Brasília – O Brasil está pagando um alto preço por não ter estabelecido uma política comercial adequada para a sua economia na última década, planejada e executada de forma complementar a uma política de competitividade. O país tem baixa penetração no mercado internacional, está desconectado das cadeias globais de setores de alto valor agregado e a internacionalização das empresas brasileiras é ainda lenta mesmo em um cenário de câmbio desvalorizado.
De janeiro a junho deste ano, o Brasil exportou US$ 34,4 bilhões, valor 2,38% menor do que no mesmo período do ano passado, e o pior valor desde 2010.
No primeiro semestre deste ano, as importações somaram US$ 56,9 bilhões, 27,6% a menos do que de janeiro a julho de 2015. Essa queda na compra de produtos estrangeiros derrubou o déficit na balança de manufaturados de US$ 43,5 bilhões para US$ 22,7 bilhões. Em percentual, a queda representa 47,9%.
“O déficit é resultado da queda das importações, e não pelo aumento da competitividade das exportações brasileiras. O Brasil necessita de uma estratégia previsível e concreta para aumentar a inserção das empresas nacionais no mercado mundial”, diz o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade.
O diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi, explica que os empresários estão percebendo que o comércio exterior tem que ser uma opção de longo prazo e não pode ser um tapa buraco para quando a situação no mercado interno é ruim.
A preocupação da CNI é que o Brasil não fique dependente dos preços das commodities e da desvalorização do câmbio para manter o superávit comercial e superar a desaceleração do mercado interno. Para a entidade, o país passa por um período de ajuste e o comércio exterior é um dos caminhos para a retomada do crescimento.
“O momento é de manter a política comercial como prioridade para inserimos definitivamente o Brasil no mercado mundial”, explica Abijaodi.
Para o presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), embaixador Rubens Barbosa, o comércio exterior sempre foi o primo pobre das políticas públicas. Na última década, o país apostou em uma “política equivocada que o isolou do mundo”.
E, desta forma, segundo o ex-embaixador do Brasil em Washington, o percentual das exportações no PIB tem caído ano após ano com aumento de grandes distorções, como a redução no número de empresas exportadoras e a concentração das exportações em poucos produtos.
Ainda segundo Rubens Barbosa, o principal empecilho ao aumento da competitividade do Brasil é a falta de acordos comerciais. “O problema é que temos uma situação interna complicada. Temos que negociar acordos para sermos competitivos”, diz Rubens Barbosa em entrevista à Agência CNI de Notícias. Para ele, o empresariado brasileiro terá que enfrentar o dilema de uma maior abertura comercial.
O Brasil e o Comércio Exterior em números
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Barreiras tarifárias
Atualmente, as empresas brasileiras só têm acesso, livre de tarifas de importação e barreiras não tarifárias, a 8% de todo o comércio internacional. Esse nível de abertura dos mercados externos aos bens produzidos no Brasil é muito pequeno quando comparado a outras economias, como a União Europeia (45%), os Estados Unidos (24%), a Austrália (22%) e o Canadá (19%). Se a comparação for feita com os nossos parceiros latino-americanos da Aliança do Pacífico, a distância é ainda maior, sobretudo em relação ao Chile (83%), ao Peru (74%) e ao México (57%).
“O Brasil sempre foi um país muito fechado. A participação do país no comércio mundial era de 1,4% em 2010. Em 2015, caiu para 1,2%, e é um percentual muito marcado por commodities, porque a exportação de manufaturados não chega a 0,7%. Desde a época do pau brasil, é um país que nunca teve política de longo prazo de comércio exterior”, diz o sócio-diretor da consultoria Barral M Jorge, Welber Barral.
Ele lembra que, ao longo dos anos 2000, mesmo as empresas que já exportavam se voltaram para o mercado interno, mais demandante, e as que queriam exportar fizeram um esforço enorme para vencer a sobrevalorização cambial.
Barral explica que o retorno ao comércio exterior é de médio e longo prazo, pois está cada vez mais difícil entrar nos mercados estrangeiros. Segundo ele, até mesmo para setores em que os produtos brasileiros são bem competitivos, como o de alimentos processados, há muitas exigências de certificações.
Além disso, complementa Barral, o país é o único do mundo que exporta impostos, por manter no preço dos produtos os resíduos tributários que permaneceram ao longo da cadeia produtiva, como PIS/Cofins, IPI, ICMS e encargos de energia e telecomunicações.
“O exportador brasileiro é forte por conseguir vender mesmo com elevado imposto sobre mão-de-obra, em relação aos seus competidores, altos custos de insumo, logística e burocracia”, completa.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelos exportadores, a exportação é a melhor opção para os empresários que querem sobreviver à concorrência estrangeira dentro do Brasil, ampliar seus negócios, adquirir tecnologia e inovação e se tornar um player global eficiente.
Estratégia
O diretor do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (CINDES), Pedro da Motta Veiga, explica que a tendência é que os empresários aumentem as exportações, até por um instinto de sobrevivência. No entanto, ele reforça que não dá para imaginar que o comércio exterior é um quebra galho.
“Se quiserem que as exportações e até mesmo as importações tenham um papel estratégico com uma boa participação no PIB, o Brasil terá que pensar de forma estratégica no longo prazo”, diz Motta Veiga.
A economia brasileira precisa que a política comercial esteja no centro da política pública, desta forma, o Brasil vai desenvolver todo seu potencial exportador e, com as reformas estruturais, superar definitivamente a crise econômica.
“Estou convencido de que o comércio internacional pode ajudar a retomada economia do país”, diz o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), embaixador Roberto Azevêdo.
Governo
Na avaliação do ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, é inadmissível o Brasil ser uma das dez maiores economias globais e ocupar apenas o 25º lugar no ranking da OMC de maiores exportadores mundiais.
“Precisamos exportar mais. Exportar aumenta a competitividade das empresas e traz mais divisas para o Brasil. O comércio internacional é uma atividade sofisticada, mas que está ao alcance de várias empresas brasileiras”, diz.
Segundo o ministro, à vezes, o empresário fica um pouco temeroso em pensar no mercado externo, muitas vezes pela falta de conhecimento. Por isso, o governo tem trabalhado no Programa Nacional de Cultura Exportadora (PNCE), que está sendo implementado em todo o país, para auxiliar pequenas e médias empresas a iniciarem suas exportações.
O PNCE é implementado em parceria com a Rede Nacional de Centros Internacionais de Negócios (CIN), coordenado pela Confederação. “Tenho certeza que dessa forma vamos aumentar não só nossas exportações, como também o número de empresas que vendem seus produtos para os mais variados mercados do mudo”, reforça.
Para ele, o programa desenvolve um segmento que necessita de maior participação na pauta exportadora, que é o de produtos industrializados. “Temos que exportar produtos com maior valor agregado e, com isso, aumentar a nossa produção, gerando mais emprego, renda e riqueza para o Brasil”, finaliza.
Próxima reportagem
Na terça-feira (9) da próxima semana, a segunda reportagem especial da série Comércio Exterior apresentará a pesquisa inédita “Desafios à Competitividade das Exportações Brasileiras”.
Fonte: CNI