Da Redação
Brasília – O presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, fez duras críticas ao “tarifaço” decretado unilateralmente pelo presidente Donald Trump, que classificou como medidas tomadas “por um impulso irresponsável, porque atingiu a todos os países e sem que fosse apresentada uma justificativa técnica para isso. Foi uma péssima decisão”.
Ao mesmo tempo, o executivo da AEB também criticou declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que afirmou em diversas oportunidades estar disposto a impor retaliações às medidas restritivas lançadas pelo presidente dos EUA.
Em entrevista ao Comexdobrasil.com, José Augusto de Castro disse que “o tarifaço gerou pânico e desordem no comércio internacional, sem que trouxesse benefício para ninguém, nem para o próprio presidente americano, que já está sendo penalizado com a perda de aprovação de seu governo, conforme mostram pesquisas de opinião realizadas nos EUA”.
“As medidas foram adotadas sem que houvesse um plano nem qualquer estudo técnico que justificasse essa decisão. Trata-se de uma medida anti-comércio mundial porque o mundo inteiro fica paralisado, sem ter como tomar uma decisão que tenha embasamento técnico. Mais uma vez, o presidente Trump errou e mais uma vez trouxe ao mundo uma balela, como se ele tivesse um plano, do qual o mundo nunca teve conhecimento”, disse Castro.
Prudência no contraponto a Lula
Em sua análise da atual conjuntura do comércio internacional, o presidente da AEB também recomendou mais “prudência” e menos “bravatas” ao presidente Lula da Silva que, segundo ele, “quer mostrar uma força que não tem” e prestando declarações que “não levarão a nada. Temos que conversar e acompanhar a evolução dos acontecimentos”.
E cita o exemplo dado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, que adotou uma postura mais cautelosa ao dizer que nestes momentos cabe ao Brasil “negociar, negociar, negociar. As posições são antagônicas e deixam claro que não são palavras que vão solucionar o problema”.
José Augusto de Castro afirmou ainda que “nestes momentos de incertezas é a vez de os diplomatas tomarem as decisões, porque eles são, de maneira geral, sensatos, falam uma linguagem de paz e não uma linguagem de retaliação que nestes momentos não resolvem nada. Partir para o confronto, seria colocar um país economicamente fraco, no caso o Brasil, contra um país, os Estados Unidos, que têm o poder. Os EUA estão brigando com a China e se eles quiserem brigar com o Brasil, as nossas chances são muito pequenas, para não dizer nulas. Nestes momentos, o diálogo é tudo. Sem o diálogo não chegaremos a lugar nenhum”.
Nessa mesma linha de raciocínio, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban defendeu, em artigo publicado pelo jornal O Globo, “diálogo e estratégia contra a política comercial de Trump”.
Alban destacou que “a parceria econômica entre Brasil e EUA é estratégica, com fluxos robustos de comércio e investimentos. Os EUA são o principal destino das exportações da indústria de transformação brasileira e lideram como origem e destino de investimentos bilaterais”.
Diante desse cenário, a CNI tem procurado atuar com estratégia. Do ponto de vista técnico, a Confederação iniciou o monitoramento das tarifas e desenvolveu ferramentas para avaliar impactos sobre exportações e importações. O Brasil deve manter disciplina, visão estratégica e uma atuação institucional eficaz
Tatiana Prazeres destaca importância do diálogo técnico e politico
Seguindo a estratégia traçada pelo vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, participou na sexta-feira (9) da plenária anual do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, realizada em Washington.
Prazeres participou do painel “Uma Nova Era de Comércio e Integração Econômico” e em sua fala reforçou que o governo brasileiro tem mantido diálogo técnico e político continuo com as autoridades americanas, ressaltando elementos centrais da relação bilateral, como o baixo nível tarifário médio aplicado pelo Brasil (2,73%) e o superávit comercial mantido pelos EUA nesse intercâmbio.
Tatiana Prazeres disse ainda que “os EUA são um dos principais destinos das exportações brasileiras de produtos industrializados. O Brasil valoriza essa relação mutuamente benéfica e trabalha para aprofundar ainda mais os laços comerciais e industriais entre os dois países”, concluiu.