Após alta de fevereiro, exportações de calçados fecham o mês de março com queda de 4,3%

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Novo Hamburgo – Depois de um mês de fevereiro de leve recuperação, as exportações de calçados voltaram a cair em março, quando foram exportados 10,2 milhões de pares que geraram US$ 79,2 milhões. Os números apontam para quedas de 4,3%, em receita, no comparativo com igual mês do ano passado e de 22,7% com relação a fevereiro. 

No acumulado do primeiro trimestre, as exportações de calçados continuam com resultados negativos no comparativo com igual período do ano passado. Nos três meses foram embarcados 33,45 milhões de pares que geraram US$ 274,6 milhões, resultado 2,3% inferior ao auferido no primeiro trimestre de 2013. Em pares, porém, foi registrada uma alta de 8,1%, explicada pela queda de2,3% 9,7% no preço médio pago pelo produto brasileiro, agora em US$ 7,59.

Se as exportações seguem caindo, a tendência oposta é verificada nas importações. No mês três entrou no Brasil o equivalente a US$ 50,2 milhões, somando US$ 171 milhões no trimestre. No comparativo com o mesmo trimestre do ano passado o aumento é de 16,3%. O resultado é uma queda na balança comercial de calçados de 22,7%.

Os dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e elaborados pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), preocupam o setor calçadista. “Dadas às condições atuais de perda de competitividade do calçado brasileiro e de uma verdadeira avalanche das importações, especialmente as predatórias, existe uma tendência forte de zerar a balança comercial até o final do ano”, avalia o presidente-executivo da entidade calçadista, Heitor Klein.

Angola já é o terceiro principal destino

Crises macroeconômicas e turbulências políticas seguem atrapalhando o desempenho do calçado nacional em mercados mais tradicionais, como Estados Unidos, França e Argentina. No primeiro trimestre, as exportações para os Estados Unidos caíram 1,5% com relação a igual período do ano passado (de US$ 44,54 milhões para US$ 43,86 milhões). Já as vendas para a França caíram 4,2% (de US$ 20 milhões para US$ 19,2 milhões) e para a Argentina 43% (de US$ 24,75 milhões para US$ 14,13 milhões). Angola desbancou a Argentina e agora é o terceiro principal destino do produto nacional. No primeiro trimestre os angolanos compraram o equivalente a US$ 16,22 milhões em calçados brasileiros, um incremento de 55% ante o mesmo período de 2013.

Estados

Apesar de registrar uma queda de 6,1% nas receitas geradas com as exportações de calçados, o Rio Grande do Sul segue no topo da lista entre os exportadores. No primeiro trimestre, os gaúchos embarcaram 4,32 milhões de pares que geraram US$ 98,18 milhões.

O Ceará, principal estado exportador em volume de calçados, aparece no segundo posto quanto ao faturamento proveniente das vendas externas. Nos três meses deste ano os cearenses embarcaram 16 milhões de pares pelos quais receberam US$ 79,43 milhões, valor praticamente igual ao registrado no ano passado.

São Paulo é o único estado a registrar desempenho positivo na parte de cima do ranking. Entre janeiro e março, os paulistas embarcaram 3,3 milhões de pares pelos quais receberam US$ 37,5 milhões, 23,7% mais do que o registrado em 2013.

Klein ressalta que os números são resultados de uma perda gradual da competitividade do calçado brasileiro além-fronteiras. Segundo o executivo, o Custo Brasil, as crises nos principais mercados para o produto brasileiro e o fim de incentivos importantes, como o caso do Reintegra, têm prejudicado o setor calçadista.

Klein explica que, no final do ano passado, o Governo Federal alegou que as exportações deveriam voltar aos patamares anteriores com a valorização do dólar. Com este argumento, tirou dos exportadores o benefício do Reintegra, programa que devolvia 3% do valor total dos embarques como forma de restituição dos custos tributários residuais existentes nas cadeias de produção.

 “Alertamos que seria um prejuízo grande e que não estavam, nem de longe, reestabelecidas as condições de competitividade. Mesmo assim, o Governo não renovou o programa e o resultado está nos dados apresentados”, lamenta o executivo.

A perda acelerada de um mercado relevante como o argentino, historicamente o segundo maior comprador do calçado brasileiro, também é levantada pelo executivo como um fator importante para a queda dos embarques. “Inadmissível que a Argentina continue barrando nossos produtos ao passo que libera os asiáticos. É uma afronta no âmbito do Mercosul”, reclama Klein, em referência às exigências das Declarações Juramentadas Antecipadas de Importações (DJAIs) que seguem gerando prejuízos para os calçadistas brasileiros. “Isso sem contar os que desistiram daquele mercado devido à imprevisibilidade”, afirma.

Importações de esportivos assustam

Os importadores de calçados esportivos, a maioria proveniente da Ásia, seguem aproveitando o momento da Copa do Mundo para invadir as vitrines nacionais. Nos três primeiros meses, as importações destes produtos aumentaram muito mais do que as compras totais de calçados do exterior. Entre janeiro e março, entraram no Brasil o equivalente a US$ 85,16 milhões em produtos esportivos, 50% mais do que o registrado no mesmo período de 2013. Segundo Klein, muitas destas importações, que chegam com carimbo de países como Vietnã, Indonésia e até Paraguai, são, na realidade, provenientes da China. “

Existe um processo muito claro de elisão fiscal por parte destes importadores. Os calçados em questão são, muitas vezes, apenas montados em outros países, isso quando não chegam desmontados para mera colagem no Brasil. Os processos de triangulação e circunvenção das importações foram os métodos encontrados para burlar o direito antidumping contra a China, instalado desde 2010”, alerta o executivo, ressaltando que o mesmo produto continua entrando no Brasil por vias diferentes.

Conforme os dados do MDIC, atualmente, mais de 80% das importações brasileiras são provenientes do Vietnã e Indonésia, que tomaram o lugar da China tão logo a adoção da tarifa externa contra aquele país.

Fonte: Abicalçados

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