Da Redação
Brasília – As exportações brasileiras para a Venezuela tiveram o pior mês de janeiro dos últimos anos e totalizaram US$ 150 milhões, uma queda vertiginosa de 47,66% se comparadas com US$ 287 milhões exportados para o país vizinho em igual período de 2014. A menos de uma semana do fim de fevereiro, existe uma quase certeza de que neste mês –com um número bem menor de dias úteis- as cifras serão ainda menores.
Com o agravamento da crise política, à qual se soma uma igualmente severa crise econômica potencializada pela forte retração dos preços do petróleo no mercado internacional, a Venezuela vem reduzindo drasticamente suas importações e, para completar, o país não está conseguindo pagar as faturas devidas aos seus fornecedores.
Segundo estimativa recente da Câmara de Comércio Brasil-Venezuela (Cavenbra), a dívida acumulada pela Venezuela com os exportadores brasileiros superaria a cifra de US$ 5 bilhões. Para se ter uma ideia da magnitude do atraso, basta lembrar que em todo o ano passado as exportações do Brasil para a Venezuela ficaram em torno de US$ 4,63 bilhões.
A rigor, os atrasos atingem de forma mais drástica os pagamentos das importações de produtos considerados não essenciais pelo governo de Caracas, como é o caso das autopeças, calçados, têxteis e telefones celulares, por exemplo. A quitação das faturas relativas a essas compras estão com atrasos sempre superiores a seis meses. Em prazos mais curtos estão sendo pagas as importações de alimentos e remédios.
No Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (IMDIC), a falta de pagamentos por parte da Venezuela é considerada “preocupante” mas ainda assim o tema é tratado de forma discreta e sem grande alarde. Essa postura “low profile” segue determinação do Palácio do Planalto, que evita qualquer tipo de manifestação pública mais contundente sobre a situação política e econômica no país vizinho e também sobre os problemas que o Brasil enfrenta no comércio com a Venezuela.
Comércio bilateral
Dados do MDIC mostram uma queda substantiva nas exportações de três dos principais produtos vendidos à Venezuela: carnes desossadas de bovinos, congeladas (-70,40% para US$ 18 milhões), outros animais vivos da espécie bovina (-84,21% para US$ 11 milhões) e outros bovinos vivos (-66,06% para US$ 4 milhões).
Essas quedas não foram compensadas nem mesmo por altas robustas nas exportações de produtos como aparelhos para filtrar ou depurar água (aumento de 449,89% para US$ 11 milhões), de ceifeiras-debulhadoras (elevação de 436,74% para US$ 9 milhões), de outros laminados de ferro e aço (aumento de 436,74% para US$ 6 milhões) e de 957,33% para US$ 6 milhões nas vendas de xampus para os cabelos.
Do lado venezuelano, as exportações tiveram uma queda bem menos expressiva em janeiro, de apenas 7,14%. Em rítmo muito mais intenso foram reduzidas as vendas ao Brasil de coque de petróleo não calcinado (-22,43% para US$ 3 milhões) e de ureia com teor de nitrogénio, que desabaram 84,45% e geraram receita de pouco mais de US$ 3 milhões. Os destaques positivos ficaram por conta das exportações de naftas para a petroquímica, com receita de US$ 16 milhões, e de hulha betuminosa, não aglomerada, no montante de US$ 13 milhões. Esses dois produtos não figuraram na pauta exportadora da Venezuela para o Brasil em janeiro do ano passado.