Comércio com países árabes cresce seis vezes entre 1989 e 2012 e ainda tem muito a aumentar

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São Paulo – A corrente comercial entre o Brasil e os países árabes cresceu mais de seis vezes entre 1989, início da série histórica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), e 2012. No ano passado, o comércio entre o Brasil e os 22 países representados pela Liga Árabe chegou a US$ 25,98 bilhões. Há 23 anos, foi de US$ 4,1 bilhões. Esse aumento foi impulsionado principalmente pela alta nas exportações brasileiras. Mesmo com o crescimento, existe espaço para ampliar os negócios.

O professor de economia internacional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Antonio Carlos Alves dos Santos, afirma que as trocas comerciais com os países da Liga Árabe foram significativas quando o Itamaraty era comandado pelo diplomata Azeredo da Silveira (1974-1979), no governo militar de Ernesto Geisel. Naquela época o Brasil importou petróleo e exportou carros ao Iraque. Depois, a troca comercial caiu e só voltou a crescer nos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011).

 “Para a diplomacia brasileira o mundo árabe nunca foi prioritário. Houve uma boa relação comercial nos anos 70, com o ministro Azeredo da Silveira e, depois, no fim do governo de Fernando Henrique Cardoso. Deslanchou no governo Lula. Mas nos últimos anos de FHC, o Itamaraty começou a ampliar a pauta de exportações do Brasil. Houve uma reaproximação por motivo essencialmente econômico. Depois Lula, no primeiro ano de mandato, foi à região”, diz Santos. Em dezembro de 2003, Lula visitou Líbia, Líbano, Síria, Emirados Árabes Unidos e Egito.

Diretor-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby também afirma que foi no governo Lula que as vendas para a região cresceram mais, mas lembra que a Câmara Árabe teve participação importante neste processo.

“Promover ações políticas e comerciais junto aos ministérios foi um trabalho desenvolvido pela Câmara Árabe. É muito claro isso. Temos que dar valor ao documento com as potencialidades da região que entregamos a Lula e dizer que a mudança da política externa brasileira em ter no mundo árabe um parceiro efetivo fez com que se alavancasse as exportações”, afirma.

No início do primeiro mandato de Lula, a entidade apresentou um levantamento sobre o potencial de crescimento do comércio com o Oriente Médio e Norte da África, se fossem realizadas ações de promoção comercial. O governo adotou o documento e deu início a uma série de iniciativas de aproximação.

Alaby diz também que a realização da Cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA) a partir de 2005 aproximou as regiões. Foram realizados encontros em Brasília em 2005, em Doha em 2009 e em Lima, no Peru, em 2012. A próxima ASPA está prevista para ser realizada na Arábia Saudita, em 2015.

Dados do MDIC mostram que entre 1989 e 2000 as exportações anuais do Brasil para a região oscilaram entre US$ 1 bilhão e US$ 1,7 bilhão, mas avançaram muito mais nos anos seguintes, saindo de US$ 2,2 bilhões em 2001 para US$ 15,1 bilhões em 2011, com uma pequena queda para US$ 14,8 bilhões em 2012.

Já as importações ganharam força a partir de 2004, quando somaram US$ 4,1 bilhões. No ano passado, as compras de produtos árabes chegaram ao recorde de US$ 11 bilhões.

 No entanto, o comércio continua baseado em commodities, apesar de algumas mudanças. Em 1989, 99,2% do total importado pelo Brasil foi petróleo e derivados. No ano passado, os hidrocarbonetos responderam por 82,1% e os fertilizantes cresceram em importância para 11,8%.

Já a pauta de exportações brasileiras se dividiu em uma quantidade maior de produtos, como carnes, açúcares, minérios, celulose e máquinas. Mesmo assim, a maior parte das remessas para a região é de commodities. Há sempre, porém, itens de alto valor agregado na pauta, como produtos de defesa, aviões e veículos.

Os principais parceiros comerciais do Brasil no Oriente Médio e Norte da África são Arábia Saudita, Argélia, Egito, Emirados Árabes Unidos e Marrocos. O principal parceiro comercial desde 1989 é a Arábia Saudita, seguida por Argélia e Egito.

Nos últimos anos, cresceram as relações comerciais com Catar, Kuwait, Emirados Árabes e Iraque. As trocas comerciais com a Líbia, que chegaram a US$ 1,7 bilhão em 2008 caíram para US$ 102,6 milhões em 2011, devido à Primavera Árabe, mas em 2012 começaram a se recuperar e atingiram US$ 423,1 milhões, tudo em exportações.

Para avançar

Diretor da comercial exportadora Pankommerz e integrante do conselho de administração da Câmara Árabe, José Farhat começou a atuar no comércio com o mundo árabe em 1974. Primeiro vendia carne e importava petróleo. “Fiz isso por 17 anos até o dia em que o Saddam Hussein (ditador iraquiano morto em 2006) invadiu o Kuwait em 1990 e parou tudo. Paralelamente, explorei mais negócios na área de alimentos”, diz. Atualmente Farhat exporta sob demanda para a região. Trabalha com café, açúcar e gado em pé.

O empresário diz que as exportações e os meios de se vender para a região evoluíram muito, mas dá para melhorar. “Podemos exportar mais gado em pé, mas depende dos acordos de protocolos sanitários entre os governos. Também é preciso encontrar novos nichos. Existe demanda por glicerol, que é um subproduto obtido do esmagamento de soja. Ainda acredito que o grande problema é o nosso empresariado, que não se prepara para exportar”, diz.

Santos, da PUC-SP, também afirma que é possível e provável que a corrente comercial com a região aumente ainda mais nos próximos anos. Isso será possível, diz o professor, porque as importações e exportações entre esses países não são concorrentes, mas complementares. Enquanto compra petróleo e fertilizantes, o Brasil exporta alimentos e máquinas.

 O professor observa que o Brasil pode fortalecer laços com países que atualmente passam pelos desdobramentos da Primavera Árabe. “O Egito, que tem uma economia grande, pode se tornar um parceiro ainda mais forte quando a Primavera Árabe se resolver. Isso pode ocorrer com a Líbia, mas neste caso a diplomacia brasileira demorou a agir na época dos distúrbios. Os países que se mostraram mais ‘amigos’ naquele período podem ser beneficiados. Mesmo assim, há empresas brasileiras que participam da reconstrução na Líbia”, diz.

Alaby acredita no aumento das exportações, mas alerta para uma forte concorrência e para a conjuntura econômica. “Com a crise, a Europa é um concorrente de peso para o Brasil nos mercados de carnes e laticínios. A China também é uma ameaça porque pode usar seu poder de barganha. Mas na área de alimentos, acredito que somos imbatíveis. Há a previsão de que até 2020 a importação de alimentos dos árabes irá aumentar dos atuais US$ 80 bilhões por ano para US$ 120 bilhões em função do crescimento deles. O Brasil tem tudo para acompanhar este ritmo”, diz.

Segundo Alaby, algumas das formas de fortalecer os laços comerciais e aumentar a corrente de comércio são reduzir impostos, fazer acordos de livre comércio, ampliar as missões comerciais, criar conselhos empresariais bilaterais e promover a proteção recíproca de investimentos.

Fonte: ANBA

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