Da Redação
Brasília – As exportações brasileiras para a China tiveram uma queda de 7,5% no primeiro semestre do ano causada principalmente pela retração nas vendas de três dos cinco principais produtos embarcados para o país asiático e somaram US$ 47,864 bilhões. Segundo o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), esse foi o pior desempenho desde 2015. Apesar dessa retração, a China foi, de longe, o principal destino das vendas externas totais do país, com uma participação de 28,7% nos embarques de produtos brasileiros para o exterior.
Na outra ponta do intercâmbio bilateral, registrou-se um avanço importante nas vendas chinesas para o Brasil, que totalizaram US$ 35,692 bilhões, um aumento de 22,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Com isso, a participação chinesa nas importações brasileiras subiu para 26,3%, contra 24,2% no mesmo período do ano anterior.
Ainda de acordo com dados do CEBC, a balança comercial com os chineses ainda segue positiva para o Brasil, mas o superávit caiu para US$ 12 bilhões, o menor desde 2019 e praticamente a metade do saldo registrado no mesmo intervalo do ano passado, Apesar da queda, o superávit com a China representou 40% do saldo total alcançado pelo Brasil no primeiro semestre deste ano.
Após uma alta de 9,5% em 2025, a corrente de comércio entre os dois países subiu apenas 3,2% no primeiro semestre deste ano, totalizando US$ 83,376 bilhões, ante US$ 158,008 em todo o ano de 2024.
A queda no volume total exportado pelo Brasil deveu-se, entre outros fatores, a uma forte redução em três dos cinco principais produtos embarcados para o mercado chinês. No caso da soja, carro-chefe dos embarques, as vendas caíram 5,76% para US$ 19 bilhões, com uma perda de receita de US$ 1,16 bilhão. Mesmo com a queda, a oleaginosa respondeu por 40% das exportações totais para os chineses.
Segundo item da pauta exportadora, o petróleo em bruto registrou uma queda de 15,61%, com uma receita de US$ 9,3 bilhões (redução de US$ 1,65 bilhão sobre o período anterior), com uma participação de 19% no volume total embarcado.
As exportações brasileiras seguem fortemente concentradas em commodities, de baixo valor agregado, mas os números do comércio bilateral mostram avanços importantes em bens industrializados. Os embarques de torneiras para canalizações cresceram dez vezes (US$ 37 milhões); os embarques de dispositivos para aquecimento cresceram 20 vezes; e de aferidores de gases 35 vezes. Outro destaque foram as exportações de terras raras, com um total de US$ 6,7 milhões, mais que o triplo do volume exportado em todo o ano passado.
Em sentido inverso, os outros dois produtos que integram os destaques nas exportações para a China tiveram altas expressivas. São eles a carne bovina (alta de 27,6% para US$ 3,2 bilhões (aumento de US$ 693 na receita e participação de 6,7% nas exportações); e celulose, com exportações no total de US$ 2,5 bilhões e alta de 24,4% (US$ 492 milhões a mais em receita) e um percentual de 6,3% nas vendas para o mercado chinês.
Segundo José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o aumento nas importações de produtos chineses de 23,3% de janeiro a junho de 2024 para 26,3% nesse mesmo período deste ano se deve ao fato de a China seguir cada vez mais agressiva na busca de mercados para seus produtos no exterior: “o mundo está se adaptando a essa nova China que é um país que produz praticamente de tudo, concorre com tudo e tem preço competitivo em tudo”.
Forte avanço chinês sobre o mercado brasileiro
De acordo com os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), no primeiro semestre deste ano, a participação chinesa nas importações brasileiras subiu para 26,3% do total comprado pelo Brasil, com uma receita de US$ 35,7 bilhões, o maior percentual já registrado na história do intercâmbio comercial bilateral.
Entre os destaques desse crescimento figuram as exportações de veículos elétricos, bem do qual a China já é, desde o ano passado, o principal fornecedor para o Brasil. De janeiro a junho, os embarques de carros elétricos chineses somaram US$ 2 bilhões, cifra inferior aos US$ 2,58 bilhões do mesmo período de 2024, mas 713% a mais que no mesmo período de 2023. Nesse intercâmbio automotivo, chama a atenção o fato de que, apesar de uma queda de 21%, os veículos apareceram pela primeira vez como o segundo bem mais vendido pela China para o Brasil.
Outro dado relevante: entre 2002 e 2025, o Brasil passou de 17º. maior mercado dos veículos chineses para o 6º. lugar, respondendo por um percentual de 5,6% das vendas totais da indústria automotiva chinesa.
O aumento expressivo nas importações de veículos espelha uma tendência que vem se registrando há alguns anos. De 2015 a 2024, as exportações chinesas para o Brasil em geral cresceram 146,2%, contra apenas 1,12% em relação aos Estados Unidos. Em relação à Argentina, a alta foi de 21,9%, de acordo com dados do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) FGV/Ibre.