José Augusto de Castro, Presidente Executivo da AEB

Brasil figura na lista dos 14 países que podem ser mais afetados por alta de tarifas anunciada por Donald Trump

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Da Redação

Brasília – Uma mescla de expectativa e apreensão. É com esse sentimento que o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) aguarda a posse do presidente Donald Trump no próximo dia 20 de janeiro ante a possibilidade -na verdade, uma quase certeza- de que logo após assumir, Trump decretará uma série de medidas retaliatórias contra as exportações de diversos países para o mercado americano, entre eles, o Brasil.

José Augusto de Castro destaca que, “no comércio internacional como um todo, é grande a expectativa para ver o que vai acontecer. É como se a gente soubesse que vai ter uma notícia e que alguma coisa vai mudar. Mas o que vai mudar nós não sabemos. Não temos uma ideia. Podemos ter uma percepção, mas não temos nenhuma certeza do que vai acontecer”.

Em termos concretos, o presidente eleito afirmou que poderá taxar em até 60% a entrada de produtos da China no mercado americano e acenou com tarifas extras, variando entre 20% e 30%, para as vendas externas do Canadá e do México, o principal parceiro comercial dos Estados Unidos em todo o mundo.

Tarifas mais altas, apesar do superávit americano

De acordo com dados do Departamento de Estatísticas americano, os Estados Unidos registraram um déficit comercial superior a US$ 1 trilhão, no acumulado de doze meses até outubro de 2024. E o Brasil é um dos poucos países que tem déficit no comércio com os EUA e é apontado como um dos países mais vulneráveis a novas restrições nas exportações para o mercado americano a partir deste ano. Entre 173 economias, o Brasil aparece entre as 14 com maior risco de mais investigações dos EUA sobre supostas práticas comerciais desleais nos próximos anos.

Estudo elaborado pelo Global Trade Alert (GTA), mecanismo que monitora o desenvolvimento de políticas comerciais, indica que quatorze economias receberam de três a cinco bandeiras vermelhas. O país mais afetado seria a Coreia do Sul, com cinco, segunda por China, Índia, Canadá e Japão (quatro bandeiras); Brasil, México, Uniao Europeia, Indonésia, Malásia, Tailândia e Quênia (três bandeiras); além de 35 países com duas bandeiras e 68 com apenas uma.

Alta das tarifas: irrevogável promessa de campanha

Para o executivo da AEB, é pouco provável que o presidente Trump deixe de cumprir essa e outras promessas feitas durante a campanha e especialmente após a vitória nas eleições do mês de novembro passado. Para José Augusto de Castro, “se ele anuncia as medidas e não as cumpre, perde a credibilidade. Então, terá que cumprir para que as pessoas e principalmente os eleitores do partido Democrata sigam acreditando nele”.

Impor tarifas extras aos produtos brasileiros embarcados para os Estados Unidos significa anular a forte desvalorização do real, a moeda que mais perdeu valor no mundo nos últimos meses, e que favorece as exportações de produtos manufaturados, categoria de bens que envolve a quase totalidade das exportações americanas para o Brasil, um dos poucos entre os grandes parceiros americanos com os quais os Estados Unidos fecharam 2024 com superávit comercial.

Efeitos negativos da alta das tarifas

Elevar as tarifas também terão outro efeito negativo nas atividades de comércio exterior de uma série de empresas americanas sediadas no Brasil e que alcançam lucros expressivos nas chamadas operações inter-companies, que aproveitam as facilidades e os benefícios criados pela legislação brasileira para esse tipo de operações.

Um outro exemplo significativo desse relacionamento especial é a Embraer, que exporta muito para e através dos Estados Unidos e que embarca em suas aeronaves tecnologias e componentes os mais sofisticados produtos por empresas americanas.

José Augusto de Castro não tem dúvida de que a anunciada alta das tarifas poderá atingir produtos como autopeças e calçados, entre outros. Para ele, “após anúncios bombásticos, o presidente Trump não tem como deixar de impor essas medidas. Em condições normais, acredito que ele não taxaria, mas como assumiu compromissos públicos antes da posse, ele terá que cumprir esses compromissos. Não há como fugir disso”.

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