Brasil e Marrocos debatem criação de instituto para pesquisa na agricultura e pecuária

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São Paulo – Organismos de pesquisa e educacionais do Brasil e do Marrocos podem se unir para formar um instituto voltado a recursos hídricos para agricultura e pecuária. O tema está em discussão, de acordo com o ex-presidente e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Silvio Crestana, que vem tomando a frente da iniciativa no Brasil. O instituto congregaria grupos de pesquisa na área em território brasileiro e no Marrocos.

Liomar Cruz/Agência Brasil

Crestana: Brasil e Marrocos têm agenda comercial forte
Crestana: Brasil e Marrocos têm agenda comercial forte

Crestana, que esteve na liderança da Embrapa entre 2005 e 2009, atualmente é pesquisador da Embrapa Instrumentação Agropecuária, de São Carlos, e é membro permanente da Academia Hassan II de Ciência e Tecnologia do Marrocos. A participação do pesquisador na academia ocorre há oito anos em função de um convite pessoal recebido.

A Academia deve tomar a frente do projeto do Instituto Internacional de Recursos Hídricos Brasil-Marrocos, no país árabe, mas está prevista também a participação de vários institutos de pesquisa e educação de lá, caso o plano seja posto em ação, assim como do Instituto Internacional de Ecologia, da Universidade de São Paulo (USP) e da Embrapa no Brasil.

No final deste ano, o presidente do Conselho Geral para o Desenvolvimento da Agricultura do Marrocos, Mohamed Ait-Kadi, estará no Brasil para participar do Simpósio Nacional de Recursos Hídricos, que ocorre em São Carlos entre 18 e 20 de novembro, quando o tema deve avançar. O conselho é responsável por formular políticas para o Ministério da Agricultura e da Pecuária do Marrocos. Também deverão vir acadêmicos marroquinos.

A Embrapa já tem algum trabalho de cooperação com o Marrocos na área agrícola. Em uma destas frentes, a empresa pública brasileira vem colaborando com o país árabe em pesquisa para fixação biológica de nitrogênio no solo. O Brasil já fez isso com a soja e está trabalhando para aplicar a tecnologia também em outras plantas, como a cana-de-açúcar.

Pelo método, a bactéria é inserida na plantação e ajuda a fixar o nitrogênio, diminuindo a necessidade de adubos nitrogenados. É preciso, porém, descobrir a bactéria adequada para cada planta e solo. É esse o processo pelo qual o Marrocos está passando e no qual a Embrapa está colaborando. Também está em discussão a cooperação da Embrapa com o Marrocos em desenvolvimento de plantas mais resistentes ao estresse hídrico. Mas isso ainda não está fechado.

 

Parceiro ideal

“O Brasil tem uma dependência grande do Marrocos na área de fósforo, de fosfato”, afirma Crestana, lembrando que da mesma maneira o Brasil é um importante fornecedor de produtos agrícolas para o Marrocos. “Temos uma balança comercial importante com eles”, afirma. Além da agenda comercial há similaridades de clima,  segundo o ex-presidente da Embrapa.

A participação na Academia Hassan II de Ciência e Tecnologia do Marrocos deu a Crestana a oportunidade de ver mais de perto algumas peculiaridades da agricultura marroquina. Ele conheceu projetos na área de argan, planta que gera um óleo com propriedades medicinais, em estudos florestais, viu a pesquisa com citricultura, oliveiras, criação de ovinos e caprinos, além do trabalho com recursos hídricos voltados para a agricultura, área na qual Crestana atua. O trabalho de pesquisa do ex-presidente da Embrapa ocorre em instrumentação voltada a solos, água, o impacto da agricultura nos recursos hídricos.

Academia

Como integrante da academia Hassan II, Crestana participa anualmente de um encontro entre membros, quase sempre em fevereiro, em Rabat. Neste fórum são levados especialistas mundiais, como ganhadores do Prêmio Nobel, e promovidos debates sobre um tema de ciência e tecnologia. É então avaliada qual é a situação do Marrocos naquela área. Neste ano as discussões se centraram em energia. Os membros participam das discussões e dão sua contribuição com o tema.

“Essa mensagem chega ao governo, à mídia”, afirma Crestana, acrescentando que o objetivo do trabalho da academia é orientar políticas públicas. “Tem a função de impactar no desenvolvimento do Marrocos”, diz o pesquisador. O modelo da academia é francês, seguindo Crestana, com metade dos membros nativos e metade do exterior. O cargo de membro é permanente e só o rei do Marrocos tem o poder de destituir o participante da Academia.

Fonte: ANBA

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