Brasília – Cerca de 300 mil famílias estão envolvidas na cultura de café no Brasil que, a cada ano, cooperam para a constante evolução dos indicadores econômicos e agronômicos desta atividade agrícola. O país se consagra como o maior produtor do mundo e com ampla capacidade de honrar contratos internos e externos de comercialização do grão.
Nesta quinta-feira (14), comemorou-se o Dia Mundial do Café e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as federações da agricultura e pecuária e sindicatos de produtores rurais parabenizam a todos os cafeicultores pela qualidade e tradição dadas ao produto brasileiro.
Em 2015, de acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), a exportação do produto obteve um desempenho 1,3% superior em comparação a 2014 e apresentou saldo positivo na balança comercial brasileira de US$ 6,051 bilhões. Ainda no ano passado, o país produziu 43,2 milhões de sacas (60 Kg), mesmo em condições climáticas adversas.
O estado de Minas Gerais responde por mais de 50% do café produzido no país, contribuindo com 22,7 milhões de sacas. Em segundo lugar, o estado do Espírito Santo, com 11,4 milhões, segue-se São Paulo, com 4 milhões, Bahia, 2,3 milhões, e Paraná, com 1,2 milhões de sacas.
O café é subdividido em duas espécies distintas de importância comercial no mundo: arábica e conilon. O Brasil produz e exporta as duas espécies do grão, sendo que a produção do conilon prevalece nos estados do Espírito Santo, Rondônia e Bahia, e a produção do arábica em Minas Gerais, São Paulo e Paraná.
O Brasil exporta para 67% dos países reconhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). No ano passado, os principais compradores foram os Estados Unidos, com 7,8 milhões de sacas (21% de participação), Alemanha com 6,5 milhões (18%), Itália com 3 milhões (8%), Japão com 2,4 milhões (6%) e Bélgica com 2,2 milhões de sacas (6%). Estes países representam em juntos 60% do volume total embarcado.
Defesa do cafeicultor
A Comissão Nacional do Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) trabalha para defender os interesses do cafeicultor brasileiro, especialmente diante os órgãos públicos, em todas as esferas do poder, incluindo o governo federal. As ações conduzidas são de caráter multidisciplinar, principalmente a elaboração e implementação de políticas públicas, de acordo com as prioridades do setor produtivo.
Para o presidente da Comissão, Breno Pereira de Mesquita, as exportações impactam na melhoria do café brasileiro. “Em 2015, o Brasil exportou praticamente 37 milhões de sacas, volume recorde de toda a história do País. A conquista do mercado internacional aumenta a competitividade do café brasileiro e incentiva o cafeicultor a investir em melhorias na lavoura, na qualidade do seu café e na busca por novos mercados e compradores. Se conseguirmos evoluir a cada dia, teremos maior qualidade de vida no campo”, afirma Mesquita.
Conheça abaixo histórias de produtores de café dos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e Bahia. Os textos foram produzidos em colaboração com as Assessorias de Comunicação das Federações da Agricultura e Pecuária dos respectivos estados.
Minas Gerais
Há sete anos, a nutricionista Simone Sampaio decidiu buscar novos rumos em sua vida. Escolheu a cafeicultura, seguindo os passos de seu pai. Logo na primeira pequena safra colhida em Araponga (MG), ainda em 2012, enviou para análise uma amostra de seu café arábica, variedades catuaí e catiguá. O resultado foi muito bom. Naquele mesmo ano, já veio o primeiro prêmio e a decisão em investir fortemente em um produto diferenciado, com certificação, sustentabilidade e alta qualidade.
Junto com o marido João, engenheiro de alimentos e mestre em biotecnologia, buscou ainda mais capacitação, nos cursos do SENAR Minas e no programa de gestão Café+Forte, desenvolvido pela FAEMG. Refinaram processos, do cultivo à secagem e armazenamento, classificando os microlotes com base na qualidade alcançada.
“Cresci vendo meu pai trabalhar seu café commodity, ano após ano, sem qualquer inovação. Vimos a oportunidade e apostamos na agregação de valor em nossa produção. Encontramos um mercado muito interessante e compensador”, diz Simone.
Dos iniciais cinco mil pés que plantaram, hoje são 55 mil, produzindo anualmente cerca de 500 sacas. A maior parte destina-se à exportação, negociada em leilões internacionais e em negociações diretas com coffee hunters (caçadores de cafés de qualidade), de diversos países. As premiações só foram se multiplicando. Somente na última safra – a quarta colhida -, foram oito relevantes prêmios de qualidade.
