Da Redação (*)
Brasília – O Banco Central ainda acredita que a balança comercial brasileira deverá fechar o ano de 2014 com um superávit de US$ 5 bilhões. A previsão otimista não é compartilhada pelos analistas do mercado que oscilam entre uma balança equilibrada (sem superávit nem deficit) e um saldo negativo que pode chegar a US$ 3 bilhões.
Na última estimativa, feita no final do mês de março, o BC previa um saldo de US$ 8 bilhões para o comércio exterior brasileiro. Em 2013, o superávit foi de US$ 2,6 bilhões. Até maio, a balança comercial brasileira acumula um déficit de US$ 4,9 bilhões.
A nova estimativa foi divulgada hoje (24) pelo Banco Central e nela a autoridade monetária reduziu a previsão para as exportações brasileiras em 2014 de US$ 253 bilhões para US$ 245 bilhões. Por outro lado, o BC aposta numa redução das importações, de US$ 245 bilhões para US$ 240 bilhões.
Segundo especialistas em comércio exterior, a balança comercial brasileira está sendo afetada pela combinação de queda nos preços das commodities e redução da competitividade na exportação dos produtos industrializados. De acordo com dados da Fundação Centros de Estudo de Comércio Exterior (Funcex), a queda em valor dos produtos exportados pelo Brasil foi de 4,3% no acumulado em 12 meses encerrados em maio. Esse recuo tem sido aliviado, em parte, pelo aumento na quantidade. No período, aumentou 4,9%.
Por outro lado, a queda de preço dos produtos básicos pode ser atribuída ao menor crescimento da China. A economia chinesa é uma grande importadora mundial de produtos básicos, sobretudo do Brasil. Logo, o crescimento mais lento leva a uma demanda menor por produtos básicos, reduzindo o preço das commodities no mercado internacional e, consequentemente, causando impacto na receita de exportação brasileira.
“Os preços das commodities agrícolas e minério de ferro estão em queda”, afirma Daiane Santos, economista da Funcex. A entidade projeta um déficit de US$ 3 bilhões para a balança em 2014.
Apesar do déficit acumulado neste ano, o resultado da balança comercial brasileira poderia ser pior. O Brasil tem antecipado a exportação de alguns produtos – como a soja – para não coincidir com o início do embarque da safra americana, prevista para agosto e setembro.
“Há uma expectativa de que este ano sejam embarcadas 43 milhões de toneladas. Até agora, foram embarcadas 66% dessa projeção”, afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
no mês de dezembro, a AEB projetou um superávit de US$ 7,2 bilhões para a balança comercial este ano, mas esse número será rebaixado em julho. “Hoje diria que estamos num zero a zero”, diz Castro, em relação ao saldo comercial esperado para 2014.
Manufaturados
Os números da balança commercial brasileira são também afetados pela queda na exportação dos manufaturados. Além da já conhecida baixa competitividade da indústria brasileira para competir em mercados no exterior, a crise argentina deve tornar ainda mais difícil a vida do setor industrial brasileiro.
Por outro lado, a Argentina, um dos principais mercados de exportações brasileiras de manufaturados, voltou ao centro da discussão financeira mundial depois que a Justiça americana determinou o pagamento de US$ 1,33 bilhão para credores que não aceitaram participar das renegociações de dívidas feitas pelo governo em 2005 e 2010.
Com pouco dinheiro em caixa, é provável que os argentinos diminuam ainda mais a importação de produtos manufaturados brasileiros. “Neste ano, mesmo com o acordo automotivo, a Argentina está numa situação pior do que estava em 2013”, afirma Lia Valls Pereira, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
(*) Com Agências