Foto: Vindi

BC vai na contramão do mercado e projeta forte queda no superávit comercial

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Da Redação (*)

Brasília – O Banco Central (BC) divulgou hoje (29) o Relatório de Inflação, publicação trimestral e um dado chama a atenção: de acordo com o BC, o superávit da balança comercial brasileira em 2023 deverá cair de uma estimativa inicial de US$ 62 bilhões para US$ 54 bilhões.

Esse saldo estimado resultaria da queda do valor das exportações, de US$ 338 bilhões para US$ 335 bilhões, e aumento do valor das importações de US$ 277 bilhões para US$ 281 bilhões.

A partir desse e de outros dados, o BC reviu sua projeção para o saldo das contas externas em 2023. A previsão de déficit para as transações correntes, que são as compras e vendas de mercadorias e serviços e transferências de renda do Brasil com outros países, passou de US$ 32 bilhões para US$ 45 bilhões.

BC diverge de consultorias

A projeção feita pelo BC para o superávit comercial brasileiro vai na contramão das estimativas elaboradas pelas principais empresas de consultoria e entidades que atuam no comércio exterior. Sem exceção, todas elas apostam em um saldo comercial muito superiores àquele estimado pela autoridade monetária do país.

Entre esses especialistas há o consenso em torno da expectativa de que o Brasil está a caminho de conseguir novo saldo recorde em sua balança comercial em 2023.

Projeções de diferentes analistas indicam um superávit na casa dos US$ 70 bilhões, resultado que supera com folga os US$ 62,3 bilhões registrados em 2022, o melhor ano da história até aqui e são ainda muito mais expressivos que os US$ 54 bilhões divulgados hoje pelo BC.

Os especialistas igualmente concordam que o bom desempenho, porém, será obtido diante de uma provável queda na corrente de comércio. A soma das transações de exportações e importações deve ser inferior à verificada em 2022, quando totalizou US$ 607,7 bilhões, resultado de vendas de US$ 335 bilhões e compras de US$ 272,7 bilhões.

O presidente da Associação de Comercio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro aposta em um superávit expressivo, mas com a ressalva de que o saldo “será obtido sem aumento de ganhos de receitas com as exportações e forte retração nas importações”.

A poucos dias da divulgação da atualização das projeções para a balança comercial, a ser realizada no início de julho, a AEB prevê um saldo da ordem de US$ 72 bilhões, a ser alcançado com a manutenção ou uma ligeira queda nas importações e uma contração de 6% nas importações. Com isso, a AEB trabalha com a possibilidade de se registrar uma queda entre 2% e 4% na corrente de comércio (exportação+importação) brasileira.

Estimativas igualmente bem mais otimistas foram feitas pela MB Associados, que projeta um superávit de US$ 70 bilhões e pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) que estima um saldo entre US$ 72 e US$ 75 bilhões. Ainda mais otimista, a LCA Consultores prevê um superávit recorde histórico de US$ 80 bilhões. A estimativa oficial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) é ainda bem mais otimista: US$ 84 bilhões.

Efeitos gerados pela queda nos preços das commodities

Na perspectiva do BC, “a projeção de valor exportado no ano reflete queda mais acentuada dos preços implícitos do que previamente esperado, acompanhando a trajetória dos preços de commodities nos mercados internacionais. Essa redução em relação a 2022, já prevista no relatório anterior, deve ocorrer em maior intensidade, principalmente no caso de produtos básicos, como soja e petróleo”, explicou o BC.

Por outro lado, a instituição destaca que  “haverá aumento no volume de exportações decorrente da safra recorde de grãos esperada para o ano, o que deve compensar apenas parcialmente a revisão negativa dos preços. A projeção incorpora ainda volume exportado maior do que esperado de produtos manufaturados e semimanufaturados”.

Para as importações, são esperadas quedas menos acentuadas dos preços e do volume. Segundo o BC, a revisão reflete os dados mais recentes, que mostram ligeira recuperação das importações nas principais categorias.

O déficit esperado da conta de serviços foi mantido em US$ 36 bilhões, abaixo do registrado em 2022 (US$ 40 bilhões). “A perspectiva de redução em relação ao ano anterior reflete menores gastos com transporte, resultante da normalização paulatina nos custos dos modais aéreo e hidroviários, além do menor volume de bens importados. Em sentido contrário, os gastos com viagens devem superar os observados no ano passado, já em patamar mais compatível com o observado antes da pandemia”, diz o relatório.

Investimento estrangeiro

Na conta financeira foram mantidas as projeções de entrada líquida em investimentos diretos no país (IDP), em montante superior ao déficit esperado para as transações correntes e se aproximando da média observada na década anterior à pandemia. A estim   ativa de IDP em 2023 ficou em US$ 75 bilhões.

Quando o país registra saldo negativo em transações correntes, precisa cobrir o déficit com investimentos ou empréstimos no exterior. A melhor forma de financiamento do saldo negativo é o IDP, porque os recursos são aplicados no setor produtivo e costumam ser investimentos de longo prazo.

Para os investimentos em carteira, a projeção foi revisada de saída líquida de R$ 5 bilhões para neutralidade.

(*)  Com informações da Agência Brasil

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