Ano começa mal para os exportadores de calçados Setor calçadista inicia o ano com exportações em queda de 2,3% em pares e 6,2% em receita

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Novo Hamburgo –  Na contramão das  expectativas iniciais de um reaquecimento nas exportações, os calçadistas brasileiros amargaram um início de ano com queda nos embarques. Conforme dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e elaborados pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), em janeiro foram embarcados 12,5 milhões de pares por um valor de US$ 92,95 milhões, quedas de 2,3% em pares e de 6,2% em faturamento com relação ao primeiro mês do ano passado, quando os números foram de 12,8 milhões e US$ 99,1 milhões, respectivamente.

O resultado aliado a um incremento nas importações de calçados fez com que a balança comercial do setor caísse 38,7% – em dólares – no comparativo com igual período de 2013. Em janeiro entraram no Brasil 4,4 milhões de pares pelos quais foram pagos US$ 64,2 milhões, um aumento de 23% em dólares e 34,2% em pares com relação ao ano passado (3,27 milhões e US$ 52,2 milhões).

Para o presidente-executivo da Abicalçados, Heitor Klein, o resultado aponta para a deterioração da competitividade do calçado brasileiro. Fatores como a alta carga tributária combinada com o fim do Reintegra – programa que devolvia 3% da receita total com exportações para os empresários –, legislação trabalhista arcaica e uma logística cara e ineficiente são os vilões que tornam o “Custo Brasil” cada vez mais elevado.

O executivo ressalta que existe uma tendência verificada desde 2008 que aponta para uma queda brusca na balança comercial do setor. “Naquele ano tivemos um saldo positivo de US$ 1,6 bilhão, que caiu a US$ 522 milhões no ano passado. Seguindo a tendência podemos chegar a saldo zero nos próximos anos”, alerta. Para o executivo é preciso que o Governo Federal continue no propósito de desoneração do segmento. “O fim do Reintegra, que auxiliava muito a competitividade dos exportadores, foi um revés significativo e que pode apontar para um abrandamento das políticas de desoneração”, lamenta Klein.

Exportadores

 

Mesmo com queda nas receitas geradas pelas exportações, o Rio Grande do Sul segue no topo do ranking dos estados exportadores. No primeiro mês do ano os gaúchos embarcaram 1,55 milhão de pares pelos quais receberam US$ 35,2 milhões, quedas de 1% em pares e 5,3% em faturamento com relação a igual período de 2013 (1,56 milhão e US$ 37,2 milhões).

O segundo exportador foi o Ceará, que embarcou 6,87 milhões de pares a um valor de US$ 32,8 milhões, aumento de 2% em pares e queda de 4% em receita no comparativo com janeiro do ano passado (6,74 milhões e US$ 34,22 milhões).

No terceiro posto aparece São Paulo. Em janeiro os paulistas exportaram 1,2 milhão de pares por US$ 10,7 milhões, incrementos significativos de 207% em pares e 30% em faturamento com relação a 2013 (398,5 mil e US$ 8,26 milhões).

Destinos

 

Os principais destinos das exportações brasileiras no primeiro mês do ano foram os Estados Unidos (US$ 14,8 milhões, queda de 7% com relação a igual período de 2013), França (US$ 8,2 milhões, queda de 5%) e Rússia (US$ 8 milhões, queda de 28%). Pela primeira vez em anos de exportações, a Argentina não figura no ranking dos principais destinos. Abalada por uma crise econômica intensa e tentativas desastrosas de protecionismo, a Argentina comprou somente cerca de 226 mil pares pelos quais foram pagos US$ 3,4 milhões, uma queda de quase 30% com relação a janeiro do ano passado.

E pode ficar pior…

 

Se por um lado a queda nas exportações preocupa, o aumento vertiginoso das importações de calçados, especialmente da Ásia, aumenta a dor de cabeça dos calçadistas. Segundo Klein, o aumento de 23% no valor pago pelas importações de janeiro foi puxado pelos esportivos. “Aproveitando a oportunidade da Copa, que deveria ser um estímulo aos produtores nacionais, os importadores de calçados esportivos aumentaram 74,4% suas vendas com relação ao mesmo período do ano passado. A questão confirma o nosso prognóstico de que sem o acionamento dos mecanismos de defesa comercial o ano seria muito complicado, mesmo com o dólar em patamares mais elevados. O importador asiático, com um custo de produção extremamente baixo e subsidiado, além de contar com mão de obra abundante e barata, absorveu com certa facilidade a questão cambial”, explica o executivo, para quem a situação de deterioração da balança comercial do segmento pode piorar em 2014.

Conforme dados elaborados pela Abicalçados, no primeiro mês as importações de calçados esportivos foi de US$ 32,3 milhões, quase o dobro do mesmo mês do ano passado (US$ 18,5 milhões). Segundo Klein, grande parte destes calçados são provenientes de processos de elisão fiscal, práticas que visam burlar a aplicação da tarifa antidumping contra o produto chinês.

“Desde 2010, quando adotado o direito de antidumping contra a China, as importações de produtos de países vizinhos e sem tradição na indústria calçadista, têm aumentado vertiginosamente. É um processo claro de circunvenção e triangulação das importações”, destaca.

Asiáticos vendem mais para o Brasil

 

A onda de produtos asiáticos nas prateleiras do varejo brasileiros parece estar longe do fim. No primeiro mês do ano as importações procedentes do Vietnã aumentaram 36,3% (de US$ 29,6 milhões para US$ 40,4 milhões), da Indonésia 30% (de US$ 9,8 milhões para US$ 12,74 milhões) e da China 55,4% (de US$ 3,74 milhões para US$ 5,8 milhões).

Já em partes de calçados as importações tiveram uma queda de 35,6% (de US$ 10,23 milhões para US$ 6,6 milhões). Os principais vendedores de componentes no primeiro mês de 2014 foram a China, Paraguai e Vietnã.

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