As relações comerciais sino-brasileiras: uma prévia dos seus 50 anos

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Henrique Reis (*)

Em 1974, Brasil e China estabeleceram suas relações diplomáticas; a corrente comercial entre os países naquele ano foi de US$ 19 milhões; e o primeiro acordo comercial assinado foi em 1978. Dali em diante o comércio começou a evoluir de forma gradual, chegou a US$ 202 milhões em 1979, ano em que o Brasil exportava açúcar, farelo de soja e algodão para a China e importava produtos químicos e farmacêuticos.

A década dos anos de 1980, também chamada de “década perdida” em referência a difícil situação econômica dos países da América Latina, incluindo o Brasil, foi de pouco avanço nas relações sino-brasileiras.

Por outro lado, no início dos anos 90 o sistema internacional passou por grandes transformações, entre elas o fim da Guerra Fria e uma retomada do capitalismo internacional e o mercado brasileiro passou por um momento de abertura econômica, período inclusive em que foi assinado o Tratado de Assunção, base para criação o Mercosul.

A partir de 1994, as relações comerciais entre o Brasil e a China começaram a ganhar força, porém foi somente entre os anos de 2000 e 2004 que a China despontou como o quarto principal parceiro comercial do Brasil. Nesse período foi registrado aumento de 351,8% nas exportações brasileiras e de 106% nas importações com o mercado chinês.

Com o passar dos anos e fortalecimento da parceria comercial, em 2009 a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil e tem mantido este posto até os dias atuais e ainda que tenha havido anos em que a corrente comercial sofreu quedas, os números se mantiveram relevantes e a China sem dúvidas é um parceiro de extrema importância para o Brasil.

Com economias complementares, mesmo em meio a um cenário de pandemia jamais visto e em um contexto de interdependência econômica global, os números da corrente comercial registraram crescimento expressivos, recordes foram batidos e em 2022 o fluxo comercial bilateral chegou a US$ 150,17 bilhões.

Fiz essa breve introdução para lembrar que em 2024 as relações sino-brasileiras completarão 50 anos e sem dúvida esse marco será muito celebrado por ambos os países, mas enquanto isso meu objetivo aqui é mostrar um pouco como andam as relações comerciais em 2023.

É importante lembrar que a China abriu suas fronteiras para o trânsito de cidadãos estrangeiros em fevereiro deste ano. Eu, particularmente, previa um movimento maior de viagens empresariais brasileiras para a China e vice-versa, por conta da necessidade que havia de recuperar o tempo perdido, já que as negociações online não tinham o mesmo efeito das negociações face a face, não só por razões de confiança, mas pela necessidade de se ver e tocar os produtos.

Entretanto um volume maior como era esperado só não aconteceu por motivos de limitação operacional dos países nas emissões de vistos e os altos valores das passagens aéreas devido  à retomada gradual dos voos internacionais para o território chinês, pois o desejo dos empresários brasileiros e chineses em viajar realmente era grande.

Dadas as circunstâncias, o Grupo China Trade Center levou uma pequena delegação de empresários para visitar a Canton Fair em abril. O Grupo representa a feira para o mercado brasileiro, porém com o passar dos meses a situação começou a melhorar e já é perceptível o aumento das delegações brasileiras visitando a China e das chinesas visitando o Brasil em busca de maior promoção de negócios e oportunidades.

Apenas nos últimos meses participei de encontros com a delegação da cidade de Xiamen, este promovido pelo Lide China a convite do amigo José Ricardo dos Santos Luz Júnior, encontramos parceiros chineses de longa data na feira AUTOMEC, que contou com cerca de 400 empresas expositoras somente da China, recebemos e organizamos a agenda da delegação da Jiangsu United Asia International Exhibition – UAEC, empresa originada de uma cooperação sino-germânica para organização de eventos internacionais e mais recentemente recebemos em nossa sede membros da China International Import Expo – CIIE para assinatura de um MOU.  Em setembro teremos a Gotex Show com mais de 250 expositores chineses confirmados e receberemos também uma delegação do governo de Nanjing no mesmo período.

 Além do que foi mencionado anteriormente, o governo chinês está criando uma terceira feira internacional de grande porte e o Conselho da China para Promoção do Comércio Internacional – CCPIT (na sigla em inglês), apresentou esta nova feira para autoridades e empresas brasileiras, em São Paulo, a China International Supply Chian Expo – CISCE, que terá sua primeira edição entre os dias 28 de novembro e 2 de dezembro deste ano em Pequim. Além do Supply Chain, a feira irá contemplar mais cinco setores estratégicos para a economia global: veículos inteligentes, agricultura verde, energia limpa, tecnologia digital e vida saudável.

 É claro que já aconteceram muito mais eventos envolvendo o intercâmbio comercial entre os países e citei alguns, dos quais participei, para mostrar como as relações estão voltando a se aquecer com o passar dos meses. E para este segundo semestre, o Grupo China Trade Center já tem delegações de diferentes estados brasileiros que visitarão a China e ainda está tendo procura de outras missões com esse mesmo objetivo.

 No campo do comércio, dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), mostram que nos primeiros seis meses de 2023, as exportações brasileiras para a China atingiram US$ 49,85 bilhões enquanto as importações chegaram a US$ 25,52 bilhões, com uma corrente total de US$ 75,37 bilhões. Esses números são expressivos, mas é preciso ter em consideração o fato de que desde 1974 as exportações brasileiras para a China estão pautadas nas commodities.

Para se ter uma ideia as seis categorias soja, petróleo, minério de ferro, carne bovina, celulose e carne de aves e suas miudezas representaram no primeiro semestre 90,8% de todas as exportações brasileiras para o mercado chinês. São números extremamente importantes para a economia do Brasil, mas é preciso diversificar essa pauta, pois o país tem muito mais para oferecer aos chineses e a China possui um enorme mercado consumidor.

Por fim, acredito que tudo o que foi observado aqui é apenas uma pequena demonstração do que virá para 2024, ano em que se celebrará os 50 anos das relações sino-brasileiras. Além do comércio já existente, os atuais intercâmbios comerciais e governamentais irão gerar novos negócios, especialmente oportunidades de investimentos e muitas novidades em produtos tecnológicos e inovadores. Espero e acredito que haverá cooperação e avanços também nas questões ambientais, enquanto isso vamos trabalhar, torcer e esperar.

(*) Henrique Reis – Bacharel em Relações Internacionais pela UNIFAI, Pós-graduado em Negociações Econômicas Internacionais pela UNESP, cursando o MBA de Gestão de Negócios pela USP Esalq, é Gerente de Relações Internacionais no Grupo China Trade Center.

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