Para a premiada produtora, o segredo do sucesso é misto de dedicação, capacitação contínua e coragem para inovar sempre: “Não usamos agrotóxicos, fazemos fertirrigação com a água utilizada no processamento do café. Sempre buscamos novas tecnologias, novas mudas e variedades para aprimorar ainda mais”, destaca.
Espírito Santo
Em Brejetuba, no Espírito Santo, quantidade e qualidade caminham de mãos dadas. O município é o maior produtor de café arábica do estado, com uma produção de 400 mil sacas por ano, e também está entre os cinco maiores produtores dessa variedade no Brasil. O mercado internacional já descobriu a qualidade do grão brejetubense.
Na Fazenda Santa Clara, no município, o produtor Edmar Zuccon, colhe 10 mil sacas da variedade arábica. O padrão de excelência do manejo atende às exigências do mercado internacional de cafés finos (gourmet) e já alcança a Alemanha e os Estados Unidos.
Para ele, “exportar é muito favorável. É um nicho de mercado diferenciado e pela dispensa de atravessadores, aumento a média de venda que produzo e agrego mais valor. O desafio é a qualidade, mas como produzo café lavado (Fully Washed), isto está garantido”, afirma.
Exemplo de safras especiais, o café de Edmar faz sucesso também no Espírito Santo, onde já venceu quatro concursos e caminha para participar de em nível nacional, este ano.
Paraná
O produtor Marcelo Valdevino da Luz costuma dizer que trabalha com café desde que nasceu. No município de Carlópolis, no Norte Pioneiro do Paraná, ele cultiva uma área de 50 hectares com café arábica. Com uma produtividade média de 40 sacas por hectare, ele comercializa sua produção por meio de um corretor de grãos que faz a ponte com o mercado.
Por enquanto, exportar a produção é um sonho distante, mas não inalcançável. “Estamos a cada ano tentando melhorar a produção, trabalhando a lavoura e procurando mecanizar”, afirma.
Bahia
Grécia, Estados unidos, Alemanha, Argentina, Espanha e Líbano. Em 2016 muitos desses países estarão no Brasil dando o seu melhor em busca do ouro olímpico, mas o que merece destaque no dia de hoje é o que há anos sai de terras brasileiras e tem feito sucesso nesses e outros países ao redor do mundo: o café da família Micchio.
Tudo começou nos anos 50, quando Antônio Micchio começou a produzir café no Espírito Santo. Em 1983 buscando ampliar os negócios da família foi com o seu filho Adhemar Micchio e o neto Adhemar Tadeu Micchio para a Bahia, onde em 1998 começaram a produzir o café em terras baianas.
O local escolhido foi a Fazenda Bom Jardim, que conta com 1.200 hectares de terra, localizada no munícipio de Itabela, a 700 quilômetros de Salvador. Do total das terras, 200 hectares são destinados ao cultivo do café.
Hoje, Adhemar Tadeu dá sequência à produção da família Micchio e fala com entusiasmo da relação com o café. “Tenho orgulho de ser a terceira geração de uma família tão interligada à produção de café. Eu planto diretamente há 18 anos, e o café sempre esteve, e certamente sempre estará, presente na minha história de vida”.
Comercializado em quase todo o mercado nacional, o café produzido em Itabela atravessou as fronteiras nacionais e desde 1984 chega a diversos mercados ao redor do mundo, com destaque para a Alemanha e os Estados Unidos, maiores importadores do café da família Micchio.
Adhemar aponta a atenção dada aos processos de produção como um dos diferenciais do seu produto. “Sempre apostamos na alta tecnologia, buscando atingir níveis elevados de produção e qualidade. Todas as áreas são irrigadas por gotejamento com as mais modernas técnicas de fertirrigação. Temos uma equipe muito bem treinada e sempre investimos na qualificação e atualização do nosso pessoal”, revelou.
Ele revelou também que a crise econômica que atinge o país e a seca que atormenta a região Sul da Bahia trazem prejuízos e devem atingir pelo menos 50% da produção de café connilon, mas a produção do café arábica não será atingida. Comercializando um milhão e duzentos mil sacas por ano, sendo oitocentos mil no mercado interno e quatrocentos mil em exportação, Adhemar comemora a escolha feita pelo seu avô no passado e espera que a tradição não pare por aqui. “O café está no DNA da família e espero que as futuras gerações retransmitam essa vocação por muitos anos”.
Fonte:CNA