Em Belém, autoridades defendem que diversidade esteja no centro do novo modelo de desenvolvimento. Bioeconomia abre caminho para desenvolvimento sustentável, com preservação da floresta. Jorge Viana diz que país tem agora oportunidade para ampliar participação no mercado internacional
Belém (Pará) – O Brasil voltou ao centro das atenções na agenda internacional e tem oportunidade não apenas de liderar as discussões em torno de um novo modelo de desenvolvimento, baseado na exploração sustentável da floresta, com respeito à fauna e à flora, como pode ganhar mais espaço no mercado internacional de produtos florestais. A avaliação é do presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana.
Ele anunciou que a região amazônica e o Nordeste brasileiro estão entre as prioridades da ApexBrasil para ampliar a exportação de produtos das duas regiões e atrair investimentos. “Estamos lançando o programa Exporta Mais Brasil, com um foco estabelecido também para a Amazônia e Nordeste”, disse Viana, em entrevista coletiva no Diálogos Amazônicos, no sábado (6).
Diálogos Amazônicos
A ApexBrasil organizou, no segundo dia dos Diálogos Amazônicos, em Belém (PA), o seminário “Promoção internacional da biosocioeconomia da região amazônica: oportunidades e cooperação”. O evento contou com a participação do governador do Pará, Hélder Barbalho, do presidente da Embratur, Marcelo Freixo, e do secretário de Economia Verde, Rodrigo Rollemberg, além de outras autoridades federais.
O evento tratou de discutir modelos e estratégias para a exploração da bioeconomia como eixo central de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Os debates giraram em torno de modelos de preservação da floresta, geração de empregos e garantia de qualidade de vida para as 30 milhões de pessoas que vivem na região.
“Vivemos numa faixa verde do planeta, rica e cheia de produtos extraordinários. Temos muito potencial e precisamos usar a região amazônica como um ativo para recolocar o país em outro patamar”, disse Viana. “Temos que trabalhar fortemente com produtos compatíveis com a floresta. Não faz sentido o lugar mais rico do mundo exportar tão pouco; as regiões com maior potencial de crescimento nas exportações são o Norte e Nordeste. A ApexBrasil vai trabalhar com este foco”, anunciou.
Rastreabilidade e Selo Verde
Viana elogiou a liderança do governo do Pará para os novos tempos que o Brasil vive no cenário internacional. O principal modelo que vem sendo adotado no Pará para garantir que haja atratividade para os produtos oriundos da floresta é o investimento em rastreabilidade. O programa é modelo e vai inaugurar uma nova fase para os produtos do Brasil no mercado europeu.
“A rastreabilidade é uma exigência do mercado internacional. Nós temos vocações que estão atreladas ao uso da terra, e existe uma tendência internacional de se conhecer toda a cadeia de produção de um item produzido. O foco na rastreabilidade é um instrumento para tornar o produto mais competitivo. O governo do Estado é o primeiro do Brasil a ter uma plataforma pública, chamada Selo Verde, que oferta para a indústria da carne e pecuária, para que sejam certificadas”, destacou Barbalho.
Há também condições de ampliar a participação do Brasil no mercado internacional de produtos compatíveis com a floresta — com itens como pimenta do reino, castanhas, café, cacau, artesanato e dendê, dentre muitos outros. Atualmente, o fluxo comercial neste segmento do mercado movimenta em todo o mundo US$ 150 bilhões por ano. Mas a participação do Brasil em 2022 foi de apenas R$ 300 milhões. Isso representa 2%.
“Estamos trabalhando juntos para ter política de crédito e ação para multiplicar exponencialmente essa participação”, destaca Viana. Segundo Jorge Viana, dos US$ 28 bilhões em exportações da Amazônia em 2022, US$ 21 bilhões foram do Pará, por conta de minérios e derivados. “Podemos diversificar, agregar outros componentes na pauta de exportações, porque ainda há muito o que fazer e mostrar o papel dos produtores da região”, sugeriu.
Viana afirmou que o Pará abre um leque de oportunidades com o protagonismo no debate ambiental e que a ApexBrasil vai apoiar para que haja uma grande transformação na agenda econômica das regiões Norte e Nordeste, possibilitando que empresas locais ganhem mercado internacional.
O presidente da Embratur, Marcelo Freixo, que também participou do debate sobre os novos rumos da sociobioeconomia apontou o turismo como ativo importante do país. “O turismo é uma possibilidade, uma solução possível nesse projeto de bioeconomia. Uma das poucas e melhores possibilidades de compatibilizar desenvolvimento com conservação. A gente pode conservar floresta, memória e história, dos povos e da floresta, ao mesmo tempo que isso representa geração de emprego e renda”, aponta.
“Não é possível olhar para essa região e pensar que a preservação da floresta é incompatível com a preservação da memória, da cultura e da tradição de todos os povos que fizeram com que a floresta pudesse chegar até agora, minimamente protegida”, disse Marcelo Freixo.
Secretário de Economia Verde do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Rodrigo Rollemberg, revelou que a pasta está trabalhando no lançamento do “Selo Amazônia”. A ideia é informar ao mundo que produtos como a castanha, o guaraná e o cacau amazônicos, ao serem adquiridos pelos consumidores, certificam um processo produtivo que garante qualidade de vida às populações da floresta, ajudando a preservá-la.
Nesta semana, Belém sedia, entre 8 e 9 de agosto, a reunião de Cúpula da Amazônia, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros chefes de Estado de países que integram da região amazônica. A capital do Pará vai sediar em 2025 a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30), em novembro.
(*) Com informações da ApexBrasil