficamos tão atordoados com tantas mudanças acontecendo que a própria expressão “novo normal” pode até já estar velha ao final dessa pandemia. O que não cai em desuso são algumas expressões ditas no dia a dia do comércio exterior brasileiro, todas justificadas pela sensação de urgência: “a fábrica vai parar”; “acelera o navio”; “minha carga é urgente” etc.

A evolução humana na Terra é um contrassenso entre glória e mácula. É emocionante ver o avanço da medicina, é impactante as obras extraordinárias da engenharia e é maravilhoso como a tecnologia tem nos auxiliado. Hoje, um bom software facilita a vida de muitas empresas e profissionais. No comércio exterior essa evolução é percebida ao passo somos naturalmente cobrados para a entrega de resultados em uma velocidade maior a cada dia. O mundo encurtou as distâncias e isso tem que se mostrar verdadeiro na prática.

Por outro lado, nem tudo são flores. O custo de todo esse avanço não é barato e nem justo. A percepção da evolução não é vista por todos da mesma forma. Em uma situação de pandemia, normalmente, os países ricos concentram maior número de vacinas e são os primeiros a reduzir seus níveis de contágio. As pandemias escancaram desigualdades e nos mostram que ainda há muito o que evoluir.

A ciência e a história revelam que pandemias se encerram com vacinas, medidas preventivas, imunização, ou pela própria mutação do vírus. O mundo pede urgência, mas, o senso de urgência da humanidade ao longo dos últimos anos pode ter sido seriamente equivocado.

(*) Renan Rossi Diez. Diretor na Intervip Comércio Exterior. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas; Pós-Graduado em Administração de Empresas e MBA em Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela IBE-FGV Campinas. Autor do livro Minuto Comex. Contato: renan@portalintervip.com.br   

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