Brasília – O governo brasileiro não deverá ceder às pressões da China e antecipar para as próximas semanas a reunião dos ministros de Comércio Exterior do Brics, programada para o dia 21 de maio em Brasília. No exercício da presidência pro-tempore do bloco, o Brasil vem trabalhando na agenda da reunião de cúpula do Brics, dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro e não vê motivo para adiantar o encontro dos responsáveis pelo comércio exterior do bloco.
Antecipada ou não, a reunião ministerial, assim como a Cúpula, será usada pela China para buscar um posicionamento enfático do grupo contra as sanções decretadas pelo presidente Donald Trump contra os principais parceiros comerciais dos Estados Unidosl.
Segundo uma fonte diplomática, a China apresentou um pedido formal de antecipação da reunião na última sexta-feira (11), por ocasião de uma videoconferência entre o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin e o ministro do Comércio da China, Wang Wentao e na sequência autoridades chinesas teriam contatado o Itamaraty para tratar do assunto. Em nenhuma dessas oportunidades os chineses conseguiram convencer o Brasil a mudar a data da reunião.
De acordo com a fonte, não há motivo para antecipar uma reunião prevista para dentro de pouco mais de um mês e que vem sendo preparada cuidadosamente pela chancelaria brasileira. A percepção no Itamaraty é de que uma movimentação nesse sentido certamente criaria arestas nas relações entre o Brasil e os Estados Unidos, particularmente num momento em que o governo do presidente Donald Trump acompanha atentamente a movimentação diplomática do Brics.
Uma recusa na antecipação do encontro não significa que o Brasil considere menos importante os debates a serem realizados nessas duas reuniões do Brics. Pelo contrário. Tanto o governo quanto analistas brasileiros consideram o bloco um agrupamento cada vez mais importante para as projeções políticas e comerciais do país.
Segundo maior parceiro comercial do Brasil
O tarifaço lançado abruptamente pelo presidente Trump levou o Brasil a buscar ampliar o leque de parceiros no exterior, além de procurar novos clientes para seus produtos no mercado externo. Nesse contexto, o Brics ocupa um lugar especial. Em seu conjunto, os países que integram o bloco representam 25% das exportações globais e 20% das importações. Como bloco, o Brics é o principal parceiro comercial do Brasil e tem cada vez maior relevância para o comércio exterior brasileiro. Principalmente num momento em que todos os países enfrentam as incertezas e dificuldades geradas pelas medidas adotadas pelo presidente americano.
Em 2024, apesar de uma queda de 4,3%, comparativamente com o ano anterior, as exportações brasileiras para o Brics totalizaram US$ 121,626 bilhões, correspondentes a 36,09% das exportações totais brasileiras. Por outro lado, as importações cresceram 14,9% para US$ 88,884 bilhões (33,81% do total importado pelo Brasil). A corrente de comércio (exportações+importações) cresceu 3,0% e somou US$ 210,510 bilhões. O intercâmbio bilateral proporcionou ao Brasil um superávit de US$ 32,742 bilhões.
Nos três primeiros meses de 2025, as exportações para o Brics caíram 13% para US$ 25,662 bilhões (equivalentes a 33,19% das vendas externas totais brasileiras), enquanto as importações registraram uma robusta alta de 30,5%, somando US$ 25,269 bilhões (33,5% de todo o volume importado pelo Brasil). A corrente de comércio totalizou US$ 50,932 bilhões (alta de 4,2%) e o superávit brasileiro somou apenas US$ 393 milhões no primeiro trimestre do ano.
Ampliação das exportações e diversificação da pauta exportadora
Na reunião dos ministros de Comércio Exterior do dia 21 de maio e também durante a Cúpula e encontros individuais que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá com seus homólogos do Brics, o governo brasileiro deverá defender a necessidade de os integrantes do bloco imprimirem um maior dinamismo ao seu intercâmbio comercial e, sobretudo, tentar convencê-los da necessidade de aumentarem a praticamente inexpressiva participação dos produtos da indústria de transformação nas exportações brasileiras.
A exemplo do que acontece isoladamente com a China, as exportações brasileiras para os países do Brics envolvem essencialmente commodities agrícolas e minerais, sem a participação de bens manufaturados, de maior valor agregado.
De janeiro a março, o principais produtos exportados para o Brics foram soja US$ 6,8 bilhões); petróleo (US$ 4,5 bilhões); minério de ferro (US$ 4,4 bilhões); carne bovina (US$ 1,57 bilhão); e celulose (US$ 1,42 bilhão).
A China foi o principal destino dos produtos brasileiros no bloco, com US$ 19,8 bilhões no período. A seguir vieram Índia (US$ 1,43 bilhão); Indonésia (US$ 871 milhões); Egito (US$ 806 milhões); Emirados Árabes (US$ 803 milhões); Arábia Saudita (US$ 711 milhões); Irã (US$ 610 milhões); Rússia (US$ 339 milhões); e África do Sul (US$ 282 milhões).