Da Redação
Brasília – O Brasil vem perdendo, a cada ano, mercado para seus produtos nos países da América Latina e o espaço está sendo ocupado de forma consistente e progressiva pela China, que já é hoje o principal parceiro comercial não apenas do próprio Brasil, mas também do Chile e Peru e ocupa o segundo posto –pronta para ultrapassar o Brasil- entre os principais parceiros da Argentina, Colômbia e Venezuela.
E é na Argentina que os chineses vem avançando de forma mais significativa. O país asiático fornece hoje 16% de todo o volume importado pelos argentinos, contra 18% de todo o Mercosul (Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela). Com a crise gerada pela dificuldade de acesso da Argentina a financiamentos internacionais, a tendência é de forte queda nas importações pelo país vizinho de produtos do Mercosul como um todo e especialmente do Brasil.
Reflexo imediato da crise, a contração das importações fez com que no mês de julho a Argentina caísse para a quarta posição entre os maiores importadores de produtos brasileiros, com um total de US$ 1,227 bilhão. Um volume de importações bastante inferior às compras realizadas pelos Estados Unidos (US$ 3,249 bilhões), China, (US$ 3,166 bilhões) e Alemanha (US$ 1,304 bilhão).
Mantida essa tendência, é bem provável que ao final do ano a Argentina seja desbancada pelos alemães que passariam a ocupar a terceira posição entre os maiores mercados para os produtos brasileiros no exterior. E não será surpresa se a queda for ainda maior e os argentinos passem para a quinta posição nesse ranking.
De acordo com levantamento feito pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as exportações brasileiras para a Argentina podem ter uma queda de até US$ 5 bilhões. De janeiro a julho, as vendas foram reduzidas em 22,1%, graças à forte contração nas compras de automóveis, autopeças, veículos de carga, motores para veículos, tratores e outros bens de alto valor agregado que deixaram de ser importados pela Argentina e para os quais a indústria brasileira está encontrando grandes dificuldades de encontrar compradores substitutos.
Nesse cenário marcado por forte redução das exportações brasileiras, a China se consolida como segundo maior fornecedor para o mercado argentino. E o avanço se dá principalmente em setores de ponta do intercâmbio comercial: bens de capital (com alta de 11% nas exportações chinesas no primeiro semestre) e bens intermedários (aumento de 10% no período). Em contrapartida, as vendas do Mercosul para a Argentina desses produtos industrializados tiveram queda, respectivamente, de 21% e 7%.
Com os cofres do Tesouro reforçado por reservas no total de mais de US$ 2 trilhões, a China tem no poderio econômico, aliado à pujança de seu gigantesco parque industrial, um outro forte instrumento na luta pela conquista de mercados como a Argentina.
O rígido controle das importações e da liberação de dólares pelo governo portenho favorece os fornecedores chineses, que tem à disposição crédito fácil, rápido e praticamente ilimitado para financiar as importações de seus produtos.