Da Redação
Brasília – A balança comercial brasileira deverá fechar 2014 com um deficit de US$ 4,7 bilhões. O prognóstico foi feito por José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), no mesmo dia em que o Banco Central divulgou o boletim Focus no qual analistas de mercado previam um superávit de US$ 100 milhões para o comércio exterior brasileiro este ano. De janeiro até a terceira semana de outubro, a balança já acumula um deficit de US$ 4,123 bilhões, de acordo com dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Em entrevista ao Comexdobrasil.com, José Augusto de Castro afirmou que “neste mês de novembro e em dezembro as exportações não têm fôlego para crescer. Não há mais soja para embarcar e os preços da oleaginosa e também do minério de ferro estão em forte baixa. Além disso, as exportações de petróleo e seus derivados estão em alta, mas a queda de preço no mercado internacional impede que o setor contrabalance a redução das receitas obtidas com as vendas externas de minério de ferro e soja. Em contrapartida, as importações estão caindo, mas é uma queda leve, o que impede qualquer possibilidade de a balança comercial tornar-se mais equilibrada.”.
O presidente da AEB ressaltou que os três principais produtos da pauta exportadora brasileira –soja, minério de ferro e petróleo- estão com as cotações em baixa no mercado internacional: “o preço médio da tonelada do minério de ferro está em torno de US$ 56 e em 31 de dezembro do ano passado, a cotação era de US$ 135,00. A forte queda se deve ao fato de que a demanda cresce a um ritmo lento mas cresce, enquanto o aumento da oferta se dá numa velocidade mais acelerada, o que provoca retração dos preços. Assim, o Brasil deve exportar 5% a mais em quantidade de minério de ferro mas a um preço bastante inferior. Com a soja, a retração foi de 16%, ao passo em que o farelo de soja caiu 20%. Outros produtos em queda foram o açúcar (queda de 7%) e o milho (retração de 12,7%). Além disso, o país não conta com o artifício das exportações de plataformas para a exploração de petróleo. Tudo isso somado nos leva à conclusão de que o deficit na balança comercial ficará na faixa dos US$ 4,7 bilhões”.
José Augusto de Castro afirma ainda que os números negativos da balança comercial são agravados pela forte contração nas exportações de produtos industrializados: “desde o ano de 2008 as exportações de produtos manufaturados não ultrapassa US$ 92 bilhões. Este ano deverão ficar no patamar de US$ 79,6 bilhões. Nesse caso, teremos uma queda de 14,5% nas exportações de produtos industrializados”.
O presidente da AEB lamenta o fato de o Brasil não ter aproveitado o período de bonança das commodities nos mercados internacionais e se preparado para enfrentar o fim desse ciclo: “durante anos o Brasil surfou em um período de alta dos preços das commodities nos mercados internacionais. Mas esse cenário se reverteu e os preços desses produtos se retraíram. Em tempos de preços em alta o Brasil deveria ter feito o dever de casa e se esforçado para melhorar a competitividade de suas exportações como um todo. Entretanto, isso não foi feito e é por esse e outros motivos que pela primeira vez em catorze anos o Brasil fechará a balança comercial com um deficit da ordem de US$ 4,7 bilhões”.